Profissionais pedem valorização da residência médica

Representantes de entidades médicas participaram, nesta quarta-feira (31/8/05), de audiência pública da Comissão de S...

31/08/2005 - 00:01
 

Profissionais pedem valorização da residência médica

Representantes de entidades médicas participaram, nesta quarta-feira (31/8/05), de audiência pública da Comissão de Saúde para debater a situação da residência médica, forma de pós-graduação necessária aos graduados em Medicina, oficializada pelo Ministério da Educação (MEC). Em Minas Gerais, existem cerca de 1.700 profissionais trabalhando como residentes, mas esse número representa apenas metade das vagas que seriam necessárias para atender ao contigente de alunos que concluem a graduação, todo ano. De acordo com os médicos que participaram da reunião, 70% dos atendimentos em hospitais que têm residência médica são feitos por residentes, apesar de a população, na maioria das vezes, desconhecer essa atividade.

Na opinião da presidente da Comissão Estadual de Residência Médica, Tânia Maria Marcial, as escolas de Medicina não conseguem preparar os estudantes para atuar no mercado de trabalho. Por isso, o exercício da residência médica acaba se tornando fundamental para a formação do profissional. As escolas, segundo ela, também não deixam os futuros profissionais aptos para aprovação nas provas de residência, o que faz com que muitos se matriculem em cursinhos preparatórios para as provas, para obterem melhores resultados.

Atividade deve ter supervisão integral

A residência médica é o período em que o profissional faz um aprimoramento técnico e prático na área em que quer se especializar, com supervisão integral de outro médico especialista. "A importância da residência está primordialmente na qualidade da assistência à saúde prestada à população, na rede pública ou privada", explicou Eduardo Lopes Tavares de Lima, do Conselho Regional de Medicina (CRM-MG). Ele enfatizou que a etapa é imprescindível devido à expansão cada vez maior de informações e recursos na área médica. "São 60 horas semanais, por no mínimo dois anos", ressaltou.

O conselheiro apontou os principais problemas na área da residência médica, começando pela escassez do número de vagas, cada vez mais demandadas em função da abertura de novas escolas de Medicina no Estado. Ele pediu que o poder público desenvolva políticas públicas que permitam a abertura de vagas conforme as necessidades do SUS. Para ele, esse investimento, que deve ser feito a médio e longo prazos, acabará trazendo economia para os cofres públicos, por ampliar o atendimento de baixa complexidade, que tem custos mais baixos.

O presidente da Associação Mineira de Médicos Residentes, Daniel de Lima Silva Pereira, considerou também como dificuldades para a residência médica: o pagamento de bolsas defasadas aos profissionais; a falta de mobilização dos residentes, que acabam entrando em mais de uma residência para conseguirem uma renda melhor ou aceitam fazer plantões sem um supervisor; e os cursos de especialização oferecidos por sociedade médicas. Essas especializações, segundo ele, além de nem sempre terem boa qualidade, não são regulamentados pela legislação e nem sofrem fiscalização. Os convidados também relataram que, devido à escassez de vagas na residência, tem sido freqüente que estudantes recém-formados, e ainda sem qualificação na especialidade escolhida, acabem partindo para o Programa Saúde da Família, principalmente no interior, por não ser exigida a especialização.

Especialização exige tempo e dinheiro

O deputado Carlos Pimenta (PDT) representou o colega de partido, deputado Doutor Ronaldo, autor do requerimento pela reunião, que justificou a ausência por representar a ALMG em outra atividade. Pimenta destacou as dificuldades que os estudantes de Medicina enfrentam na residência médica. Segundo ele, a dificuldade de passar na residência médica, que oferece poucas vagas, e a "obrigação" de freqüentar os cursinhos para melhorar as chances de aprovação faz com que a atividade fique mais restrita àqueles com melhor poder aquisitivo. "A pessoa tem que ter 13, 14 anos de formação mínima", exemplicou, mencionando também os casos em que o médico acaba pagando para cursar as especializações oferecidas pelas sociedades médicas, o que é incorreto pelo código de ética da profissão.

Ao comentar o que foi discutido na reunião, o presidente da Comissão de Saúde, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), reforçou a necessidade de valorizar a residência médica, quanto à formação dos residentes, ao atendimento das demandas da população e à oferta plena de condições de trabalho. "O Estado precisa criar um bom lugar para os médicos trabalharem. Hoje, as residências escolhem os melhores alunos, é uma bolsa de processo de qualificação", afirmou, lembrando que é importante debater mais as condições do Programa Saúde da Família, que tem grande importância social e gera muitos postos de trabalho.

