Comissão ouve sugestões sobre centro de internação em Valadares

A Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa realizou audiência pública em Gover...

13/09/2005 - 00:00
 

Comissão ouve sugestões sobre centro de internação em Valadares

A Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa realizou audiência pública em Governador Valadares, nesta terça-feira (13/9/05), para ouvir sugestões sobre o modelo de gestão que deve ser implantado no Centro de Internação de Adolescentes, cuja inauguração foi anunciada para o próximo dia 15 de outubro. A reunião foi solicitada pela vice-presidente da comissão, deputada Elisa Costa (PT) que, já na abertura, manifestou sua preocupação com os critérios de contratação dos profissionais, o modelo pedagógico que será adotado, a distribuição de vagas para os 92 municípios das 22 comarcas que serão atendidas pelo centro e a capacitação do pessoal para o atendimento do adolescente em conflito com a lei. E ressaltou: "O município precisa ter medidas sócio-educativas de prevenção para evitar, assim, que os adolescentes precisem ser internados".

A idéia de que as medidas sócio-educativas que antecedem a internação, previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) devem ser priorizadas foi unânime entre os participantes da audiência. Essas medidas são advertência, reparação de dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida e semi-liberdade. Na opinião do juiz da Vara da Infância e da Juventude de Governador Valadares, Nilceu Buarque de Lima, a intenção do legislador com o ECA é aplicar as medidas gradativamente. "A internação, pelo Estatuto, é uma exceção", advertiu. O juiz sugeriu que não deveriam ser aceitos no centro de internação menores vindos de comarcas que não apliquem as medidas de meio aberto.

O juiz citou também o dispositivo da Constituição de 1988 que garante que a criança deve ser guardada com responsabilidade e dispõe sobre a criação de uma rede de proteção para ela. "A criança deixou de ser objeto de direito para ser sujeito de direito", destacou. Ele disse ainda que o Estado tem sido omisso na sua responsabilidade de guardar o adolescente.

Brasil tem 40 mil menores cumprindo medidas sócio-educativas

A gerente de Projetos da Subsecretaria dos Direitos da Criança e do Adolescente da Presidência da República, Edna Lúcia Gomes de Souza, informou que, no Brasil, em torno de 40 mil adolescentes cumprem medidas sócio-educativas. Desse número, mais de 13 mil estão em regime de internação. Segundo dados de uma pesquisa realizada em 2002, em sete estados existiam, na época, mais menores internados que cumprindo medidas em meio aberto. "Não podemos virar o Estatuto de cabeça para baixo", afirmou.

A representante do governo federal sugeriu que fosse feito um levantamento dos adolescentes em conflito com a lei na região. Para ela, em algumas cidades não há necessidade de centros para o regime semi-aberto, porque as medidas de liberdade assistida e os serviços comunitários são suficientes. "As medidas têm um caráter de sanção, sim, mas o que precisa prevalecer é seu caráter pedagógico", defendeu. Segundo ela, o governo federal tem parâmetros para o projeto pedagógico dos centros de internação, mas a definição desse projeto deve ser feita localmente com a participação do Estado.

Prevenção - O promotor da Promotoria da Infância e da Juventude, Alexandre Brasileiro Queiroz, lamentou que a comunidade em geral só procure o poder público para cobrar providências em relação aos casos mais graves envolvendo menores. "Os municípios precisam ter estrutura para aplicar as medidas anteriores à privação da liberdade, não deixando para tomar atitudes somente quando as situações se agravam", defendeu o promotor.

"O ECA vê a criança e o adolescente como sujeitos em desenvolvimento, cheios de potencialidades", afirmou a coordenadora da Frente de Defesa da Criança e do Adolescente do Estado, Marilene Cruz. Para ela, se essa lógica não for entendida, nada mudará. "O poder público precisa atentar para a sua responsabilidade na rede de proteção da criança e garantir recursos nos PPAs para as medidas de proteção e para as sócio-educativas", defendeu.

O superintendente de Atendimento às Medidas Sócio-Educativas, Ronaldo Araújo Pedron, explicou aos participantes os projetos do governo estadual para o centro de internação de Governador Valadares. Vereadores e lideranças que atuam em defesa da criança e do adolescente, que acompanharam a reunião, afirmaram ter sido alijados da gestão do centro quando foi iniciado o processo de transição do Cenisa - casa de recuperação que será desativada quando o novo centro for inaugurado por não atender aos dispositivos do ECA - para o Centro de Internação de Adolescentes. Isso porque, segundo o histórico que apresentaram na reunião, havia sido criada uma comissão de transição que elaborou o projeto pedagógico para o novo centro, que teria gestão compartilhada. No entanto, o governador Aécio Neves voltou atrás na decisão, chamando para si essa responsabilidade.

Gestão do centro é responsabilidade do Estado

Ronaldo Pedron afirmou que, de fato, a gestão é uma competência e um dever do Estado. Respondendo a questionamentos feitos pela deputada Elisa Costa e por outros participantes da reunião, ele esclareceu que o modelo pedagógico adotado segue procedimentos de gestão que darão ao governo estadual parâmetros para comparar os resultados dos diversos centros. A deputada Elisa Costa sugeriu que fosse criado um conselho consultivo, então, para acompanhar a gestão do centro de internação. O superintendente também deu informações sobre o processo de seleção dos profissionais que atuarão em Governador Valadares, rejeitando as críticas de direcionamento do processo.

Capacitação - Quanto à capacitação dos selecionados, ele convidou uma equipe representativa da região para participar dos mesmos cursos que serão oferecidos aos futuros funcionários do centro - um de 100 horas/aula com noções de psicologia, ECA, defesa pessoal e primeiros socorros; e outro de uma semana sobre o modelo de gestão, abordando segurança e processo pedagógico. A deputada Elisa Costa, lembrando sugestão do juiz Nilceu, pediu ao superintendente que avaliasse a possibilidade de incluir como critério para preenchimento das vagas do centro de internação, a adoção, pelas comarcas, das medidas sócio-educativas em meio aberto. O centro de internação, conforme determinação do ECA, tem 80 vagas, sendo 40 para internação e 40 para regime provisório (destinadas aos jovens que ainda aguardam a decisão da Justiça).

Presenças - Participou da reunião a deputada Elisa Costa (PT). Além dos citados na matéria, participaram também a assistente social judicial da Vara da Infância e da Juventude e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Adilene Casé do Nascimento; e a representante do deputado federal Leonardo Monteiro (PT-MG), Maria Filomena Castro Filgueiras.

 

 

 

 

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