Polêmica sobre programa Luz para Todos movimenta reunião
Na reunião destinada a debater a implantação do
Programa Luz para Todos, representantes principalmente do Norte de
Minas reclamaram da demora na eletrificação das propriedades rurais
na região. Também na audiência, que durou mais de cinco horas, foi
apresentada pelo deputado Irani Barbosa (PL) a denúncia de que a
Cemig teria superfaturado o valor das obras de eletrificação no
programa. O engenheiro da Cemig, Fernando Schuffner, gestor do Luz
para Todos por parte da empresa, rebateu todas as acusações. Esses
foram os principais pontos debatidos na audiência pública conjunta
das comissões de Participação Popular e de Defesa do Consumidor e do
Contribuinte, que lotou o Auditório da Assembléia Legislativa, nesta
terça-feira (9/8/05).
Segundo Irani Barbosa, o valor do custo de cada
ligação efetuada pela Cemig, previsto no início do programa em R$
3.600,00, subiu para R$ 9.600,00. Na opinião dele, a Cemig, na
licitação para contratar empresas que executariam as obras, teria
superfaturado o contrato em 35%, visando beneficiar essas
empreiteiras, o que teria gerado um prejuízo de R$ 3 bilhões para o
Estado. Para responder à acusação, Schuffner fez um histórico do Luz
para Todos, que tem como meta em Minas efetuar 176 mil ligações para
universalizar a eletrificação, atingindo as 830 mil residências
rurais no Estado. Ele registrou que os R$ 3.600,00, negociados entre
a Cemig e o governo federal em outubro de 2003, só seriam válidos
para as 72 mil ligações iniciais (com prazo de conclusão até
dezembro de 2004, prorrogado até dezembro de 2005), e para cidades
próximas da rede.
Devido ao aumento dos preços dos materiais e da
mão-de-obra, o custo médio das ligações ficaria hoje, segundo o
executivo, na faixa de R$ 7 mil. Como as 104 mil ligações restantes,
a serem feitas até dezembro de 2006, correspondem a municípios mais
distantes da rede, o valor chegaria aos R$ 9.060,00. Schuffner
afirmou também que o processo de concorrência foi limpo e
acompanhado diretamente pelo Ministério Público (MP), Tribunais de
Contas (TCMG) e de Justiça de Minas Gerais (TJMG). "Estamos
totalmente tranqüilos quanto às denúncias. Temos todas as
informações para esclarecer isso. Nossa preocupação é de fazer obras
da forma mais barata possível", reforçou.
Deputados questionam prioridades da Cemig
Já o deputado Jésus Lima (PT) , que requereu a
reunião junto com André Quintão (PT) e as deputadas Maria Tereza
Lara (PT) e Elisa Costa (PT), resumiu o problema com a eletrificação
no Norte de Minas e nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Segundo
ele, só no município de São Francisco, cerca de 4 mil famílias não
têm energia elétrica, utilizando lamparinas para a iluminação. Na
opinião do parlamentar, está havendo uma inversão de prioridades,
com a eletrificação mais rápida do Sul e em outras regiões mais
ricas do Estado em detrimento das regiões mais pobres. Para Jésus,
os critérios quanto à priorização precisam ser revistos. Também o
deputado Carlos Pimenta (PDT) questionou os motivos de o cronograma
do Luz para Todos estar atrasado em Minas.
Reforçando esse ponto, o secretário Municipal de
Agricultura e Meio Ambiente de São Francisco, Márcio Passos Ribeiro,
disse que, desde 2004, os agentes do Luz para Todos visitam o
município e passam cronogramas de obras, que nunca são cumpridos.
Ele questionou por que a Cemig não prioriza os municípios com maior
demanda de eletrificação e nem aqueles mais distantes.
