População de Patrocínio está assustada com a
violência
Mesmo com a recente reducão dos índices de
criminalidade, a população de Patrocínio está alarmada com a
violência na cidade. A questão, que preocupa autoridades, lideranças
comunitárias e empresariais, motivou a ida da Comissão de Direitos
Humanos da Assembléia Legislativa ao município do Alto Paranaíba
nesta quarta-feira (14/9/05). "Estamos reféns dos bandidos. Nossas
casas têm muros de quatro metros de altura e cerca elétrica",
protestou o vice-presidente do Conselho de Segurança Publica da
cidade, Elmiro Silva.
O estudante Caseio Remis, um dos coordenadores do
Movimento Patrocínio Mais Segura, ilustrou o sentimento de boa parte
da população patrocinense. "Há pouco tempo, Patrocínio era uma
cidade pacata. Os bandidos tomaram de assalto nossas ruas. O povo
esta à mercê de bandidos e traficantes cada vez mais audaciosos",
disse. Ele e seu pai, o ex-vereador Marcos Remis, percorreram vários
bairros para ouvir os anseios da população e elaboraram um relatório
com sugestões para reduzir a violência na cidade, que tem 75 mil
habitantes.
Outro temor do povo de Patrocínio é a possibilidade
da vinda de criminosos de alta periculosidade de outras regiões do
Estado para cumprirem pena na penitenciária regional que está sendo
construída na cidade. Para forçar o governo do Estado a reservar a
unidade apenas para os detentos da comarca, a prefeitura pretende
enviar à Câmara Municipal um projeto de lei para reverter ao
município o terreno de 6 mil metros quadrados doado ao Executivo
estadual para a instalação da penitenciária.
Como alternativa, o presidente da comissão,
deputado Durval Ângelo, sugere que a comunidade se mobilize para
exigir a adaptação da penitenciária em colônia penal, em que o
detento tenha reais condições de se reintegrar à sociedade. Ele
também advertiu para a possibilidade de que a unidade receba apenas
presos da região e os detentos da cidade continuem amontoados na
superlotada cadeia pública local.
Já o deputado Roberto Ramos (PL) disse que pretende
apresentar um requerimento para que a comissão analise o
arquivamento de um processo contra dois jovens da cidade, presos em
flagrante com duas caixas de lança-perfume.
Arrombamentos reduziram em 25%
O sentimento de insegurança é crescente, mas a
Policia Militar já apresenta os resultados de ações que vêm
reduzindo os índices de criminalidade em Patrocínio. Segundo o
comandante da 87a Cia. da Policia Militar, major Wilton
Lúcio de Oliveira, neste ano já foram recuperados 33 veículos
roubados na cidade. No mesmo período do ano passado, apenas 13
carros foram recuperados. As ocorrências de furtos e arrombamentos a
residências tiveram redução de 25% em 2005. E a intensificação da
fiscalização reduziu em 11% o número de acidentes de trânsito.
A PM também apresenta resultados positivos no
combate ao tráfico de drogas. Neste ano, já foram presas 11 pessoas
por tráfico e outras 14 por uso de drogas. Com o trabalho de
repressão aos assaltos em fazendas, 34 pessoas foram presas. Com
isso o número de ocorrências caiu de nove, em junho, para dois em
julho e agosto.
A polícia ainda não conseguiu reduzir os índices de
crimes contra a vida em Patrocínio. O número de tentativas de
homicídio subiu de 12 em 2004 para 21 em 2005. Somente em maio deste
ano, foram registradas seis ocorrências, todas relativas a chegada
de migrantes para a colheita do café. Quanto aos homicídios
consumados, foi registrada uma ocorrência em 2004. Neste ano, já são
duas. Mesmo assim, o comandante da PM considera esses resultados
expressivos, e os atribui ao envolvimento da comunidade na solução
dos crimes. "Esses resultados refletem a confiança da PM nas
informações repassadas pela população", justifica.
Presos reclamam das condições da cadeia
Pela manhã os deputados visitaram a cadeia pública
de Patrocínio e conheceram as precárias condições de alojamento dos
presos. Em um espaço projetado para abrigar 60 detentos, espremem-se
153 pessoas. Deste total, cerca de 70% já foram condenados e
deveriam estar cumprindo pena em penitenciárias. Eles reclamam da
superlotação, das péssimas condições de higiene, do calor intenso
dentro das celas, da falta de assistência médica e jurídica. Algumas
celas têm cinco camas e abrigam 17 detentos.
Há também relatos de ameaças e espancamento por
parte de policiais militares. O detento Leonardo da Paz Siqueira diz
ter levado duas pauladas na cabeça por parte de PMs após um
princípio de tumulto há duas semanas, quando alguns presos jogaram
água quente em um policial encarregado da guarda da cadeia. Segundo
a Policia Civil, os detentos que alegam ter sido espancados foram
submetidos a exames de corpo de delito e foi aberto um inquérito
para investigar a responsabilidade dos PMs. O deputado Durval Ângelo
disse que vai solicitar cópia dos exames remetidos ao Ministério
Público para checar a veracidade da denúncia.
A solução para o problema pode ser a construção da
Penitenciária Regional de Patrocínio, cujas obras também foram
visitadas pelos deputados. Financiada com recursos dos governos
federal e estadual, a penitenciária terá capacidade para 396 presos
(homens e mulheres). As obras civis devem ser finalizadas até
novembro, mas depois disso ainda será necessário equipar a unidade e
contratar agentes penitenciários para tomar conta dos presos. O
custo total da obra está estimado em R$ 11,7 milhões.
Os deputados conheceram também experiências
bem-sucedidas de reintegração de infratores. A Associação de
Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) de Patrocinio tem 11
recuperandos em regime fechado. Eles cuidam da manutencão do local,
trabalham em uma serraria, estudam e fazem artesanato. Como prova da
eficácia do método, há dois anos não há registros de fuga dos
sentenciados da Apac, segundo o presidente da entidade, João Geraldo
da Silva. A associação tem capacidade para abrigar 28 recuperandos
em regime fechado, mas opera com ociosidade por causa da morosidade
do Judiciário na análise dos pedidos de transferência dos presos da
cadeia.
A comissão também visitou as instalações do Centro
de Integração e Apoio ao Adolescente de Patrocínio (Ciaap),
instituição-modelo com capacidade para atender 20 menores
infratores. Com idades entre 12 e 21 anos, esses meninos contam com
assistência psicológica, pedagógica e jurídica, desenvolvem
trabalhos de artesanato, recebem aulas do Telecurso 2000 e aprendem
informática. A entidade é mantida com recursos das prefeituras da
região e do governo do Estado.
Presenças: Deputados Durval
Ângelo (PT), presidente e Roberto Ramos (PL), vice. E os convidados
citados na matéria.
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