Desenvolvimento de consciência ambiental melhora situação dos lixões

O lançamento de lixo a céu aberto na periferia das cidades, os chamados "lixões", com todos os problemas de saúde púb...

23/09/2005 - 00:02
 

Desenvolvimento de consciência ambiental melhora situação dos lixões

O lançamento de lixo a céu aberto na periferia das cidades, os chamados "lixões", com todos os problemas de saúde pública, sócio-econômicos e ambientais que decorrem dessa prática, ocorre em 92 dos 137 municípios da Zona da Mata mineira. Têm aterros controlados 31 municípios. São 17 os que têm usinas de compostagem e apenas três - Juiz de Fora, Lima Duarte e Visconde do Rio Branco - mantêm aterros sanitários.

Há apenas quatro anos, antes que a consciência ambiental chegasse à esfera administrativa da maioria dos municípios, a situação era muito pior, mas ainda é preocupante que 67% dos municípios da região não tenham tratamento para o lixo. Essas informações foram divulgadas na segunda reunião preparatória para o Seminário Legislativo "Lixo e Cidadania - Políticas públicas para uma sociedade sustentável", realizada nesta sexta-feira (23/9/05) em Juiz de Fora.

O prefeito de Juiz de Fora, Alberto Bejani, disse que a população de sua cidade é atendida com 96% de coleta de lixo e 98% da água tratada, mas que precisou gastar R$ 1,8 milhão este ano para recuperar o aterro sanitário, de onde o chorume escorria para o rio do Peixe por causa das fortes chuvas de janeiro. "Dois tanques armazenam o chorume para ser levado à Estação de Tratamento de Esgotos, evitando que chegue ao rio Paraibuna", disse o prefeito.

Bejani revelou que tem inúmeros ex-presidiários trabalhando na coleta de lixo e 50 detentos de Linhares trabalhando na limpeza pública. No entanto, reclamou que os caminhões do Demlurb levem quatro lixeiros que têm estabilidade e ajudam a onerar a folha de pagamento num serviço que seria mais barato se fosse terceirizado. "Hoje temos que manter 14.312 funcionários, e uma folha de pagamento de R$ 18 milhões", queixou-se o prefeito.

População precisa ser educada para contribuir na coleta seletiva

Já o deputado Sebastião Helvécio (PDT) considerou exemplar a qualidade do serviço prestado pelo Demlurb, e criticou a terceirização quando a coleta e tratamento do lixo começam a ser vistos como atividade lucrativa. Helvécio elogiou também a cidade de Coimbra, que serviria de exemplo para as cidades pequenas tratarem seu lixo, e disse que é preciso traçar uma política estadual de tratamento de resíduos sólidos, que eduque as diversas classes sociais para contribuir na coleta seletiva.

O deputado Biel Rocha (PT) apontou várias vantagens para a coleta seletiva, com ênfase para a inclusão social dos catadores de material reciclável. "Além de gerar empregos e dignidade para os recicladores, a coleta contribui para a melhoria da saúde pública e para a vida útil dos aterros", disse o deputado, raciocinando que, se cada cidadão produz hoje um quilo de lixo por dia, com a reciclagem apenas a metade é descartada como lixo. Santelmo Xavier Filho, da Associação Comercial de Minas Gerais, acrescentou que, com a reciclagem, ocorre também grande economia de matérias-primas e de energia. "A reciclagem do alumínio representa poupança de 96% de energia", exemplificou.

Com base em sua experiência recente na presidência da Ceasa-MG, o deputado Edson Rezende (PT) discorreu sobre o aproveitamento do lixo orgânico, especialmente hortigranjeiros que, depois de se tornarem impróprios para consumo humano, podem servir para alimentação animal e depois para incorporar nutrientes à terra. Rezende também alertou para as escolhas malfeitas de locais para disposição do lixo, que podem contaminar os lençóis freáticos.

O deputado George Hilton (PFL), que presidiu a abertura do evento, advertiu que, "se não frearmos o processo de consumo e de produção de lixo, estaremos comprometendo o equilíbrio ambiental das próximas gerações". O deputado calcula que sejam desperdiçados anualmente no Brasil R$ 10 bilhões e milhares de empregos com o descarte de material reciclável.

46 mil crianças que viviam no lixo hoje recebem bolsas

Dois especialistas fizeram palestras no evento: Santelmo Xavier Filho, da ACMinas, deu exemplos de vários materiais que levam de 50 a 450 anos para se decomporem no solo, e previu que é preciso começar a mudar o paradigma do consumo exagerado para um modelo mais prudente, com vistas à sustentabilidade no futuro. "Precisamos de mais esporte e menor consumo de material esportivo", ilustrou.

Leonardo Fittipaldi, do Fórum Estadual Lixo e Cidadania, concentrou-se nos aspectos humanos da reciclagem do lixo, exibindo slides com cenas deprimentes de crianças trabalhando nos lixões e famílias morando em cabanas de plástico em péssimas condições de insalubridade. "Nosso compromisso é erradicar o trabalho infantil, e para tanto já temos 46 mil crianças recebendo bolsas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Também é nosso objetivo eleger os catadores como parceiros para a coleta seletiva e recuperar áreas degradadas", afirmou.

A etapa de Juiz de Fora contou com uma centena de participantes que acudiram de 12 cidades, além da sede regional: Araponga, Senador Cortes, Itamarati de Minas, Santana do Deserto, Santa Rita do Jacutinga, Laranjal, Carandaí, Coronel Pacheco, Cipotânea, Alfenas, Rosário da Limeira e Muriaé.

Após a abertura e as palestras, os participantes foram divididos em três grupos de trabalho. O grupo 1, sob a coordenação de Leonardo Fittipaldi, discutiu os temas "Lixo, Economia e Inclusão Social", e "Lixo, Educação Ambiental e Cultura". O grupo 2, coordenado pelos consultores Pedro Garcia e Pedro Chagas, tratou de "Política de Recursos Humanos para Limpeza Urbana" e "Legislação, Recursos Financeiros e Mecanismos de Financiamento". O grupo 3, coordenado por Santelmo Xavier Filho, ficou com os temas "Lixo, Saúde e Meio Ambiente" e "Lixo, Tecnologia e Destinação".

Entre as propostas discutidas pelos grupos que serão trazidas para o seminário em Belo Horizonte, estão a criação de programas de treinamento para os catadores, campanhas educativas para incentivar a separação doméstica do lixo e parcerias entre governo e iniciativa privada para a instalação de incineradores de resíduos industriais e hospitalares em pontos estratégicos do Estado. Os delegados eleitos para representar a região na última etapa do seminário são: Maria Beatriz Fernandes, Edmilson Francisco Sales, Alécio de Vasconcelos, Elizabete Laureano Miranda, Gisele Pereira Teixeira e Fabiano Diogo Ferreira.

Presenças - Deputados George Hilton (PFL); Biel Rocha (PT), Sebastião Helvécio (PDT), Edson Rezende (PT); Alberto Bejani, prefeito de Juiz de Fora; e Moacir Tostes, prefeito de Carandaí

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715