Expansão da Açominas aproxima políticos, comunidade e
empresa
Convocada para discutir os impactos da expansão da
Gerdau-Açominas em Ouro Branco, Conselheiro Lafaiete e Congonhas, a
audiência pública da Comissão de Assuntos Municipais e
Regionalização da Assembléia Legislativa, realizada nesta
quarta-feira (24/8/05), mostrou um consenso entre os participantes:
o de que o processo está sendo conduzido com muito diálogo entre
empresa, autoridades e comunidade. A audiência foi solicitada pelos
deputados Leonardo Quintão (PMDB), Edson Rezende (PT) e Jésus Lima
(PT). A comissão realizou outra audiência sobre o assunto, em junho,
quando foram discutidas as obras de infra-estrutura feitas.
Expansão - A Açominas,
controlada majoritariamente pelo Grupo Gerdau e pelo Clube de
Participação dos Empregados da Açominas (Cea), está desenvolvimento
um projeto de expansão que deve ir até 2007, segundo apresentação do
assessor de planejamento da Diretoria de Recursos Humanos da empresa
e presidente da Cea, Marco Antônio Pepino. O investimento previsto é
de US$ 1,2 bilhão, com geração de 9 mil postos de trabalho no pico
da obra, em junho de 2006, e a estimativa de aproveitamento
permanente de 750 vagas dessas vagas. Serão instalados novos
equipamentos na sinterização, na coqueria e no alto forno. Com isso,
a produção deve aumentar dos atuais 3 milhões de toneladas de aço
líquido/ano, para 4,5 milhões, um aumento de 50%. A Gerdau-Açominas
recolhe atualmente cerca de R$ 450 milhões por ano e a estimativa é
de passar a gerar R$ 600 milhões. O grupo emprega em Minas Gerais
6.053 pessoas e a Açominas, 4.450.
Deputados manifestam preocupação com impacto
social
A reunião foi conduzida em parte pelo deputado
Edson Rezende que manifestou preocupação com o fluxo migratório com
o aumento de empregos temporários, que após o período de pico das
obras, deixam um passivo social grande, representado pela degradação
urbana, saturação na infra-estrutura básica, como moradia,
transporte, saúde, segurança. Ele destacou os exemplos de Nova Lima,
Itabira, com passivos ambientais e sociais muito grandes, como os
trabalhadores acometidos por cilicose, na primeira cidade. Edson
Rezende destacou que a sociedade precisa discutir estes problemas,
considerando, contudo que o desenvolvimento econômico é importante,
"mas sem comprometer a paz".
O deputado Sebastião Helvécio (PDT), que dividiu a
presidência com Edson Rezende, destacou três aspectos de análise que
suscitam uma audiência pública como a realizada: a questão da
renúncia fiscal pelo Estado, que tem beneficiado algumas empresas,
entre elas a Gerdau-Açominas, em 2003, representando diminuição na
arrecadação do ICMS; a necessidade de se repensar o pacto federativo
em relação à distribuição de impostos, com maior participação para
os municípios: e a importância da atuação dos vice-prefeitos numa
gestão compartilhada com o titular do cargo. Sobre a renúncia fiscal
ele ressaltou que a preocupação é com a recomposição salarial dos
servidores públicos estaduais, cuja política de aumentos está
vinculada ao desempenho do ICMS. Sobre o federalismo, Sebastião
Helvécio disse que a União precisa redistribuir melhor os impostos
arrecadados, "deixando uma parcela maior nos municípios, que é onde
a vida se realiza".
A participação da Assembléia nas discussões entre
empresa e comunidade foi destacada pelo deputado Padre João (PT),
que discorreu ainda sobre o processo de redução de impostos
promovido pelo governo mineiro, a princípio visto com desconfiança
pela bancada oposicionista. Mas enfatizou que foi esta política que
permitiu à Gerdau-Açomians um retorno ao Estado, por meio da
expansão que irá gerar empregos. Padre João acredita que ao
contrário da época de implantação da Açominas, a atual expansão não
trará impactos ambientais e sociais.
Lideranças políticas ainda temem
conseqüências
Representando os prefeitos de suas cidades, o
vice-prefeito de Conselheiro Lafaiete, Claudionei Nunes Nascimento,
e a vice de Ouro Branco, Valéria Nunes Lopes apresentaram algumas
dúvidas: o primeiro pediu proporcionalidade na distribuição das
vagas, em relação ao número de habitantes das cidades e ao
recolhimento de ICMS menor para Lafaiete; já a segunda manifestou
preocupação sobre o aumento do tráfego de veículos de carga em Ouro
Branco, à localização de novos alojamentos em perímetro urbano da
cidade, para os trabalhadores temporários, e à incapacidade de
atendimento pelo SUS, às famílias dos trabalhadores contratados. O
secretário de Assistência Social de Congonhas, Ronaldo Dias Assunção
manifestou preocupação de sua cidade com a segurança do patrimônio
histórico, enquanto o presidente da Câmara de Ouro Branco, Edísio
Torres disse que a contratação de mão-de-obra chinesa
representaria um impacto cultural grande nas comunidades.
O assessor de planejamento da Açominas, Marco
Antônio Pepino respondeu aos questionamentos, destacando que a
empresa vai fazer outros encontros com os Executivos municipais e as
Câmaras das três cidades, para conversarem mais e ouvir outras
sugestões.
Sine e DRT - Ele garantiu que as vagas vão ser
preenchidas proporcionalmente, com cadastro do Sine (Sistema
Nacional de Emprego), numa parceria com a Delegacia Regional do
Trabalho (DRT), que deve abrir postos avançados da delegacia nas
três cidades, onde haverá o recrutamento de mão-de-obra para a
expansão da empresa, segundo informações prestadas pelo delegado
regional, Carlos Calazans, também presente à audiência. Sobre o ICMS
disse que o assunto pode ser discutido com a prefeitura. Marco
Antônio Pepino disse que a Açominas vai recuperar as MGs 30 e 443 em
parceria com o Estado e que o impacto de tráfego dentro de Ouro
Branco não é tão grande, já que a empresa tem no transporte
ferroviário 80% de escoamento de sua produção. O assessor deu
explicações ainda sobre política de saúde da Açominas, "a vinda dos
200 técnicos chineses, mão-de-obra altamente qualificada e
transferidora de know how", que virá
paulatinamente e permanecerá por pouco tempo no País, "beneficiando
a rede hoteleira das três cidades", enfatizou.
Presenças - Deputados Edson
Rezende (PT), vice-presidente; Sebastião Helvécio (PDT) e Padre João
(PT). Convidados citados e líderes sindicais e políticos das três
cidades.
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