Ausência de recomposição salarial é criticada nos PLs das tabelas

As tabelas de vencimento da educação foram motivo de nova audiência da Comissão de Administração Pública da Assembléi...

31/08/2005 - 00:01
 

Ausência de recomposição salarial é criticada nos PLs das tabelas

As tabelas de vencimento da educação foram motivo de nova audiência da Comissão de Administração Pública da Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira (31/8/05), que reuniu 16 deputados, servidores da educação e representantes de entidades de classe. Foram discutidos, pela segunda vez, os Projetos de Lei (PLs) 2.460 e 2.463/05, do governador, que tratam das tabelas de vencimento das carreiras da educação básica e da instituição da Vantagem Temporária Incorporável (VTI). As críticas dos educadores referem-se principalmente à ausência de recomposição salarial das tabelas, enquanto a defesa centra-se no fato de ser a primeira vez, segundo o governo, depois de décadas, que se estabelece uma carreira para o servidor público.

Uma nova audiência está prevista para a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, quando deverão ser apresentadas algumas emendas pela oposição, segundo o deputado Rogério Correia (PT). Entre elas estão: que nenhum servidor tenha piso salarial inferior ao salário mínimo, um índice de reajuste anual baseado no IPCA e o pagamento por habilitação, que já existiu em carreiras anteriores. Uma emenda da deputada Maria Tereza Lara (PT), que antecipava o reajuste de 5%, previsto para julho do ano que vem, para abril do mesmo ano, apresentada na Comissão de Constituição e Justiça, foi rejeitada.

Governo insiste na falta de recursos

O secretário adjunto de Estado da Educação, João Antônio Filocre, insistiu na necessidade de separar a discussão da carreira da recomposição salarial. Do mesmo modo que o secretário de Planejamento e Gestão, Antônio Anastasia, que compareceu na mesma comissão na semana passada, ele disse que o oferecido pelo governo é o permitido pelo Tesouro e pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Segundo ele, o que existe para recomposição este ano são os R$ 245 milhões previstos nas tabelas para este ano, os R$ 525 milhões para 2006 e outros R$ 610 milhões para 2007. "Seria mais fácil o governo pegar os R$ 245 milhões e dividir entre os servidores da educação, aí sim, o reajuste seria linear, prejudicando quem ganha menos e não abrindo perspectivas de valorização do servidor, filosofia que norteia a nova carreira, aprovada no ano passado", disse.

O mesmo argumento foi usado pela assessora da Diretoria de Recursos Humanos da Seplag, Jomara Alves, para quem as tabelas contêm ganhos, como a progressão que agora será de dois em dois anos, quando na carreira anterior era de quatro em quatro. Mas a argumentação da falta de recursos foi desmontada por Rogério Correia, que, baseado em dados do Sindicato dos Fiscais do Estado (Sindifisco), disse que a receita líquida de Minas Gerais está crescendo desde 2001, enquanto o comprometimento da receita com o pagamento da folha salarial dos servidores diminuiu 20% neste mesmo período. "Os gastos com a folha representavam 66% da receita líquida em 2001 e este ano não passam de 46%", garantiu.

A deputada Elisa Costa (PT) criticou principalmente a transformação da Parcela Remuneratória Complementar (PRC), somada ao abono concedido em 1997, em Vantagem Temporária Incorporável, o que reduz os salários, segundo ela.

Servidores criticam abandono de acordos do ano passado

Representantes dos servidores disseram que pontos da negociação acertados com o governo estadual no ano passado, durante a discussão dos projetos das carreiras, foram abandonados agora nos projetos das tabelas de vencimento. Segundo o diretor do Sind-UTE, Antônio Carlos Hilário, o principal problema está na ausência de ferramentas para recomposição salarial. "E não adianta querer diferenciar a discussão da carreira com a recomposição, porque as duas estão intimamente ligadas", enfatizou. Ele foi apoiado pelas representantes das supervisoras pedagógicas, Gisely de Castro Pinto, dos inspetores escolares, Maria Alice Amado, e dos funcionários aposentados, Maria Helena Mansur. As duas primeiras manifestaram a indignação das categorias que representam, diante, segundo elas, da falta de isonomia com os professores, de acordo com os projetos das tabelas. Para os supervisores pedagógicos, o deputado Doutor Viana (PFL) disse que irá apresentar emenda para corrigir a distorção.

