CPI da Mina Capão Xavier começa a apreciar relatório final

A CPI da Mina Capão Xavier irá examinar uma versão preliminar do relatório final nesta quinta-feira (25/8/05), às 10 ...

24/08/2005 - 00:01
 

CPI da Mina Capão Xavier começa a apreciar relatório final

A CPI da Mina Capão Xavier irá examinar uma versão preliminar do relatório final nesta quinta-feira (25/8/05), às 10 horas. O relatório final deverá ser votado na próxima terça-feira (30). Segundo o relator da comissão, deputado Domingos Sávio (PSDB), o relatório será objetivo, com um capítulo sobre o funcionamento do processo de licenciamento ambiental no Estado; uma análise do problema específico de Capão Xavier, com todas as etapas do empreendimento e ações na Justiça; e um relato das investigações e debates na comissão. Nas conclusões, Domingos Sávio pretende estabelecer níveis de responsabilidade e apresentar sugestões para o aperfeiçoamento do sistema de licenciamento.

A CPI da Mina Capão Xavier foi constituída no dia 3 de março de 2005 para apurar a regularidade dos processos de licenciamento prévio, instalação e de operação das atividades da MBR no Estado de Minas Gerais, bem como do julgamento dos recursos dos autos de infração atribuídos àquela mineradora. A comissão foi criada a requerimento do deputado Antônio Andrade (PMDB) e outros. Iniciou seus trabalhos no dia 3 de março de 2005, realizou 14 reuniões ordinárias e três extraordinárias, ouviu 21 testemunhas e fez uma visita técnica às instalações da mineração. É composta pelos deputados Márcio Kangussu (PPS) - presidente; Biel Rocha (PT) - vice-presidente; Domingos Sávio (PSDB) - relator; Antônio Júlio (PMDB); Dinis Pinheiro (PSDB) e Leonardo Moreira (PL).

Capão Xavier é um empreendimento da MBR em Nova Lima que conta com uma reserva de 173 milhões de toneladas de minério de alto teor de ferro, uma das últimas reservas de alto teor do Quadrilátero Ferrífero, com previsão de exploração de 22 anos, com 8 milhões de toneladas/ano, representando 20% da produção da empresa. Ela entrou em operação no segundo semestre de 2004, depois que o Tribunal de Justiça derrubou liminar de 1ª instância que impedia o funcionamento e após várias reuniões da Comissão de Meio Ambiente com técnicos, Ministério Público e moradores.

Confira um resumo dos depoimentos

14 de abril - A primeira reunião com convidados durou mais de cinco horas. Os deputados ouviram o funcionário público Gustavo Gazzinelli e o corretor Ricardo Santiago. Militantes da causa ambientalista, os dois foram os primeiros a recorrer à Justiça para tentar impedir a operação da Mina de Capão Xavier. Em dezembro de 2003, ajuizaram uma ação popular questionando o processo de licenciamento ambiental da mina, que pertence à Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), subsidiária da Companhia Vale do Rio Doce. Eles apontaram a possibilidade de redução na vazão de água dos manaciais e rebaixamento na classificação da qualidade da água.

26 de abril - O promotor Fernando Galvão, da Curadoria de Proteção ao Meio Ambiente apontou o que acredita serem falhas e omissões no parecer da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que balizaram o licenciamento para operação da Mina Capão Xavier. O promotor é um dos autores da ação que tramita na 5ª Vara da Fazenda Pública Ambiental de Minas Gerais, contra a exploração da mina. Entre os problemas citados está a falta de um plano de gestão hídrica que demonstre a garantia de abastecimento de água para os moradores do bairro Jardim Canadá, em Nova Lima.

28 de abril - O procurador-chefe da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Joaquim Martins da Silva Filho, refutou qualquer possibilidade de irregularidade no licenciamento ambiental da Mina de Capão Xavier. Ele também negou interferências políticas e econômicas pela aprovação do licenciamento ambiental e garantiu que seu parecer jurídico favorável ao empreendimento foi baseado nos relatórios técnicos avalizados pela própria Feam. Em sua opinião, o licenciamento de Capão Xavier obedeceu à Lei Estadual 10.793, de 1992, que proíbe a instalação, em bacias de mananciais, de empreendimentos que comprometam os padrões mínimos de qualidade das águas.

O procurador do Estado César Raimundo da Cunha, também ouvido no dia 28 de abril, esclareceu que a Advocacia Geral do Estado (AGE) concluiu não haver ilegalidade no licenciamento ambiental de Capão Xavier. De acordo com César, os pareceres técnicos da Feam e do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) recomendaram a liberação de Capão Xavier por causa da anuência da Copasa e da PBH. Foi com base em informações técnicas fornecidas pelos órgãos ambientais do Estado que a AGE também emitiu parecer favorável à mineração.

5 de maio - O ex-gerente regional do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em Barbacena, Inácio Pereira Garcia Júnior negou que tenha desconsiderado a exigência de reserva legal de no mínimo 20% da área florestal quando autorizou o desmatamento para construção da estrada que liga a Mina Capão Xavier à BR-040.

12 de maio - A diretora de Instrumentalização e Controle do Instituto de Gestão das Águas (Igam), Célia Maria Fróes, negou qualquer irregularidade no parecer do órgão. O assessor da Diretoria de Operação Metropolitana da Copasa, Rômulo Tomáz Perilli, garantiu que o abastecimento de água em Belo Horizonte não sofrerá qualquer impacto.

