80 famílias ameaçadas de despejo recorrem à Comissão de Direitos Humanos

Cerca de 80 famílias de moradores do bairro São Judas Tadeu, no Barreiro de Cima, lotaram o Teatro da Assembléia na t...

06/09/2005 - 00:01
 

80 famílias ameaçadas de despejo recorrem à Comissão de Direitos Humanos

Cerca de 80 famílias de moradores do bairro São Judas Tadeu, no Barreiro de Cima, lotaram o Teatro da Assembléia na tarde desta terça-feira (06/09/05), em busca de apoio dos deputados da Comissão de Direitos Humanos contra uma ameaça de despejo determinada pela Justiça. Há quase dez anos essas pessoas compraram terrenos num loteamento irregular e construíram suas casas com recursos próprios, mas a área está sendo reivindicada na Justiça por um pretenso proprietário chamado Altair Chagas, que conseguiu mandado de reintegração de posse na 24ª Vara da Justiça.

A doméstica Maria Lucília Cardoso Vieira ficou emocionada no microfone: "Eu moro no Morro das Pedras, e meu sonho sempre foi sair daquela área de risco. Com meu salário de doméstica, paguei R$ 190,00 por mês durante três anos, e não pude construir ainda. Será que agora alguém vai tomar o meu canto, vai roubar o patrimônio do meu filho? Os senhores garantem que eu posso ficar tranqüila?"

Wagner Veiga, da associação dos moradores do São Judas Tadeu, revelou que havia sido procurado pela P2, a inteligência da PM, que procurava planejar uma estratégia para desocupação dos imóveis. O deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão, informou que uma ação preparada pelos advogados dos moradores obteve medida liminar do desembargador Fábio Maia Viani, que se pronunciou a favor dos moradores e mandou recolher o mandado de reintegração de posse.

Os advogados dos moradores manifestaram confiança cautelosa num desfecho favorável, depois que foi descoberta, na 14ª Vara de Justiça, uma decisão de 1980 anulando a escritura do pretenso proprietário. O deputado Durval Ângelo, porém, mostrou-se totalmente confiante: "Em onze anos de militância nesta Comissão, tenho visto inúmeros casos mais graves, de ocupações de imóveis por moradores sem-teto, serem decididas pela Justiça em favor deles. Felizmente, os juizes têm demonstrado sensibilidade com os direitos humanos, e quando há situações consolidadas não decidem pelo despejo", afirmou o deputado.

Máfia de registros falsos teria servidores públicos

O conselho do deputado Durval Ângelo aos moradores é de se manterem unidos, anular a contra-informação, apressar a construção de suas casas e jamais desanimar dessa luta, que pode demorar. O deputado Paulo Cesar (PFL), também opinou a favor: "Esta é uma situação que os moradores não vão perder. O deputado Durval Ângelo tem muito conhecimento nessa área, e além deles, vocês podem contar com todos da comissão".

O presidente da comissão disse ainda que sua assessoria está investigando uma máfia de registros falsos em cartórios, que atuaria nos bairros nobres da capital, como Belvedere e Luxemburgo, com envolvimento de servidores da Prefeitura de Belo Horizonte, do Judiciário e até de um ex-deputado. "Dentro de dez dias acreditamos estar em condições de denunciar a todos", prometeu Durval Ângelo.

Vários moradores, como Aníbal Rocha Vieira, levantaram suspeitas de que essa máfia estaria agindo também nos bairros da periferia. Marcos Moreira Gomes disse ter notícias de que a área onde está o São Judas Tadeu já teria sido vendida 14 vezes. Elias da Cruz denunciou que vários bairros ao redor teriam o mesmo problema. "Ninguém tem registro, nem escritura. Os loteamentos ainda estão ilegais", afirmou. O apoio da Arquidiocese de Belo Horizonte foi assegurado pelo padre Paulo Sérgio Soares, do bairro Jardim Liberdade. Durval Ângelo sugeriu também que fossem mobilizados os pastores evangélicos da região.

Requerimentos: Três requerimentos foram aprovados na reunião. O primeiro deles é um voto de apoio aos prefeitos de Ouro Fino e Inconfidentes, no Sul de Minas, que estão enfrentando resistência para implantar ali uma unidade da Apac, considerado o método mais eficaz de recuperação de condenados. O segundo, uma visita da comissão ao bairro São Judas Tadeu, para conhecer o problema no local. O terceiro, convites ao magistrado Geraldo Senra Delgado, titular da 24ª Vara Criminal, ao desembargador Fábio Maia Viani, ao relator que o Tribunal de Justiça designar para a ação e ao administrador regional do Barreiro, Paulo Herzog, para acompanharem a visita.

Presenças: Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice-presidente e Paulo Cesar (PFL). Além dos citados, compuseram também a mesa os advogados Eneida Caldas de Melo e Altair Élber de Oliveira, e os líderes comunitários Antônio Nário Rezende e Wagner Veiga.

 

 

 

 

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