Fernando Schuffner informou que a primeira parcela
de recursos do governo federal só chegou em agosto de 2004 e que,
somente aí, a Cemig começou a fazer as ligações. Para realizar as
obras mais rapidamente, a Cemig dividiu o Estado em quatro áreas e
decidiu abrir a licitação para contratar empresas. Das dez
inscritas, três saíram ganhadoras: as empreiteiras Odebrecht,
Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão. Mas as perdedoras entraram com
recurso em novembro de 2004. Apenas depois da decisão judicial, em
julho de 2005, é que as obras foram retomadas, provocando novo
atraso.
Critérios - Respondendo a
um questionamento do deputado João Leite (sem partido) quanto aos
critérios de priorização das ligações, o diretor da Cemig falou que
foi seguida uma norma da Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel). O documento prevê que, dos 774 municípios cobertos pela
Cemig, 401 devem ser priorizados em 2005, baseado no critério de dar
preferência aos municípios onde faltam poucas residências para
eletrificar. Dessa forma, os outros 373 ficariam para 2006. Nesse
sentido, a deputada Elisa Costa sugeriu que a Cemig disponibilizasse
para a ALMG os critérios adotados para a eletrificação do Estado.
Outra dificuldade apontada por Schuffner seria com a Eletrobras, que
teria repassado à Cemig para realizar as 72 mil ligações de 2005
apenas R$ 192 milhões, sendo que são necessários, de acordo com ele,
R$ 550 milhões.
Concessionária que não cumprir prazo será punida
O diretor do Luz para Todos no Ministério das Minas
e Energia, Paulo Tadeu da Silva, informou que, quando o programa foi
criado, não eram previstas punições para a concessionária que não
cumprisse os prazos de eletrificação. Mas, segundo ele, uma
resolução da Aneel está em fase de audiência pública e brevemente
vai passar a vigorar estabelecendo pesadas punições para o não
cumprimento de prazos. Paulo Tadeu disse que a meta nacional do
programa é atingir 2 milhões de famílias até 2008, aplicando um
total de recursos de R$ 7,7 bilhões. Ele ressalvou que em Minas não
há possibilidade de adiar o prazo de 2006, estabelecido pelo governo
federal e aceito pelo estadual.
O assessor da Companhia Força e Luz Cataguases
Leopoldina, Newton Dutra, destacou que a empresa só tem quatro
cidades com menos de 85% de eletrificação na área rural. As metas
estabelecidas para a empresa são de 3.500 ligações em 2005 e 3 mil
em 2006. Em 2004, foram eletrificadas 1600 propriedades. Dutra
declarou que essas metas serão totalmente cumpridas.
Requerimentos - Foram
aprovados três: das deputadas Maria Tereza Lara, Elisa Costa e dos
deputados Jesus Lima, Carlos Gomes (PT) e Carlos Pimenta, em que
requerem envio de ofício ao presidente da Cemig, Djalma Moraes,
solicitando o atendimento prioritário aos municípios com maior
carência de eletrificação; do deputado Edson Resende (PT), pedindo a
criação de uma comissão suprapartidária para acompanhar o
gerenciamento do Luz para Todos; das deputadas Maria Tereza Lara e
Lúcia Pacífico (sem partido) e dos deputados Jesus Lima, João Leite
e Carlos Pimenta, requerendo que seja encaminhado ao TJMG, ao MP, ao
TCMG, à Auditoria-geral do Estado e à Auditoria da Cemig pedido de
possíveis informações sobre denúncias formuladas pelo deputado Irani
Barbosa quanto ao superfaturamento e direcionamento de obras do
programa.
Presenças - Deputadas Maria Tereza Lara (PT),
presidente da Comissão de Participação Popular, Lúcia Pacífico (sem
partido), vice-presidente da Comissão de Defesa do
Consumidor e do Contribuinte, e Elisa Costa (PT); e os deputados Carlos
Pimenta (PDT), Jésus Lima (PT), João Leite (sem partido), Irani
Barbosa (PTB), Edson Rezende (PT), Carlos Gomes (PT) e Adelmo
Carneiro Leão (PT). Também participaram o presidente da Associação
de Vereadores da Área Mineira (Adene), Luiz Rocha Neto.
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