Pesquisa agrícola tem que transformar conhecimento em
tecnologia
O maior desafio da pesquisa agrícola em Minas
Gerais, atualmente, é transformar conhecimento acadêmico em
tecnologia para desenvolver novos produtos e auxiliar os
agricultores. A afirmação foi feita pelo pesquisador Alberto
Marcatti, que representou o presidente da Empresa de Pesquisa
Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Baldonedo Napoleão, na
reunião desta terça-feira (30/08/05) da Comissão de Política
Agropecuária da Assembléia. "Ainda não aprendemos a transformar em
dinheiro o conhecimento que temos", disse Marcatti.
O presidente da Comissão, deputado Padre João (PT),
autor do requerimento pela reunião, quis saber como se dá a relação
entre os pesquisadores e os técnicos que estão no campo, dando
orientação, principalmente aos agricultores familiares. "Como esses
pequenos produtores ficam sabendo do resultado das pesquisas? Muitas
vezes eles não têm acesso a uma simples análise de solo!",
questionou o deputado. Alberto Marcatti afirmou que o governador do
Estado reconhece a importância da pesquisa em todas as áreas da
agricultura e pecuária, mas disse que o dinheiro ainda é pouco.
O engenheiro agrônomo Leandro Soares Moreira,
representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura
(Fetaemg), confirmou o que disse o deputado. Na opinião dele, o
número de trabalhos voltados para a agricultura familiar ainda é
muito pequeno. "Precisamos de pesquisas que desenvolvam tecnologias
baratas, que possam ser usadas pelos agricultores mais pobres",
afirmou. O agrônomo também reclamou do número reduzido de técnicos
da Emater à disposição dos municípios.
O diretor regional da Emater, Roberval Juarez de
Andrade, admitiu que uma das discussões dentro do órgão é como fazer
chegar o resultado das pesquisas ao produtor rural. "Mas também
estamos discutindo como fazer pesquisas que realmente interessem aos
agricultores", afirmou. Roberval citou projetos como o Jaíba, o
Programa de Educação Continuada da Emater e o de modernização
administrativa da Secretaria de Estado da Agricultura, como exemplos
do que chamou de "política inteligente" do governo do Estado.
Segundo ele, a visão estratégica do Executivo está voltada também
para o setor agrícola.
Outros desafios e oportunidades para o
setor
Ao lembrar os principais problemas enfrentados pela
agricultura familiar, o deputado Padre João falou também sobre o
desafio da armazenagem: "Muitas vezes as coisas vão bem no plantio,
na produção, mas perde-se tudo na colheita e na hora de guardar o
produto, principalmente o feijão". O presidente da comissão quis
saber se há alguma pesquisa em andamento sobre armazenagem de grãos,
por exemplo, mas não houve resposta dos presentes à reunião.
O deputado Doutor Viana (PFL) também elogiou o
empenho do secretário de Agricultura Silas Brasileiro e destacou um
ponto positivo: que o desenvolvimento da agricultura familiar
estaria evitando o êxodo rural. "Estamos tendo até uma volta das
pessoas para o campo", afirmou. O deputado alertou, no entanto, para
a má utilização dos agrotóxicos no Estado. O deputado defende a
idéia de se realizar na Assembléia um fórum técnico para discutir o
assunto. "Isso é muito sério. Os agricultores continuam usando o
agrotóxico de forma errada, colocando a sua saúde e a dos outros em
risco!"
Já o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) elogiou a
atuação da Epamig, especialmente no Sul de Minas, onde foi instalado
recentemente um centro de vitivinicultura (cultura da uva e do
vinho) na cidade de Caldas, que segundo ele gerou empregos e mais
renda para a região. "Queremos instalar outros centros de referência
como esse, em outras cidades, de acordo com a vocação de cada
região", disse o pesquisador Alberto Marcatti.
Discussão será retomada em nova audiência
O deputado Padre João, quem solicitou a reunião,
lamentou a ausência da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais
(Fapemig), que foi convidada, mas não mandou representantes. Apesar
de ter elogiado as presenças da Epamig, da Emater e da Fetaemg,
Padre João apresentou requerimento, aprovado pela comissão, para que
seja realizada nova reunião sobre o tema. Além da Fapemig, desta vez
ele convida também membros da Embrapa, e das universidades agrárias
do Estado.
Os deputados Doutor Viana e Dalmo Ribeiro Silva
também criticaram a ausência da Fapemig. "É preciso mais interesse
em divulgar o conhecimento que está sendo produzido por eles. A
Fundação vem pouco à Assembléia", ponderou Doutor Viana. Na opinião
do deputado, é preciso saber, de fato, o que falta para que o
resultado das pesquisas possa ser utilizado pelos agricultores
familiares. Foi do deputado Dalmo Ribeiro Silva a idéia de promover
outra reunião e convidá-los novamente. "Se eles não vierem, nós da
comissão vamos até lá", disse ele.
Requerimentos - Também
foram aprovados na reunião os seguintes requerimentos: do deputado
Ricardo Duarte (PT), para realização de audiência pública para
discutir reforma agrária, crédito fundiário e remanescentes do Banco
da Terra; do deputado Carlos Pimenta (PDT), para realização de
reuniões em Montes Claros e Capelinha, onde será avaliada a situação
dos agricultores da região; do deputado Roberto Carvalho (PT), para
um debate público sobre o Pró-Cachaça; e do deputado Márcio Kangussu
(PPS), para uma reunião conjunta com a Comissão de Fiscalização
Financeira e Orçamentária em Teófilo Otoni, onde debaterão a
reabertura do frigorífico Frimusa.
Presenças - Deputados
Padre João (PT), presidente; Doutor Viana (PFL); Doutor Ronaldo
(PDT) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB).
|