Cidades do entorno de Furnas denunciam danos ambientais ao lago

O uso de agrotóxicos nas culturas de café, batata e tomate, levados pela chuva para o lago de Furnas, bem como o lanç...

30/08/2005 - 00:00
 

Cidades do entorno de Furnas denunciam danos ambientais ao lago

O uso de agrotóxicos nas culturas de café, batata e tomate, levados pela chuva para o lago de Furnas, bem como o lançamento de esgotos sem tratamento na represa. Esses foram os principais problemas ambientais das cidades do entorno do Lago de Furnas, apontados na reunião da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia, esta terça-feira (30/8/05), na Câmara Municipal de Alfenas. Além dos deputados, outras autoridades e participantes da audiência pública cobraram de Furnas Centrais Elétricas ações visando uma maior fiscalização sobre a poluição da represa, em vez de uma atuação apenas na geração de energia, como vem ocorrendo. A reunião foi pedida pelo deputado Rogério Correa (PT).

Luiz Antônio da Silva, secretário de saúde e meio ambiente de Alfenas, informou que o lago tem 1.500 km2 de extensão, 3.500 km lineares de praias, 1 milhão de habitantes nos municípios do entorno. De acordo com Silva, em um raio de 350 km do lago vivem 40 milhões de pessoas, incluindo os habitantes dos três grandes centros regionais do Sudeste - São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Ainda segundo ele, a represa de Furnas regula todas as que estão abaixo dela, inclusive a de Itaipu, o que a torna a mais importante do País.

Diante dessa constatação, o secretário defendeu a criação de uma autoridade para cuidar do Lago de Furnas e do ambiente em redor, nos moldes do que existe no estado do Tenessee (EUA). Hoje, segundo Luiz Silva, a única organização que defende o lago é a Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago). Para o trabalho de despoluição da represa e adoção de medidas preventivas e ambientais seriam necessários, de acordo com Silva, R$ 500 milhões.

Promotorias - Já o promotor de Justiça de Alfenas, Fernando Ribeiro Magalhães Cruz, disse que o Ministério Público, que deveria agir preventivamente, acaba agindo somente através de punições aos responsáveis pelos danos ambientais. Numa das fiscalizações, foram apreendidos agrotóxicos proibidos no Brasil, que teriam sido contrabandeados do Paraguai. Para corrigir essa falha, ele defendeu a criação de promotorias de meio ambiente voltadas para o Lago de Furnas, a exemplo do que já existe no Rio São Francisco. O promotor reclamou também que faltam recursos para a Polícia Ambiental, obrigando a comunidade local a comprar equipamentos como coletes, motores de popa e máquinas fotográficas. A coordenadora de Meio Ambiente de Alfenas, Maria Cristina Vieira, acrescentou que o município realiza um trabalho de ampliação de reservas particulares, que já recebeu a adesão de mais de 100 proprietários rurais.

Retranca

Copasa confirma presença de bactérias tóxicas

O engenheiro de produção da Copasa, Eustáquio Sidney Milanez, confirmou a presença nas águas de Furnas de ciano-bactérias, que produzem toxinas. Esses microorganismos altamente tóxicos teriam obrigado a Copasa a adotar tratamentos mais complexos e monitoramento mais constante da qualidade das águas. Uma das medidas nesse sentido foi a instalação de um laboratório hidro-biológico na região, para detectar, entre outras, as ciano-bactérias, responsáveis pelas mortes de pessoas que fizeram hemodiálise em Caruaru, no Ceará. Eustáquio Milanez informou ainda que a Copasa já trata quase todo o esgoto de Varginha, em uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Em Alfenas, está em construção outra ETE. O engenheiro declarou também que 70% da água retirada do lago é para irrigação. Ele disse duvidar que os proprietários rurais tenham outorga de água para a irrigação, uma vez que "a presença do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) na região é nula".

Assoreamento - O assessor de Furnas Centrais Elétricas, Paulo Tadeu Silva D'arcádia, avaliou que a visão de que se precisa cuidar só do entorno do lago é falsa: "temos que cuidar do meio ambiente como um todo; no caso de Furnas, desde a nascente do Rio Grande, no Paraná". Ele acredita que ainda se pode tratar os esgotos e eliminar os agrotóxicos, mas recuperar o assoreamento não é possível. "É preciso diminuir a velocidade da água que cai no lago para evitar novos assoreamentos", acrescentou.

Deputados cobram providências e sugerem ações

O deputado João Leite (sem partido) citou a Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, onde foram abandonados os olhos d'água, fontes e minas, e hoje, o espelho da lagoa está ameaçado. Ele questionou os presentes sobre como seria dada aos turistas a informação sobre a toxidade da água, levando em consideração dois lados - da gravidade do assunto e a possibilidade de afugentar os turistas. O parlamentar também cobrou maior atuação do Igam na região e estranhou a presença de apenas um prefeito na audiência.

O 2º vice-presidente da ALMG, deputado Rogério Correia (PT), disse que só uma parceria entre a Copasa e Furnas tornaria possível um trabalho eficiente de despoluição do lago, evitando sua deterioração. Ele defendeu também uma discussão de um plano diretor conjunto para os municípios do lago e um consórcio entre eles para tratamento de esgotos, em parceria com a Copasa.

Requerimentos - Foram apresentados cinco requerimentos, a serem aprovados na próxima reunião da comissão, assinados pelos deputados presentes - Rogério Correia, João Leite e Laudelino Augusto (PT) : o envio de ofícios - ao procurador Geral do Ministério Público pedindo a instalação de outras promotorias especializadas do Meio Ambiente; ao Ministério da Educação e ao reitor da Unifenas, solicitando que ofereçam cursos de engenharia ambiental e sanitária; ao governador e ao comando da Polícia Militar, pedindo o reaparelhamento e aumento do efetivo da PM na região; ao reitor da Unifenas, pedindo cópia do relatório final do Projeto Furnas, elaborado pela universidade; convite à Assembléia Legislativa para que participe do 2º Fórum Social das Águas da América Latina, em Alfenas, em 12 de março de 2006.

Presenças - Deputados Laudelino Augusto (PT), presidente; João Leite (sem partido) e Rogério Correia (PT).

 

 

 

 

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