Mercantilização do ensino superior é criticada em evento na
ALMG
Cobrança pela implementação da Uemg, críticas à
atuação do Conselho Estadual de Educação (CEE) e questionamentos
sobre a mercantilização do ensino superior no Estado por causa do
crescimento desordenado das instituições privadas. Esses temas
marcaram a manhã do primeiro dia do Fórum Técnico "A educação
superior em Minas Gerais: conjuntura atual e perspectivas", nesta
segunda-feira (12/9/05), em Plenário. Promovido pela ALMG em
parceria com entidades, o fórum também discutiu a reforma
universitária e os desafios colocados para a educação superior.
Participaram da abertura o secretário de Estado de Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior, Bilac Pinto, e o presidente da
Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, deputado federal Paulo
Delgado (PT/MG).
Na abertura do evento, que termina nesta terça
(13), foram apresentados dados preocupantes sobre o setor. No
Brasil, apenas 9% dos jovens entre 18 e 24 anos estão matriculados
em faculdade. Esse índice no Chile é de 27%; na Argentina, de 39%; e
nos Estados Unidos, de 80%. Em Minas, das 265 instituições de ensino
superior, 242 são particulares. Segundo censo de 2003 do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC), há 371 mil
alunos de graduação distribuídos em 1.726 cursos no Estado, sendo
1.355 privados. Enquanto no País as instituições privadas respondem
por 70,7% das matrículas, em Minas esse número sobe para
77,2%.
Crítica ao CEE - O crescimento desordenado e
sem critérios de faculdades particulares foi criticado tanto pelo
autor do requerimento que deu origem ao fórum, deputado Ricardo
Duarte (PT), quanto pelo professor Aluísio Pimenta, assessor
especial do governador Aécio Neves. O deputado afirmou não ter
restrição ao ensino privado de qualidade, mas ponderou que é preciso
regular a educação em Minas, avaliando o sistema e mostrando
resultados à sociedade. Ele cobrou ações nesse sentido do CEE, assim
como o professor Aluísio Pimenta. "O Conselho precisa vir a público
e dizer quantos campi privados criou. Preocupa-me a
comercialização vergonhosa de certos cursos de ensino superior no
Brasil. Há criadores de faculdades que integram Senado, Câmara e
Assembléias e estão enriquecendo", denunciou.
Deputado cobra implementação da Uemg; secretário
cita ações de governo
Além da crítica ao crescimento desenfreado das
instituições particulares, o deputado Ricardo Duarte também cobrou
do governo estadual a efetiva implementação da Universidade do
Estado de Minas Gerais (Uemg) e da Universidade Estadual de Montes
Claros (Unimontes). "Nenhum dos quatro últimos governadores garantiu
a instalação da Uemg", criticou. Ele lembrou que, com a redução dos
recursos orçamentários, houve o sucateamento do campus Belo
Horizonte, evidenciando-se a escassez crônica de verba; a falta de
equipamentos; a precariedade das instalações e a desvalorização dos
profissionais. Ele afirmou que não faltam boas propostas para a
universidade, citando o trabalho feito pela Comissão Especial da
Uemg, que atuou em 2003 na ALMG. "Mas o governo até agora não deu
sinal de que a Uemg será efetivamente construída", cobrou.
O secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior, Bilac Pinto, reconheceu que a Uemg ainda é um
desafio. Relacionou, por outro lado, algumas ações de governo com
relação à universidade: a liberação de recursos orçamentários
visando à conclusão de estudos para a construção do campus,
na região da Cidade Nova; a transferência da Escola de Design para
um prédio na Avenida Antônio Carlos até o final deste ano; e a
destinação de R$ 1,5 milhão nos últimos três anos tanto para a Uemg,
quanto para a Unimontes.
Secretário adjunto de Ciência e Tecnologia faz
diagnóstico da educação superior
O secretário adjunto de Estado de Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior, Jacques Schwartzman, traçou um
diagnóstico da educação superior em Minas. Segundo ele, Minas
investe menos que o restante do País nas instituições estaduais de
ensino superior. No que diz respeito ao número de matrículas,
enquanto no País 14,6% delas estão nas instituições públicas
estaduais, em Minas o índice cai para 4,2%. Em contrapartida, quando
o assunto são as instituições privadas, o número é de 77,2% das
matrículas, contra 70,7% em nível nacional. Pelo fato de concentrar
o maior número de instituições federais do Brasil (12 delas), as
federais detêm 18,6% das matrículas, sendo que o índice nacional é
de 14,7%.
Ao comparar o número de vagas no ensino superior
(177.080) com o de concluintes do ensino médio (226.741), o
professor Schwartzman avaliou que não haverá problemas dramáticos de
vagas no ensino superior de Minas nos próximos anos. Aliado a esses
números, está o fato de que a população do País está envelhecendo e
a camada jovem, em declínio. "Parece-me que as políticas para
educação superior não deveriam caminhar para a abertura de novos
cursos", opinou, ao analisar esse aspecto. O professor ponderou, por
outro lado, que novas vagas poderiam surgir estrategicamente nas
instituições públicas para suprir lacunas ou, de forma distributiva,
para ampliar o acesso das pessoas de menor renda à universidade.
Outros caminhos apontados pelo professor são os
seguintes: freio no crescimento do setor privado; priorização da
qualidade do ensino fundamental e médio; oferta de outras formas de
pós-médio, além da graduação tradicional. Entre elas, cursos
seqüenciais, técnicos e tecnológicos.
Reforma universitária
Ainda na abertura do evento, o presidente da
Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, deputado federal Paulo
Delgado (PT/MG), comentou a reforma universitária, um dos temas
discutidos nesta manhã. Ele ponderou que o anteprojeto federal de
reforma da educação superior tem vários aspectos positivos: prevê a
autonomia universitária e a gestão democrática; a qualificação dos
reitores e a proibição da reeleição; o financiamento sistemático
consolidado pela vinculação; a vinculação da excelência dos
hospitais universitários ao SUS; a retirada, do orçamento das
universidades, do cálculo de aposentadorias e pensões; e a ênfase na
qualidade.
A questão da qualidade também foi abordada pelo
presidente da Comissão de Educação da Assembléia de Minas, deputado
Doutor Viana (PFL), que representou o presidente Mauri Torres na
abertura dos trabalhos. Ele ponderou que as mazelas da educação
superior serão trazidas à tona no fórum técnico e que é preciso
aproveitar o momento de discussões. Sugestões e diagnóstico sobre a
educação superior no Estado serão apresentadas como contribuição ao
aprimoramento do projeto de reforma universitária federal.
Aviso - O deputado Doutor
Viana também informou ao Plenário que, devido à estreita correlação
dos temas dos grupos de trabalho e à necessidade de agilizar os
debates, as atividades dos grupos de trabalho de terça (13) foram
antecipadas para esta segunda (12). A plenária final, marcada
inicialmente para esta quarta (14), foi antecipada para terça (13),
às 14 horas. Desta forma, os grupos de trabalhos que atuarão são os
seguintes: Grupo I (fusão dos Grupos I e IV), no Plenarinho IV;
Grupo II (fusão dos Grupos II e V), no Auditório; e Grupo III (fusão
dos Grupos III e VI), no Teatro.
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