Assentamento de famílias em áreas de usinas é debatido em comissão

A Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial se reuniu, nesta quinta-feira (15/9/05), para discutir os planos...

15/09/2005 - 00:00
 

Assentamento de famílias em áreas de usinas é debatido em comissão

A Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial se reuniu, nesta quinta-feira (15/9/05), para discutir os planos de reativações econômicas que devem ser adotados pelos consórcios responsáveis pela construção de usinas hidrelétricas no Estado. O deputado Padre João (PT), autor do requerimento que solicitou a reunião e presidente da comissão, quer saber o porquê da agilidade no processo de construção do empreendimento e da demora no processo de assentamento. Representantes do Ministério Público, da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) participaram dos debates.

De acordo com o deputado Padre João, o governo federal e estadual têm apoiado estes empreendimentos concedendo aos consórcios isenção de ICMS para compra de equipamentos que são utilizados na construção das usinas. "Que modelo de desenvolvimento é esse que facilita para alguns e dificulta para outros?", questionou o deputado.

Para o integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens em Minas Gerais, Padre Antônio Claret, o licenciamento já começa errado, pois é feito pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em Brasília, por pessoas que não conhecem o local onde será construída a usina, e nem a realidade das famílias desapropriadas. Outro problema apontado é que a própria empresa escolhe o trecho onde será construída a barragem. Ele propôs a criação de uma CPI, pela Assembléia, para diagnosticar e mapear a situação no Estado.

Já o deputado Marlos Fernandes (PPS), vice-presidente da comissão, afirmou que a construção de barragens é fonte geradora não só de energia, mas de desenvolvimento, emprego e renda. Na sua opinião, o empreendedor deve ser responsável por todo o processo e por reduzir os impactos para a população. "Defendemos a fonte geradora de energia. Não comungo com os empreendimentos mal sucedidos", completou o deputado.

Pesquisadora denuncia problemas no licenciamento

A coordenadora do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta), da UFMG, Andréa Zhouri, denunciou que o Governo do Estado vem fazendo parcerias com entidades que se intitulam ongs, mas que estão a serviço de empresas privadas. Citou dois problemas relativos ao licenciamento, como a "oligarquização do campus ambiental". Segundo Andréa Zhouri, poucas pessoas vem se revezando, durante décadas, na ocupação de cargos dentro do Governo, como por exemplo, no Copam e na Feam assumindo, inclusive, a presidência dos consórcios responsáveis pela construção de barragens. Outro problema apontado por ela é o "paradigma de adequação ambiental", que consiste na valorização do empreendimento, tentando adequar a sociedade e o meio ambiente ao investimento, e não o contrário, como deveria ser. Ela destacou ainda que o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) e o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), na maioria das vezes é aprovado por empresa contratada pelo próprio empreendedor.

Para o analista ambiental do Núcleo de Pequenas Centrais Hidrelétricas da Feam, Mário Augusto Cintra Ramos, o processo de licenciamento dessas empresas deve ser revisto. "A licença prévia deve conter o maior número de informações sobre o perfil das famílias que moram no local e sobre a área que será atingida", afirmou. De acordo com ele, a implantação das usinas é feita em locais onde já existem outros tipos de problemas ambientais e somente a organização da sociedade, participando de todo o processo de licenciamento, poderá amenizar a situação. Mário Ramos destacou a importância do trabalho do Ministério Público, principalmente nos locais em que a população é pobre e não tem condições de contratar um advogado para questionar qualquer licença considerada ilegal.

O diretor-técnico da Emater, Roberval Juarez de Andrade, afirmou que a empresa tem dado assistência no assentamento das famílias, através da tecnologia de produção e da organização familiar, garantindo que as pessoas se restabeleçam nas áreas para sobrevier. Já a assessora jurídica do Ministério Público Federal de Minas Gerais, Márcia Guerra Capanema, denunciou que a obtenção da licença de instalação e operação de usinas, sem observar o cumprimento das condicionantes (pendências que devem ser atendidas na próxima etapa de licenciamento), configura crime. Ela afirmou também que os estudos de impacto ambiental no Estado são de péssima qualidade e comprometem o assentamento das famílias.

O deputado Laudelino Augusto disse que é a favor do assentamento das famílias antes de liberada a licença prévia, que autoriza o início das obras. Disse também que é preciso apurar os nomes das pessoas envolvidas no processo.

Presenças - Deputados Padre João (PT), presidente; Marlos Fernandes (PPS), vice-presidente; e Laudelino Augusto (PT).

 

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