Deputados debatem exploração de águas minerais em Caxambu

Quase duzentos trabalhadores da Superágua, empresa que engarrafava água mineral em Caxambu, Cambuquira e Lambari, fic...

29/08/2005 - 00:01
 

Deputados debatem exploração de águas minerais em Caxambu

Quase duzentos trabalhadores da Superágua, empresa que engarrafava água mineral em Caxambu, Cambuquira e Lambari, ficaram sem emprego no último dia 27 de junho. A empresa operava irregularmente, sem licenciamento ambiental, e seu contrato já havia expirado há quase cinco anos. No final de junho, fechou as portas, tornando ainda mais grave o problema de desemprego nas estâncias hidrominerais, que há anos lutam contra a estagnação econômica.

A Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig), empresa estatal que detém os direitos da exploração, está preparando edital de licitação para novos contratos de arrendamento das minas. Para debater o assunto, a Comissão de Meio Ambiente da Assembléia deslocou-se até Caxambu, nesta segunda-feira (29/8/05), para uma reunião no salão de convenções do Palace Hotel. A presença dos deputados foi pedida pelos trabalhadores desempregados e pelas organizações não-governamentais do Circuito das Águas, que desejavam discutir com eles e com as autoridades a inclusão de exigências ambientais no edital, além de alternativas para que a água mineral volte a ser engarrafada.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Laudelino Augusto (PT), é natural de Caxambu, e relembrou os tempos áureos das estâncias, quando a Crenologia e a Crenoterapia eram cadeiras obrigatórias nos cursos de Medicina, e os médicos prescreviam tratamentos à base de águas minerais para seus pacientes. "Nos tempos mais recentes, creio que um lobby da indústria farmacêutica fez retirar dos currículos essas ciências. "Ocorreu também omissão dos poderes estadual, federal e municipais, com o abandono dos parques das águas, até chegar ao fechamento da Superágua", historiou o deputado.

Caxambu tem o maior número de desempregados da Superágua: são 128 famílias sem sustento há dois meses. Em Lambari são 15, e em Cambuquira 30. Esses trabalhadores compuseram a maior parte da platéia no salão de convenções, mas havia também o vereador Márcio Mota, presidente da Câmara de Pouso Alto, cidade onde está em andamento uma concessão para engarrafamento de água mineral. As vozes predominantes, no entanto, foram as dos representantes das seis ongs que compõem o Fórum das Ongs do Circuito das Águas (Focas).

Reynaldo Guedes Neto, que preside o Focas, lembrou que o primeiro edital de licitação para substituição da Superágua, lançado em 2001, não continha a exigência de que as águas fossem exploradas de forma sustentável, e por isso foi impugnado pelas ongs. "Em São Lourenço havia até bombeamento dos aqüíferos, com perda das qualidades medicinais das águas. O Focas foi constituído nessa época, para combater isso e uniformizar objetivos de compromisso com a sustentabilidade acima do interesse econômico", disse ele.

Representantes das Ongs que compõem o Focas sugeriram que a água deixe de ser considerada minério, que pode ser explorado até a exaustão, e ganhe status de bem hídrico especial, ligado à saúde. Criticaram também a pressa em elaborar um edital que em quatro anos não ficou pronto. Alertaram contra a mudança no teor das águas de Caxambu, para melhor, depois que o engarrafamento cessou. Maria do Carmo Santos Pinto denunciou que em Lambari o parque das águas se tornou praça aberta, à mercê dos animais. Maria Antônia Muniz Barreto afirmou que, em 25 anos, a Superágua não se preocupou em fazer a proteção dos mananciais, e pediu que o edital preveja um tempo máximo de 10 anos para a nova concessão.

O prefeito Isaac Rozental afirmou que a riqueza gerada pela indústria da água sempre foi para fora. "Ficamos com as migalhas dos royalties e as ruas quebradas pelo peso das carretas", afirmou. No entanto, disse perceber boa vontade no secretário de Desenvolvimento, Wilson Brumer, que estaria programando um auxílio para as estâncias, e também no DNPM e na Codemig, "Os royalties deviam vir para os municípios que os geram", propôs. Rozental também propôs que seja constituída uma empresa municipal para exploração das águas, com participação dos trabalhadores e dos moradores, sem que houvesse dono, e que as cotas não pudessem passar de 1% por pessoa.

Várias sugestões para reativar o empreendimento foram anotadas pelos deputados, inclusive o convite à Copasa para que participe da licitação, por se tratar de uma empresa cujos cuidados ambientais são exemplares. As formas de cooperativa formada pelos ex-funcionários também foram cogitadas. E uma alternativa de viabilizar a contratação provisória de funcionários, em caráter emergencial, através da Copasa e dos serviços autônomos de águas e esgotos municipais também foi cogitada.

O deputado João Leite (sem partido) relatou seus esforços para que a revitalização das estâncias hidrominerais sejam incluídas no próximo Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), como projeto estruturante do Governo, para que possa receber recursos de forma contínua.

Inauguração da TV Assembléia em Caxambu

A parte inicial da reunião foi dedicada à cerimônia de inauguração da transmissão do sinal da TV Assembléia para Caxambu, integrando-se a outras 220 cidades mineiras. A TV Assembléia está disponível desde ontem pelo canal 19 UHF. Laudelino Augusto, que presidiu o evento, disse que "é um direito da comunidade acompanhar a vida política do Estado". Durante o evento, a programação da TV foi interrompida em Belo Horizonte para a apresentação de um vídeo sobre Caxambu e a notícia do evento.

Presenças: Deputados Laudelino Augusto (PT), presidente, e João Leite (sem partido); Isaac Rozental, prefeito de Caxambu; Luiz Eduardo Machado de Castro, do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM); Hélbio Prereira, da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM); Marcelo Arruda Nassif, diretor da Codemig; Reynaldo Guedes Neto, do Fórum das Ongs do Circuito das Águas (Focas); Bergson Cardoso Guimarães, promotor de Justiça da Comarca; e Luiz Augusto Rodrigues da Silva, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria das Águas Minerais de Caxambu.

 

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