Comissão debate soluções para segurança e superlotação
carcerária
Com o objetivo de conhecer a real situação
prisional do Estado e receber sugestões para melhorar o quadro
atual, a Comissão de Segurança Pública da Assembléia ouviu, nesta
quinta-feira (15/9/05), a cúpula da segurança no Estado, além de um
membro do Poder Judiciário. Vários dos deputados fizeram
questionamentos com relação à superlotação carcerária,
principalmente em quatro delegacias de Belo Horizonte. Para
responder às perguntas e apresentar a política em curso para o
setor, estiveram na reunião o secretário de Estado de Planejamento e
Gestão e de Defesa Social (Sedes), Antônio Anastasia, e seu adjunto;
além dos chefes das polícias do Estado, Corpo de Bombeiros e
Subsecretaria de Administração Penitenciária (Suape).
Inicialmente, Anastasia trouxe números sobre a
política de segurança pública do Estado, que funcionariam, segundo
ele, como uma primeira prestação de contas de sua gestão na Sedes.
De acordo com o secretário, os recursos para a segurança
quintuplicaram, passando de R$ 30 milhões em 2003 para R$ 172
milhões, valor previsto para 2005. Enquanto isso, os investimentos
federais no setor vêm caindo consideravelmente, disse Anastasia, com
a aplicação de R$ 30 milhões em 2003, R$ 17 milhões em 2004, e
nenhum recurso neste ano.
Dobro de vagas -
Especificamente sobre o setor prisional, o secretário afirmou que o
Estado tem promovido diversas ações com vistas à modernização do
setor: reforma e profissionalização do sistema prisional, redução do
déficit de vagas, racionalização na gestão das unidades,
transferência gradativa dos presos sob a tutela da Polícia Civil
para a Suape. Com essas e outras medidas, o governo pretende
atingir, até o final de 2006, 12.093 vagas no sistema penitenciário,
o que representa um incremento de 140% em relação a 2003, quando
existiam 5.042 vagas. Anastasia divulgou que outra meta do Estado é
contar com 3.197 agentes penitenciários até 2006.
Superlotação de delegacias em BH preocupa
deputados
Depois de reconhecer as melhorias na segurança
pública implementadas pelo governo, o presidente da comissão,
deputado Zé Maia (PSDB), questionou seus representantes quanto a
soluções para a superlotação em três delegacias de Belo Horizonte -
Furtos e Roubos, Tóxicos e Entorpecentes e Venda Nova. O parlamentar
perguntou, ainda, se não seria possível colocar dois presos em cada
cela das penitenciárias, em vez de um, como vem acontecendo. O
subsecretário de Administração Penitenciária, Agílio Monteiro Filho,
apontou como solução a construção, até dezembro deste ano, do novo
presídio de Ribeirão das Neves, com a abertura de 820 vagas. Além
disso, um nova unidade para 193 presos no Morro Alto ficará pronta
até o fim deste ano, divulgou Agílio Monteiro.
Sobre a possibilidade de as penitenciárias
abrigarem dois presos por cela, o subsecretário informou que nas
penitenciárias que ficarão prontas no interior o modelo será esse -
dois ou até quatro presos por cela. Ele fez uma ressalva apenas em
relação à Penitenciária Nelson Hungria, que hoje abriga 1.200 presos
e com essa política passaria a ter o dobro. Para o dirigente, a
mudança envolve um risco quanto à segurança, e também seria
dificultada devido aos projetos hidráulico, elétrico e
administrativo da unidade, voltada para atender não mais que a
capacidade atual.
Risco - O juiz da Vara de
Execuções Criminais de Belo Horizonte, Herbert José Carneiro,
reforçou a crítica à superlotação nas três unidades em Belo
Horizonte. Para ele, o risco dessas delegacias é tão grande quanto o
da Nelson Hungria, pois são unidades com mais de mil presos,
guardados por um efetivo insuficiente e situadas em regiões
populosas da cidade. Ainda sobre a penitenciária, o juiz ressaltou
que sua solicitação não é para dobrar o número de presos lá, mas
para transferir uma quantidade que permita às três delegacias ficar
com um quantitativo "administrável".
Deputado pede prazo para transferência de
presos
Também reconhecendo os esforços do governo no
setor, o deputado Sargento Rodrigues (PDT) insistiu nas críticas à
superlotação nas delegacias, acrescentando ainda a Delegacia de
Furtos de Veículos, que também estaria lotada. Ele pediu aos
representantes do governo que estabelecessem um prazo para a
transferência dos detentos dessas quatro unidades. Se não for
possível a transferência de todos os presos, pelo menos a dos
condenados, pediu. Rodrigues também solicitou ao secretário
Anastasia a agilização do remanejamento de viaturas substituídas na
Capital para municípios do interior, muitos sem uma viatura
sequer.
O deputado Antônio Júlio (PMDB) defendeu que fossem
discutidas alternativas ao sistema vigente. Ele advoga que o Poder
Judiciário e o Ministério Público (MP) devem ser convidados para
discutir penas alternativas e outras medidas para amenizar o grave
quadro do sistema prisional e da segurança pública como um todo. Os
deputados Marlos Fernandes (PPS), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e
Doutor Viana (PFL) reivindicaram maior atenção do Estado para as
regiões nas quais são majoritários, respectivamente: Triângulo
Mineiro, Sul de Minas e região Central.
Falta de recursos -
Respondendo sobre a superlotação nas quatro delegacias, o secretário
Anastasia reconheceu que não há como dar solução imediata para o
problema. "Não temos recursos suficientes para solucionar a questão.
Lamentavelmente, a mágica não faz parte da administração pública".
Ele agregou ao quadro de insegurança a informação de que há hoje 70
mil mandados de prisão sem serem cumpridos no Estado. "Se
cumpríssemos apenas 10% desse total - 7.000 mandados - onde iríamos
colocar esses detentos hoje? Não há como resolver da noite para o
dia o problema do sistema carcerário, que vem de décadas",
justificou.
Outra dificuldade foi apontada pelo chefe da
Polícia Civil, Otto Teixeira Filho, que declarou que a corporação
ainda não está presente em 19 comarcas, devido ao contingente
reduzido. O mesmo problema ocorreria na Polícia Militar, segundo o
seu comandante, coronel Sócrates Edgard dos Anjos, para quem a
corporação, hoje com 39 mil policiais, deveria ter 48 mil. Além
disso, apontou, o sistema prisional recebe o impacto direto do
aumento vertiginoso da criminalidade nos últimos anos.
Viaturas - Sobre as
viaturas, o secretário Anastasia disse que elas estão sendo
remanejadas gradualmente, à medida em que são recuperadas. Quanto às
penas alternativas, o secretário avaliou que isso "seria ótimo para
o Estado", mas que o MP tem posição cautelosa sobre o assunto. Uma
das medidas que o governo está implementando nesse sentido é a
estruturação da Defensoria Pública, declarou ele. Em relação às
demandas dos deputados do interior, Anastasia avaliou que a situação
da segurança pública nessas regiões era tranqüila até 1995, mas hoje
não é mais, porque governos passados não fizeram investimentos
suficientes.
Presenças - Deputados Zé
Maia (PSDB), Sargento Rodrigues (PDT), Antônio Júlio (PMDB), Weliton
Prado (PT), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Doutor Viana (PFL), Marlos
Fernandes (PPS), Dilzon Melo (PTB), Domingos Sávio (PSDB), Luiz
Humberto Carneiro (PSDB), e deputada Jô Moraes (PCdoB).
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