Comissão constata ociosidade em shoppings
populares
O presidente da Comissão do Trabalho, Previdência e
Ação Social da Assembléia, deputado Alencar da Silveira Jr (PDT),
visitou dois shoppings populares na tarde desta quinta-feira
(29/9/05), em companhia da assessoria da Assembléia e do presidente
da Associação dos Empreendedores Populares, Djalma Pereira. A visita
constatou que os andares superiores dos shoppings Tupinambás e
Caetés estão praticamente desertos e centenas de camelôs instalados
em boxes ali estão fechando as portas e ameaçando voltar às ruas,
por não faturarem o suficiente para pagar os aluguéis e taxas de
condomínio.
"A Comissão foi chamada aqui para verificar as
condições de trabalho dos camelôs, e comprovamos que muitos deles
estão inadimplentes há vários meses e ameaçados de despejo. Isso
aqui é uma mina de dinheiro para quem aluga, mas os pontos de venda
não dão retorno aos camelôs", disse o deputado, após visitar o
Shopping Tupinambás.
O segundo andar desse shopping está em obras de
implantação de um Call-Center da Telemar, que começaram em 10 de
agosto e estão previstas para serem concluídas em 2 de novembro. O
barulho e a poeira da obra afugentam os poucos fregueses que se
animam a subir as escadas, e quase 300 boxes estão fechados. Aracy
dos Santos, 65 anos, teima em manter aberto seu ponto de venda de
toalhas bordadas e peças de crochê. Ela exibiu quatro boletas de
aluguel em atraso ao deputado e mostrou a poeira que se acumulou
sobre os tecidos. "Este mês não vendi nenhuma peça. Estou vivendo do
dinheiro que meu filho manda de São Paulo", informou.
O administrador do Shopping Tupinambás, Mário
Valadares Rezende Costa, admitiu que o segundo andar sempre foi
fraco para as vendas, e informou que os aluguéis vão de R$ 150 a R$
350 e o condomínio custa R$ 81, mas que menos de 600 dos 800 boxes
estão funcionando. Rezende Costa disse acreditar que o Call Center
da Telemar pode ser um bom atrativo para os fregueses, como a
Farmácia Popular que a Prefeitura ainda não inaugurou. Numa reunião
fechada com o deputado Alencar da Silveira Jr., Rezende Costa
aceitou perdoar as dívidas do pessoal do segundo andar, e assegurou
que não pretende despejar ninguém.
Agressão e desrespeito no Shopping Caetés
A situação do Shopping Caetés é pior, e o clima
esteve tenso entre a segurança e os camelôs revoltados, que se
manifestavam aos gritos diante dos visitantes. Um dos coordenadores
de segurança tentou expulsar a comitiva da Assembléia, faltou ao
respeito com o deputado Alencar da Silveira e chegou a chamar a PM.
Três praças comandados por um tenente acudiram ao local, mas se
limitaram a observar a visita. Tiveram que intervir, porém, quando
uma moça da segurança tentou agredir Fátima Maria Vitória, que tem
um box de roupas e integra o Conselho Gestor do shopping.
"É assim que eles nos tratam: com pancadas e
ofensas", desabafou Fátima Vitória, dizendo que vendeu apenas três
peças de roupa durante o mês, e que muitos dos primeiros camelôs
estão passando fome e vendendo os boxes. A comercialização dos
pontos de venda é proibida pela legislação, mas amplamente praticada
nos shoppings, a julgar pelos avisos afixados nos boxes fechados e
arrancados ostensivamente quando observados pelo deputado e filmados
pela TV Assembléia.
Segundo Djalma Pereira, um bom ponto de venda no
Shopping Tupinambás foi vendido recentemente por R$ 20 mil, e os
boxes do Shopping Oiapoque, o mais bem-sucedido dos quatro, já
estariam todos nas mãos de empresários - alguns deles chineses que
jamais trabalharam nas ruas de Belo Horizonte - que os adquiriram
dos camelôs originais. A maior vantagem que os comerciantes
tradicionais vêem em se instalar ali é a isenção de impostos.
O administrador do Shopping Caetés, Pedro Paulo
Oliveira, compareceu para falar com o deputado e com os jornalistas,
mas os acusou de estar tentando prejudicar o empreendimento com
publicidade negativa. Revelou que são 155 boxes, mas admitiu que
apenas 70 estão abertos: "Esses camelôs são preguiçosos. Não abrem
no horário combinado e reclamam da falta de fregueses. Eu os
aconselho todo dia a abrir as lojas e expor as mercadorias. Nós
vamos cuidar da mídia para atrair fregueses, e vamos instalar aqui
restaurante popular, cinema e um posto do PSIU", informou.
O deputado Alencar da Silveira cancelou a visita
que faria aos shoppings Xavante e Oiapoque, após ser informado de
que naquelas instalações não havia graves problemas trabalhistas,
nem de sobrevivência dos camelôs. Anunciou à imprensa que vai entrar
com requerimento de audiência pública na Comissão do Trabalho,
pedindo a presença de representantes da Prefeitura de Belo
Horizonte, do Ministério Público, dos administradores e dos camelôs.
O deputado espera intermediar uma solução que evite a evasão dos
empreendedores populares.
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