CPI da Mina Capão Xavier ouve promotor e funcionário da MBR

Na sua primeira reunião após o recesso parlamentar, a CPI da Mina Capão Xavier ouviu, nesta quinta-feira (4/8/05), do...

04/08/2005 - 00:00
 

CPI da Mina Capão Xavier ouve promotor e funcionário da MBR

Na sua primeira reunião após o recesso parlamentar, a CPI da Mina Capão Xavier ouviu, nesta quinta-feira (4/8/05), dois convidados: o coordenador da Promotoria do Meio Ambiente da Bacia do Rio São Francisco, promotor Carlos Eduardo Dutra Pires, atendendo a requerimento do deputado Antônio Júlio (PMDB); e o funcionário da MBR, Carlos Eduardo Leite Santos, a requerimento do deputado Adalclever Lopes (PMDB).

O promotor Carlos Eduardo Dutra Pires afirmou que não tecia críticas específicas ao licenciamento ambiental da Mina Capão Xavier, da MBR, mas ao processo como um todo. Ele não concorda que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para grandes empreendimentos minerários seja elaborado por uma empresa escolhida e contratada pela mineração. Na opinião de Pires, o Estado é quem deveria indicar as empresas ou entidades para fazer esse estudo. O promotor ressalva que essa exigência não valeria para pequenos empreendimentos, mas só para os de grande impacto ambiental.

Passivo ambiental - O relator da CPI, deputado Domingos Sávio (PSDB), perguntou ao promotor se haveria entre os empreendimentos da MBR algum que, devido ao grande dano ambiental provocado, justificaria a paralisação das atividades. Carlos Eduardo Pires respondeu que "não concordaria com novos empreendimentos da empresa sem a recuperação das áreas exploradas anteriormente", devido ao grande passivo ambiental deixado pela mineradora. Ele exemplificou com a Mina do Tejuco, em Brumadinho, onde a mineração realizada por mais de 30 anos provocou vossorocas (buracos causados pela erosão), levando grande quantidade de terra para o Rio Paraopeba. Diante do quadro, o promotor conseguiu junto à MBR a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), em que a empresa se comprometeu a reabilitar a área.

O promotor Dutra Pires enfatizou a diferença entre reabilitação e recuperação de locais ambientalmente degradados. De acordo com ele, em casos de impacto ambiental muito profundo, não há como recuperar totalmente a área, fazendo com que ela retorne à condição anterior ao empreendimento. São feitas apenas algumas melhorias e adotadas medidas de compensação.

Socialização de prejuízos x concentração de lucros

Outra questão levantada pelo promotor foi a compensação recebida pelo poder público das empresas mineradoras. "O que a União, os Estados e municípios recebem é uma vergonha", lamentou, caracterizando essa prática como uma socialização de prejuízos com a sociedade e uma concentração dos lucros pelos grupos mineradores. Nesse sentido, o deputado Domingos Sávio lembrou o projeto em tramitação na ALMG que cria a caução como garantia real para projetos de grande impacto ambiental, e perguntou ao promotor se essa seria uma solução para o problema. Carlos Eduardo Pires concordou que a caução seria uma boa medida, sugerindo que o pagamento se desse não de uma única vez, mas mensalmente, retirando-se uma parcela do lucro da empresa.

Qualidade da água - O vice-presidente da CPI, deputado Biel Rocha (PT), lembrou que em Capão Xavier um dos passivos ambientais será a redução da qualidade da água, que passaria de Classe Especial para Classe 2. "Após a desativação da mina, a Copasa terá que gastar com o tratamento dessa água, que perdeu qualidade devido à mineração", reforçou Biel. O deputado Antônio Júlio rememorou uma CPI realizada em 1975 pela Assembléia para investigar as atividades minerárias da MBR e da Companhia Vale do Rio Doce. Segundo ele, várias recomendações foram feitas às empresas, mas elas nada fizeram, levando o parlamentar a concordar com o promotor quanto à pouca preocupação da MBR quanto ao seu passivo ambiental.

Engenheiro da MBR explica intervenção em reserva florestal

O segundo depoente a ser ouvido pela CPI foi o engenheiro florestal Carlos Eduardo Leite Santos, supervisor de Reabilitação Ambiental da MBR. Ele foi convidado, a requerimento do deputado Adalclever Lopes (PMDB), para prestar esclarecimentos sobre incidente ocorrido na Estação Ecológica de Fechos em fevereiro de 2005. Naquela data, conforme documento entregue à comissão pelo frei Gilvander Luís Moreira, do Movimento Capão Xavier Vivo, autoridades ambientais lavraram um Boletim de Ocorrência, a pedido da geóloga Valéria Caldas Barbosa, da Copasa, sobre intervenção ilegal feita pela mineradora em área de preservação permanente.

Erro da empresa - A intervenção consistiu na raspagem da vegetação e movimentação de terra para nivelamento do terreno em uma área de 2 mil metros quadrados, dentro dos limites da reserva de Fechos e próximo a curso d'água, para instalação de uma plataforma de sondagem para prospecção minerária. De acordo com Carlos Eduardo Leite, que assinou a ocorrência em nome da empresa, tudo não teria passado de um erro motivado pela inexistência de cerca divisória entre a área de propriedade da MBR, onde está localizada a mina de Tamanduá, e a Estação Ecológica de Fechos. Ele disse que três dias após ter sido comunicado da irregularidade visitou a região em companhia de técnicos da Copasa e do Parque Estadual da Serra do Rola Moça e de autoridades ambientais, quando o erro foi constatado e verbalizado o embargo de qualquer atividade de mineração na área.

O auto de infração foi emitido e a MBR multada em R$ 1,1 mil. Segundo Carlos Eduardo Leite, as atividades de implantação da plataforma foram imediatamente suspensas e a empresa iniciou o trabalho de recuperação do local. Na sua avaliação, a evolução da recuperação tem sido "boa" e a nova vegetação deverá ter desenvolvimento mais rápido no período das chuvas.

Respondendo indagações do relator da CPI, deputado Domingos Sávio, o supervisor da MBR disse que para evitar novos erros a área está sendo cercada, com base nos limites que constam em memorial descritivo do decreto de implantação da reserva ecológica. Ele disse também que a mineradora é proprietária de uma área contínua de 24 mil hectares entre a região da Mutuca e do Pico do Itabirito, e que não há cercas apenas onde não há divisores naturais como córregos e cumes de serras.

Presenças - Deputados Márcio Kangussu (PPS), presidente; Domingos Sávio (PSDB), relator; Antônio Júlio (PMDB), Biel Rocha (PT) e Dinis Pinheiro (PSDB).

 

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