O presidente da Associação dos Professores do Colégio Tiradentes, Ricardo Paulino Coelho, disse que os 1.500 professores daquela instituição não receberam o mesmo tratamento dado aos professores nos projetos das tabelas. Ele disse que enquanto a vinculação do Colégio Tiradentes passa para a Secretaria da Defesa Social, a correção e a carreira não se igualam aos da Polícia Militar e nem aos da Secretaria de Educação. Jomara Alves, da Seplag, explicou que a vinculação administrativa é com a Sedes, mas que a tabela é a mesma da Secretaria da Educação. Marilda Araújo, do Sind-UTE, esclareceu que a discordância principal dos profissionais não é com a estrutura da carreira, mas com as regras de enquadramento.

Deputados apontam aperfeiçoamento do projeto

Durante a fase de debates, os deputados enfatizaram o papel da Assembléia no aperfeiçoamento dos projetos enviados pelo governador. Para o presidente da Comissão de Administração, Fahim Sawan (PSDB), a discussão com representantes dos servidores e do governo tem sido produtiva e já permitiu a correção de algumas injustiças, como no caso dos professores do Colégio Tiradentes. Domingos Sávio (PSDB) assinalou que a questão das carreiras trata-se da correção de um problema histórico, que se agravou ao longo dos anos, e defendeu propostas que apresentou na forma de emendas, como a garantia de reajuste anual; valor do salário base não inferior ao salário mínimo; e o impedimento da eventual redução de ganhos por causa de classificação em faixas superiores de desconto de Imposto de Renda. Gustavo Valadares (PFL) e Dinis Pinheiro (PSDB) destacaram o esforço do governador para valorização dos servidores. Paulo Piau (PP) reconheceu que as tabelas "não são boas" e manifestou seu desapontamento com a piora da qualidade da educação no País, questionando o fato de a arrecadação ter aumentado mas os servidores não terem tido melhoria salarial. Para ele, é importante que se estabeleça uma política remuneratória, para que os servidores tenham segurança.

Ricardo Duarte, Jésus Lima e André Quintão, do PT, disseram que as negociações não podem ser "engessadas" por limitações de recursos impostas pelo governo, e pediram maior flexibilidade do Executivo no exame das emendas aos projetos das tabelas. Eles insistiram nas sugestões de mudanças já apresentadas anteriormente, como o pagamento retroativo do abono, a incorporação de toda a PRC ao vencimento básico, a supressão de artigo que restringe o acesso aos cargos de direção aos que optarem pela nova carreira, a consideração do tempo de serviço para efeitos de posicionamento nas tabelas e piso não-inferior ao salário mínimo, entre outras propostas.

Ao final da reunião, João Antônio Filocre admitiu que algumas reivindicações feitas pelos profissionais da educação e por deputados podem ser estudadas e contempladas, como questões ligadas ao enquadramento por tempo de serviço. Ele finalizou dizendo que, assim como os projetos das carreiras foram aprimorados durante a tramitação, o mesmo poderá ocorrer com os projetos das tabelas de vencimento.

Presenças - Deputados Fahim Sawan (PSDB), presidente; Gustavo Valadares (PFL), vice; Ricardo Duarte (PT), Doutor Viana (PFL), José Henrique (PMDB), Rogério Correia (PT), Paulo Piau (PP), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Jésus Lima (PT), André Quintão (PT), Domingos Sávio (PSDB), Dinis Pinheiro (PSDB), Sargento Rodrigues (PDT) e Adelmo Carneiro Leão (PT) e as deputadas Elisa Costa (PT) e Jô Moraes (PCdoB).

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715