Aprovado parecer sobre projeto da Cardiominas

Ainda na reunião, a comissão aprovou pareceres de 1º turno pela aprovação de três projetos de lei (PLs). Um deles é o PL 2.265/05, do governador, que muda a lei que autorizou a doação do prédio do extinto Cardiominas à Santa Casa de Misericórdia (Lei 12.6888, de 1997), dando mais 24 meses para que a Santa Casa construa no local um centro de especialidades médicas. O relator, deputado Carlos Pimenta, opinou pela aprovação do projeto na forma do Substitutivo nº 1, que apresentou, e pela rejeição da Emenda nº 1, da Comissão de Constituição e Justiça.

De acordo com o relator, o substitutivo visa criar um dispositivo novo para a concessão do prazo a que se refere o projeto, uma vez que o tempo concedido pela lei original, bem como a sua dilatação dada por lei posterior, já estavam vencidos. Ainda pelo parecer, a emenda apresentada pela CCJ modificou a forma de concessão do prazo, mas manteve a relação de alteração com a lei original. Assim, o substitutivo não acatou a emenda proposta na íntegra, incluindo apenas a parte que trata da concessão de um ano a mais para a conclusão da obra.

Outra mudança proposta no substitutivo é a explicitação da área física a ser destinada, sem ônus, ao Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) - o 4º e o 5º pavimentos do edifício em questão. Assim, conforme o texto proposto, o Executivo fica autorizado a conceder prazo de 36 meses a partir da publicação da lei, para que a Santa Casa conclua a construção do edifício e implemente um centro de especialidades em saúde, conforme os critérios explicitados. O imóvel será revertido ao patrimônio do Estado se não lhe tiver sido dada a destinação no tempo previsto.

Exame de fundo de olho - Outro projeto analisado foi o PL 2.213/05, do deputado Doutor Viana (PFL), que torna obrigatório o exame de fundo de olho em crianças matriculadas da 1ª a 4ª séries do ensino fundamental da rede estadual de ensino. O projeto muda a lei 15.394, de 2004, que já determina essa obrigatoriedade para recém-nascidos no Estado. A matéria, que foi redistribuída ao deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), recebeu parecer favorável, aprovado, na forma do Substitutivo nº 1, da CCJ.

No parecer, o relator lembra que o exame de fundo de olho, que detecta a existência do tumor retinoblastoma, além de outras doenças, é mais comum em crianças com menos de cinco anos, mas pode surgir em qualquer idade. Por isso, o substitutivo da CCJ, com o qual o relator concorda, pretende que as crianças em idade escolar, entre seis e 12 anos incompletos, independentemente de estudarem na rede pública, também sejam avaliadas. Dessa maneira, diz o parecer, a possibilidade de cura e de evitar a perda da visão serão maiores.

Dependência química - O deputado Dalmo Ribeiro Silva também foi o relator do PL 1.987/04, do deputado Ricardo Duarte (PT), que recebeu parecer pela aprovação na forma do Substitutivo nº 1. O projeto estabelece diretrizes para as ações do Estado na prevenção e na redução de danos causados à saúde pelo uso constante de substâncias causadoras de dependência química. De acordo com o parecer, o substitutivo acolhe sugestões apresentadas por especialistas presentes em audiência pública realizada para subsidiar a discussão do projeto, que se referem à precisão dos termos técnicos e à clareza do projeto.

Assim, pelo substitutivo, o Estado deverá atuar na prevenção, no tratamento, na recuperação e na reinserção social do dependente químico, realizando campanhas educativas permanentes sobre os riscos do uso de substâncias químicas psicotrópicas causadoras da dependência e para a prevenção do contágio de doenças transmissíveis associadas ao uso de drogas. O substitutivo também prevê a parceria entre entidades governamentais ou não, instituições educacionais e empresas privadas. O Estado também deverá promover a capacitação técnica dos profissionais de saúde e de assistência social de sua rede. Essas ações serão executadas no âmbito do SUS e planejadas e coordenadas pelo governo do Estado.

O substitutivo prevê ainda a mudança na Lei 12.296, de 1996, determinando a distribuição gratuita de preservativos, seringas e agulhas descartáveis, a ser feita por profissionais treinados e vinculados ao serviço público.

A comissão aprovou, ainda, requerimentos que dispensam a apreciação do Plenário.

Presenças - Deputados Adelmo Carneiro leão (PT), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice-presidente; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e José Henrique (PMDB).

 

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