Produtor quer regra clara para usina de biodiesel no Jequitinhonha

Muitas inquietações e questionamentos marcaram a audiência pública das comissões de Participação Popular e de Educaçã...

26/09/2005 - 00:00
 

Produtor quer regra clara para usina de biodiesel no Jequitinhonha

Muitas inquietações e questionamentos marcaram a audiência pública das comissões de Participação Popular e de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia Legislativa realizada nesta segunda-feira (26/9/05) em Araçuaí, para debater a implantação de uma usina de biodiesel no Vale do Jequitinhonha. Os agricultores e lideranças regionais cobraram regras claras para a participação dos agricultores familiares no processo de plantio e venda de oleaginosas para a Petrobras e perguntaram sobre os critérios que estão sendo adotados para a escolha do município que receberá a usina. A audiência foi pedida pelo deputado André Quintão (PT), que abriu a reunião destacando a importância do programa federal do biodiesel para a geração de emprego e renda. "Esse encontro é fundamental para que a população possa receber informações sobre o andamento dos estudos para implantação da usina", explicou.

O técnico da gerência de Energias Renováveis da Petrobras, Luiz Carlos dos Anjos Freitas, confirmou as informações de que três usinas de biodiesel, com capacidade de produção de 40 mil litros por ano, serão implantadas pela Petrobras no semi-árido brasileiro - uma em Minas Gerais, outra no Ceará e uma terceira na Bahia. A intenção, segundo ele, é atingir 2% da frota nacional e atender a distribuidora BR, que abastece 30% do mercado do diesel. O técnico afirmou ainda que, em 30 ou 40 dias, deverá ser anunciado o local exato da implantação da usina em Minas. "Essas três usinas são um passo inicial. Nosso projeto é não parar por aí", afirmou.

Outras seis usinas de biodiesel já estão em fase de implantação em território mineiro, conforme afirmou a superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Ângela Menin Teixeira de Souza. Ela informou que o governo de Minas assinou um protocolo com a Petrobras para fornecer informações técnicas para estudos de viabilidade para implantação das usinas no Estado. Segundo Ângela Souza, o governo estadual está afinado com o projeto do biodiesel. "O programa do governo federal, embora tenha o mérito de estimular a utilização de uma fonte renovável de energia, tem como objetivo prioritário a inclusão social", destacou. De acordo com a superintendente, a plataforma da Petrobras será multi-óleos, o que permitirá que cada região possa produzir a planta oleaginosa que mais se adapte às suas condições.

Deputados defendem organização dos produtores

Para o deputado Jésus Lima (PT), é preciso definir qual o apoio que os governos darão aos pequenos produtores para que eles entrem na disputa pelo mercado de matéria-prima para as usinas de biodiesel em condições de igualdade com os grandes produtores. Ele informou que esteve com o governador Aécio Neves, que teria se mostrado favorável à isenção total do ICMS sobre o biodiesel. "Essa medida não resolve todo o problema, porque a isenção será concedida para os pequenos e grandes produtores. Os agricultores familiares precisam de outros incentivos também", defendeu o deputado, que acredita que a organização dos produtores em cooperativas e associações pode ser uma boa alternativa.

O deputado Carlos Gomes (PT) reforçou o alcance social da política do biodiesel incentivada pelo presidente Lula quando, por meio da Lei 11.097, de 2005, determinou a adição de 2% do biodiesel ao diesel em três anos, passando para 5% em oito anos. Já o deputado Padre João (PT) disse ser um defensor antigo da diversidade da matriz energética brasileira, mas recomendou cuidado ao lembrar o Pró-Álcool. "Temos um exemplo histórico de erros e acertos e precisamos nos mirar nele para não deixarmos que os agricultores sejam prejudicados mais uma vez", comparou. Padre João ponderou ainda que o programa do biodiesel precisa ser uma alternativa para o produtor familiar, mas não pode ser a única.

O chefe da Epamig no Norte de Minas, Marco Antônio Leite, também considera que o programa não pode ser visto como a "salvação da lavoura", porque historicamente, sabe-se que o ônus sempre fica para o produtor rural. Segundo ele, a Epamig tem desenvolvido pesquisas sobre as oleaginosas que apontam para o potencial da região de Araçuaí para a produção do pinhão manso. O representante da Emater do município, Henrique Queiroz Borges, disse que ainda não tem segurança para incentivar o agricultor a entrar no programa porque faltam informações e garantias. Segundo ele, existe também a preocupação com a escolha da oleaginosa que poderia ser cultivada na região. "A mamona produz rápido, mas não podemos garantir que ela seja a melhor opção", afirmou.

Lucro - O técnico da Petrobras Luiz Carlos Freitas disse que a empresa adota critérios técnicos para a escolha do local onde deverá se instalar a usina, mas visa também o lucro. Ele incentivou os produtores a se organizarem em associações e a se mobilizarem pela adoção do preço mínimo, que deveria ser estipulado pelo governo - e não pelo mercado. Segundo Freitas, se for adotado o segundo critério, os pequenos produtores tendem a sair perdendo. "A rota do lucro pensada pela Petrobras contempla todas as pessoas envolvidas na cadeia produtiva", acrescentou.

Ao final da reunião, o deputado André Quintão reafirmou que o presidente Lula imprimiu um caráter social bem nítido ao programa do biodiesel. O deputado sugeriu que a Petrobras e o governo criassem, então, meios institucionais para garantir a participação e o acompanhamento, pela sociedade civil, da implantação da usina.

Presenças - Deputados André Quintão (PT), que presidiu a reunião; Jésus Lima (PT), Carlos Gomes (PT) e Padre João (PT). Também estiveram presentes o prefeito de Araçuaí, José Antônio Santana; e a ex-prefeita Maria do Carmo Ferreira da Silva.

 

 

 

 

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