19 de maio - O ex-superintendente jurídico da Copasa, Pedro Scapolatempore, afirmou que a Lei 10.793, de 1992, que trata da proteção de mananciais para abastecimento público no Estado, não foi descumprida no processo de licenciamento ambiental da mina. A lei, que dispõe sobre a proteção de mananciais destinados ao abastecimento público no Estado, diz, no artigo 4º, que é vedada a instalação, nas bacias de mananciais, de projetos ou empreendimentos que comprometam os padrões mínimos de qualidade das águas, entre eles, a atividade extrativa vegetal ou mineral. É a expressão "padrões mínimos de qualidade das águas" que, segundo Scapolatempore, mostra que a lei não está sendo desrespeitada.

24 de maio - Nevoeiro com chuva fina prejudicou a visibilidade na Mina de Capão Xavier, prejudicando a visita dos deputados da CPI e da Comissão de Meio Ambiente. O gerente de meio ambiente da MBR, Leandro Quadros Amorim, e o engenheiro responsável pela mina, Marco Aurélio Amaral, prestaram informações aos deputados. Marco Aurélio Amaral disse que, para secar o minério e permitir a sua exploração, a MBR perfurou um poço com 200 metros de profundidade, e dele bombeia 230 metros cúbicos de água límpida por hora, e que essa água vai por tubulação até o sistema da Copasa no viaduto da Mutuca, sendo suficiente para abastecer três bairros da região. Técnicos que acompanharam a visita alertaram que o empreendimento não tem licença do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) para rebaixar o lençol freático até onde pretende.

2 de junho - O advogado Otávio Gonçalves Freitas, um dos autores de ação popular contra a MBR, e a representante da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Zuleika Chiacchio Torqueti, posicionaram-se de formas opostas em relação ao licenciamento. Freitas questionou diversos aspectos legais e técnicos que teriam sido ignorados pelos órgãos ambientais do Estado ao conceder a licença para funcionamento da mina, ao passo que a técnica da Feam afirmou que todos os requisitos pertinentes foram considerados no caso.

9 de junho - O ex-procurador da Prefeitura de Belo Horizonte Marco Antônio de Resende Teixeira disse que a ação do município limitou-se a autorizar a servidão de passagem para construção da estrada que leva à mina, condicionando essa autorização ao licenciamento ambiental pelos órgãos estaduais competentes e ao melhor projeto para a exploração da mina. Segundo ele, a recusa da PBH seria uma ação completamente inadequada, sujeitando o município a ver seu direito de uso e gozo sobre a área suspenso pela Justiça ou a ter que indenizar a mineradora.

16 de junho - O frei Gilvander Luís Moreira, do Movimento Capão Xavier Vivo, defendeu a paralisação do empreendimento da MBR em Capão Xavier para que os quatro mananciais de água - Fechos, Catarina, Mutuca e Barreiro - sejam preservados. Também ouvido, o subsecretário de Estado de Desenvolvimento Minerometalúrgico e de Política Energética, Fernando Lage de Melo, informou que é um dos representantes da Secretaria de Desenvolvimento Econômico no Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Ele explicou que, desde 2003, participa da Câmara de Atividades Minerárias, que entendeu, por unanimidade, em três reuniões, que o empreendimento da MBR cumpre a legislação ambiental em Minas Gerais.

23 de junho - O presidente da Associação dos Municípios Mineradores (Amig), Waldir Salvador de Oliveira, prefeito de Itabirito, disse à CPI da Mina Capão Xavier que o projeto da mina é correto nos aspectos ambiental e social. A geóloga Valéria Caldas, da Copasa, disse que foi firmado um termo de compromisso que prevê a obrigação da MBR adotar medidas compensatórias para mitigar quaisquer impactos negativos do empreendimento, além de relatórios anuais. A geóloga explicou que todos os estudos realizados não apontaram a possibilidade de comprometimento da qualidade da água. Segundo ela, a preocupação maior é com a vazão, que poderá ser compensada pela empresa.

30 de junho - Em reunião que durou quase quatro horas, os geólogos João Henrique Grossi Sad, membro do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), e Leandro Quadros Amorim, gerente de Meio Ambiente da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), refutaram informações sobre o risco de desabastecimento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte por causa da exploração da mina de Capão Xavier e defenderam o empreendimento.

4 de agosto - O coordenador da Promotoria do Meio Ambiente da Bacia do Rio São Francisco, promotor Carlos Eduardo Dutra Pires criticou o processo de licenciamento da Mina Capão Xavier. Ele não concorda que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para grandes empreendimentos minerários seja elaborado por uma empresa escolhida e contratada pela mineração. Na opinião de Pires, o Estado é quem deveria indicar as empresas ou entidades para fazer esse estudo. O funcionário da MBR, Carlos Eduardo Leite Santos, supervisor de Reabilitação Ambiental da MBR falou sobre incidente ocorrido na Estação Ecológica de Fechos em fevereiro de 2005, quando autoridades ambientais lavraram um Boletim de Ocorrência, a pedido da geóloga Valéria Caldas Barbosa, da Copasa, sobre intervenção ilegal feita pela mineradora em área de preservação permanente. De acordo com Carlos Eduardo Leite, que assinou a ocorrência em nome da empresa, tudo não teria passado de um erro motivado pela inexistência de cerca divisória entre a área de propriedade da MBR, onde está localizada a mina de Tamanduá, e a Estação Ecológica de Fechos.

 

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