Professor da UnB diz que crise política é jurídica e não
moral
No segundo painel do Ciclo de Debates "Poder
Legislativo Mineiro e Sociedade - 170 anos", que a Assembléia
Legislativa realiza nesta segunda-feira (22/8/05), o professor de
Direito da UnB, Menelick de Carvalho Netto, falou no painel
"Comportamento e Produção Legislativa", com ênfase na crise política
atual. Ele disse que a crise não é de caráter moral, mas jurídica. E
destacou que ela é uma oportunidade de mudança. O ciclo de debates é
parte das comemorações dos 170 anos do Poder Legislativo mineiro,
que conta ainda com uma exposição de fotos, documentos históricos e
objetos, na Galeria de Artes da Assembléia. O mesmo tema foi
abordado também pelo jornalista e escritor Luciano Martins Costa,
articulista do Observatório da Imprensa, e pelo professor da Fumec,
Eduardo Martins Lima.
Para Menelick de Carvalho, a crise não depende do
bom governo. "O problema é ter instituições fortes que permitam
lidar com os riscos nos momentos dessas crises", disse. O professor
afirmou que a atual crise tem de ser enfrentada com o Direito e a
Constituição. Ele criticou o expediente de renúncia do mandato usado
por alguns políticos como forma de fugir da punição, a cassação do
mandato. "O mandato é do povo, por isso, assim que surge o
escândalo, independentemente de o pedido de cassação já ter sido
feito ou não no Conselho de Ética, o político já perdeu aquele
mandato", enfatizou.
Segundo o professor da UnB, o desrespeito no
comportamento legislativo é crônico, "ajudado por decisões do
Supremo Tribunal Federal". Menelick de Carvalho lembrou que é
preciso discutir "as leis que nos regem e por que nos regem", caso
contrário "não vamos construir uma cidadania completa e a ditadura
vai continuar sob outras vestes, como o abuso de medidas
provisórias, por exemplo", disse.
Imprensa se comporta de forma superficial
Falando também sobre comportamento legislativo, a
cobertura jornalística da crise política foi objeto de uma arguta
análise do jornalista Luciano Martins Costa, para quem a mídia tem
tido uma postura superficial. Lembrando que a crise, como é
oportunidade de renovação para o Congresso Nacional e o Executivo,
deveria sê-lo também para a imprensa. "Estamos vendo esta renovação
por parte das instituições políticas, mas em relação aos
jornalistas, não".
"Não vejo a mesma disposição na imprensa, que não
se critica, que não se permite um processo de autofagia necessário.
A imprensa tornou-se arrogante e deixou de ser referência para a
sociedade", critica. Luciano Martins Costa destaca que a imprensa
não exerce um dos três níveis de sua função, que é o de educar. "Ela
elegeu o mercado como seu protagonista e com isso está menor do que
a sociedade, que o Poder Legislativo, não tem-se mostrado à altura
da sociedade". O jornalista enfatiza que as mídias de interlocução e
a mediadora representadas pelos telejornais têm ficado na superfície
dos acontecimentos, ou "o que é pior, imposto um viés, que
privilegia a lógica do mercado".
Para ele, a sociedade vive a era da intermediação,
pela disponibilidade de tecnologia, pelo acesso cada vez maior à
informação, originando responsabilidade pessoal com o coletivo.
"Hoje ninguém pode alegar ignorância, pois estamos perto da
plenitude da informação. Isso não quer dizer, contudo, que o cidadão
esteja bem informado", destaca.
Assembléia de Minas tem comportamento diferente do
legislativo nacional
Usando dados de uma pesquisa feita na produção das
legislaturas de 1991/1995, 1995/1999 e 1999/2003, o professor da
Fumec, Eduardo Martins Lima, garantiu que o Poder Legislativo
mineiro tem um comportamento mais independente em relação ao
Executivo. Ele credita a situação à peculiaridade da Assembléia
mineira, que tem um corpo técnico mais preparado, à interiorização
de suas atividades e à permanente busca do diálogo com a sociedade,
refletida nos diversos fóruns técnicos, seminários, ciclos de
debates e na criação recente da Comissão de Participação
Popular.
Eduardo Martins disse que a pesquisa mostrou que
nas três últimas legislaturas a presença da Assembléia na
apresentação de proposições, na finalização e sua conseqüente
transformação em leis tem crescido, em relação à participação do
Executivo. Enquanto o Executivo apresentou 32% das proposições de
1991/1995, 27% na de 1995/1999 e de 19% na de 1999/2003, a
Assembléia teve 62%, 71% e 78%, apreciadas, respectivamente, "e não
são proposições de utilidade pública ou nomes de próprios públicos",
enfatizou.
Na fase de debates, o professor Octávio Dulci
respondeu a questões sobre se a crise política afeta a Assembléia.
Ele disse que afeta de forma positiva, porque é uma oportunidade de
poder melhorar. Já Luciano Martins Costa acrescentou que a imprensa
tem dado apoio episódico à redemocratização do País, "enquanto
deveria dar um apoio sistêmico".
Debates - Após as
palestras, na fase de debates, o deputado André Quintão (PT)
destacou, como fatores positivos para o Parlamento mineiro, a
intensificação das ações de acompanhamento da execução orçamentária
do Estado e a crescente interferência na tramitação projetos de
autoria do Executivo, mediante o debate mais aprofundado e a
apresentação de emendas. André Quintão ressaltou, no entanto, que
esse aprimoramento não tem sido acompanhado por uma melhoria na
imagem do Legislativo, uma vez que a mídia continua privilegiando
uma abordagem essencialmente negativa do Poder.
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