CPI da Mina Capão Xavier aprova relatório por 4 votos a 2

O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito da Mina Capão Xavier, pertencente à Minerações Brasileiras Reu...

01/09/2005 - 00:00
 

CPI da Mina Capão Xavier aprova relatório por 4 votos a 2

O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito da Mina Capão Xavier, pertencente à Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), foi aprovado nesta quinta-feira (1º/9/05), por quatro votos a dois. Levantaram-se para desaprová-lo os deputados Biel Rocha (PT), vice-presidente da CPI, e Antônio Júlio (PMDB). Aprovaram-no os deputados Domingos Sávio (PSDB), relator; Márcio Kangussu (PPS), presidente; Dinis Pinheiro (PSDB) e Célio Moreira (PL). O relatório tem 60 páginas e 18 volumosos anexos. A CPI foi instalada em 1º de março de 2005.

A reunião final chegou a ser suspensa por uma hora para que os deputados chegassem a um acordo sobre um trecho do relatório, que afirmava que não houve irregularidades no licenciamento. O relator desistiu dessa afirmação em troca de outra que atendesse os deputados Antônio Júlio e Adalclever Lopes (PMDB), que sustentavam que houve irregularidades. O trecho do relatório ficou assim: "sobre suspeitas de corrupção, favorecimento ou pressão política sobre os envolvidos diretamente nos procedimentos autorizativos, podemos afirmar que não encontramos indícios de falhas, omissões ou incoerências em relação aos ritos processuais exigidos pela legislação afeta ao tema".

O relatório destaca que a Licença de Operação concedida à MBR permite apenas a mineração na superfície, e não abrange o rebaixamento do lençol freático, que causaria impactos severos nos mananciais da região. Os incômodos da mineração, como a poeira, as explosões e o ruído das máquinas afetam principalmente a população do bairro Jardim Canadá, mas o rebaixamento do lençol freático é combatido pelos ambientalistas, que afixaram cartazes no Plenarinho, considerando "pífio" o relatório em face das denúncias ali apresentadas.

Deputados querem cercar novo licenciamento de precauções

O relatório recomenda que a licença para o futuro rebaixamento só seja concedida após a realização de estudos técnicos que garantam que os mananciais não serão afetados; que a MBR, a Feam e o Ministério Público busquem um termo de compromisso para proteger o abastecimento público; que o Governo reaparelhe os órgãos ambientais, ampliando suas equipes e a capacitação profissional.

O relator pediu à Mesa da Assembléia um fórum técnico sobre o aprimoramento do licenciamento ambiental e da fiscalização dos empreendimentos que causem degradação ambiental. Acatou também quatro recomendações do deputado Antônio Júlio. Uma delas pede ao presidente da Assembléia para colocar em tramitação a PEC 71/05, que estabelece quarentena de seis meses para dirigentes de órgãos ambientais se empregarem na iniciativa privada. Outra pede que o governador envie projeto de lei concedendo autonomia à Feam para atuar ativamente nos processos em que tenha aplicado multas.

Antônio Júlio quer que o procurador da Feam, Joaquim Martins da Silva Filho, responda a processo administrativo interno, além dos processos a que já responde. Propôs também um ofício ao Superior Tribunal de Justiça denunciando a demora de 14 meses do Tribunal Regional Federal em julgar ação impetrada por ele pedindo o cancelamento do licenciamento de Capão Xavier.

Declarações de voto condenam o empreendimento e a empresa

"Sofremos todo tipo de pressão desde o início dos trabalhos da CPI", disse Antônio Júlio. "Mas não vamos parar por aqui. Vamos continuar lutando para que a mina de Capão Xavier seja paralisada", afirmou. Mesmo tendo suas quatro sugestões acatadas, o deputado votou contra o relatório, argumentando: "O que me deixa mais triste como brasileiro é ver nossas riquezas sendo saqueadas continuamente pela MBR, sendo enviadas para a Europa através de práticas de subfaturamento, sem gerar os benefícios que deveria para o Estado. Esta CPI não termina em pizza. Estou convicto de que houve empenho do Governo para facilitação e agilização do empreendimento."

O deputado Adalclever Lopes (PMDB), que atuou com Antônio Júlio para deter o empreendimento, considerou "pobre" o relatório, e afirmou: "Este é o dia mais triste da minha vida pública. Em vez de cumprir à risca a legislação, a MBR invade competência do poder público, de fazer praça e ajudar escolas".

O vice-presidente da CPI, Biel Rocha, fez declaração de voto pedindo o cancelamento da licença de operação da mina, e leu uma carta do Movimento Capão Xavier Vivo em defesa dos mananciais e criticando a ineficiência do licenciamento ambiental. "A democracia representativa no Brasil quase anula a participação popular", advertiu o parlamentar.

A defesa do empreendimento, em termos, foi feita pelo deputado Fábio Avelar (PTB), que não pôde participar formalmente da CPI por ser membro da Mesa Diretora. Avelar esteve presente em quase todas as reuniões e pôde contribuir substancialmente para o relatório. "Não considero triste este dia, e não senti em momento algum se houve facilitação por parte do Governo. Respeito as posições dos outros deputados, mas acho que foi uma vitória da democracia", afirmou.

A deputada Lúcia Pacífico, que não pôde votar por estar sem partido, lembrou as reuniões das quais participou, sua visita à mina num dia de chuva e neblina, e as listas de pessoas que sugeriu para serem ouvidas. Ela disse acreditar que, quando a licença para rebaixamento do aqüífero for solicitada, terá que se submeter inteiramente à legislação.

Presenças - Deputados Márcio Kangussu (PPS), presidente; Biel Rocha (PT), vice-presidente; Domingos Sávio (PSDB), relator; Antônio Júlio (PMDB), Dinis Pinheiro (PSDB), Célio Moreira (PL), Fábio Avelar (PTB), Gustavo Valadares (PFL), Leonardo Moreira (PL), e a deputada Lúcia Pacífico (sem partido).

 

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