Ciclo de debates conta a história dos 170 anos do Legislativo mineiro

A evolução institucional, a participação popular e uma composição que reflete a variedade da sociedade brasileira. Es...

22/08/2005 - 00:03
 

Ciclo de debates conta a história dos 170 anos do Legislativo mineiro

A evolução institucional, a participação popular e uma composição que reflete a variedade da sociedade brasileira. Esses foram os três aspectos destacados pelo cientista político Octávio Dulci como importantes na história recente da Assembléia, na abertura do Ciclo de Debates "Poder Legislativo mineiro e sociedade", nesta segunda-feira (22/8/05) pela manhã. O ciclo integra a série de eventos programados para comemorar os 170 anos do Legislativo. "É talvez o período mais brilhante da vida da Assembléia", afirmou, ao se referir aos últimos 20 anos. Dulci e a historiadora Maria Auxiliadora de Faria produzem um livro sobre os 170 anos, a ser lançado em novembro.

O pioneirismo em informatização e na transmissão dos trabalhos pela TV Assembléia foram destacados por Dulci e por Maria Auxiliadora, além de mencionados pelo ex-presidente da Casa, deputado Antônio Júlio (PMDB), que representou o presidente Mauri Torres. Ele lembrou que quem acompanha de perto as atividades do Poder sabe que a ALMG é considerada uma das mais eficientes e dinâmicas casas legislativas do País. "O Parlamento se estruturou e consolidou diretrizes sintonizadas com as demandas sociais", ressaltou Antônio Júlio, ao citar o suporte material e humano ao trabalho parlamentar, a atuação da Comissão de Participação Popular, ciclos, fóruns e seminários, interiorização das ações, expansão da TV Assembléia e cursos para agentes públicos.

Uma história de avanços e retrocessos

Uma longa trajetória, com tropeços, momentos de glória e frustração. Assim definiu a história da Assembléia a ex-professora do Departamento de História da UFMG Maria Auxiliadora de Faria, doutora em História Social. Instalado em 31 de janeiro de 1835, o Poder Legislativo mineiro, destacou ela, reflete o caminhar do próprio Estado e do Brasil. "É uma história pendular, que alterna momentos de centralização, como no Império, com outros marcados pela descentralização, na época da Primeira República até 1947", informou. Momentos de grande autonomia, como os atuais, com os de restrição das atividades, no período ditatorial, também são parte dessa trajetória.

Maria Auxiliadora e o professor do Departamento de Ciências Sociais da UFMG Octávio Dulci, que é doutor em Ciência Política, alternaram-se na descrição da história do Poder Legislativo. Ela lembrou que, no Império, as Assembléias Provinciais eram decorativas, funcionavam apenas dois meses por ano e só podiam votar os orçamentos. Viviam sob as amarras de um governo imperial centralizador e eram formadas por uma elite agrária e intelectual, integrada predominantemente por padres - que não eram remunerados.

Com a República, foi-se do extremo da centralização para o extremo da descentralização, relatou a historiadora. A partir de 1891, a Assembléia tornou-se bicameral (com a Câmara dos Deputados e o Senadinho), e os deputados, com mais autonomia, discutiram grandes temas como o desenvolvimento econômico, a cultura, a educação. Manteve-se, no entanto, a herança do Império das fraudes eleitorais. Antes da ditadura do Estado Novo, que fechou as Assembléias e o Congresso Nacional, o Legislativo mineiro votou a Constituição de 35 - inovadora, na opinião de Dulci. Ela previa, de maneira clara, a iniciativa popular de lei com um critério baixo de assinaturas.

Com a ditadura do Estado Novo, a Assembléia teve as atividades suspensas por dez anos: de 1937 a 1947, quando houve nova constituinte. Do período que vai de 1947 até 1964, quando houve o golpe militar, a ALMG viveu um período com disputas notáveis entre o PSD e a UDN. "Eram debates inacreditáveis, alguns brilhantes", revelou Octávio Dulci aos participantes do evento, apesar de ressaltar que, em Minas, a disputa política sempre foi mais moderada. Discutia-se tudo e alguns dos temas principais debatidos pelos deputados eram a reforma agrária e as terras devolutas.

O período militar, que se seguiu a essa época, foi abordado por Maria Auxiliadora, que pontuou "a página infeliz de sua história", referindo-se à cassação dos deputados Clodesmidt Riani, Sinval Bambirra e Dazinho no começo de abril de 1964, logo após o golpe. Com relação a esse episódio, Octávio Dulci lembra que, apesar dos relatos de forte pressão dos militares, havia também a hostilidade da maioria dos deputados contra os três parlamentares sindicalistas. Segundo ele, isso contribuiu para fazer com que a Assembléia se antecipasse a qualquer sanção que viesse de Brasília. O período ditatorial foi marcado por um funcionamento consentido dos órgãos legislativos e pela inexistência de decisões por parte da ALMG. Maria Auxiliadora lembrou que a Casa tentou, por diversas vezes depois, se redimir dessa "atitude lamentável".

Presenças - Participaram da abertura do evento - que lotou o Plenário com a presença de universitários - os convidados citados, além dos deputados Antônio Júlio (PMDB), que presidiu os trabalhos; Fábio Avelar (PTB) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que compuseram a Mesa.

 

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