Convidados reivindicam regulamentação de política contra hanseníase

O coral Tangarás Santa Izabel, considerado pela comunidade a "prata da casa" da colônia de mesmo nome, em Betim, abri...

28/06/2005 - 00:00
 

Convidados reivindicam regulamentação de política contra hanseníase

O coral Tangarás Santa Izabel, considerado pela comunidade a "prata da casa" da colônia de mesmo nome, em Betim, abriu a reunião desta terça-feira (28/6/05) das Comissões de Saúde e de Participação Popular da Assembléia Legislativa, que cobrou a regulamentação da Política Estadual Preventiva contra a Hanseníase e de Combate ao Preconceito. As músicas cantadas por 22 dos 40 integrantes do coral revelaram-se uma forma de demonstrar um pouco do preconceito de que são vítimas os portadores da hanseníase, bem como a desinformação sobre a doença - que, em 70% dos casos, não é contagiosa e tem um tratamento fácil e rápido.

Ao final da reunião, a deputada Maria Tereza Lara (PT) disse que apresentará requerimento a fim de reivindicar formalmente do governador e da Secretaria de Estado da Saúde (SES) a regulamentação da Lei 15.439, de janeiro deste ano, que instituiu a política contra a hanseníase. A proposta de regulamento discutida com os segmentos envolvidos pela deputada, autora do projeto que deu origem à lei, privilegia a disseminação de informações pelos meios de comunicação. Também determina que o Estado estimulará a participação das comunidades nas atividades assistenciais, educativas e sociais que busquem eliminar a doença, ainda considerada um problema de saúde pública. O Estado deverá implantar também a Rede de Atenção em Hanseníase no SUS, prevendo atenção domiciliar pelas equipes dos programas de Saúde da Família.

Secretaria da Saúde afirma que números sobre a doença melhoraram

A coordenadora de Hanseníase da SES, Maria Aparecida Grossi, apresentou vários números sobre a doença no mundo e no Brasil. Segundo ela, em 2004 foram registrados 49 mil novos casos no País (um a cada 13 minutos). Em Minas, foram 3.132 novos casos. Ao final do ano, havia 4.146 doentes em tratamento no Estado, o que aponta uma relação de 1,2 casos/10 mil habitantes, se forem observados critérios da Organização Mundial de Saúde. Em 1991, a proporção era de 22 casos/10 mil habitantes. A relação ideal é de 1/10 mil.

Apesar desses números, Maria Aparecida Grossi reconhece que ainda há o problema dos casos não diagnosticados. Em 336 municípios não haveria, segundo as estatísticas da SES, registros de hanseníase. Outro número diz respeito à concentração dos casos diagnosticados: em oito municípios, a relação seria de mais de 20 casos/10 mil habitantes. São José do Divino, no Rio Doce, apresenta a estatística de 71 casos/10 mil habitantes e Cachoeira Dourada, no Triângulo, de 60/10 mil. Em Minas, 16 municípios foram considerados prioritários para atuação da Secretaria, já que eles concentram 53% dos doentes do Estado.

Discordância - O vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Nicodemos de Arimatéia, apontou a hanseníase como um indicador para baixas condições de assistência à saúde de uma região. "A presença da doença é um indicador de país de Terceiro Mundo", analisou. Ele apontou Minas e Pará como estados campeões em novos casos, além de criticar a falta de diagnóstico para a doença. Maria Aparecida Grossi afirmou, no entanto, que o combate à doença em Minas vem melhorando significativamente desde 1997. Ela defendeu que o Estado não é mais campeão em novos casos de hanseníase. "Nunca tivemos taxas nem sequer parecidas com as do Pará", disse.

Convidados pedem solução para situação dos ex-bolsistas da Fhemig

A coordenadora do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Maria Francisca de Ávila, lembrou os tempos difíceis da Colônia Santa Izabel, quando havia correntes para separar sadios dos doentes e não havia liberdade para, segundo ela, "reclamar de nada". Francisca chegou à colônia aos oito anos.

Tanto ela quanto Eni Carajá, outro representante do Morhan, reivindicaram agilidade dos deputados na análise do Projeto de Lei (PL) 2.063/05, do governador, que visa resolver a situação dos portadores de hanseníase que, há muitos anos, trabalham regularmente em sanatórios da Fhemig, mas não são considerados servidores públicos por não serem concursados. Há 362 pessoas nessa situação. O projeto já foi aprovado pelo Plenário em 1º turno e agora aguarda designação de relator na Comissão de Administração Pública, para parecer de 2º turno.

Edna Moura Carvalho, da Diretoria Hospitalar da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), defendeu a regulamentação da lei e elogiou a nova norma. É a rede Fhemig que administra as cinco ex-colônias do Estado que tratam dos hansenianos: Santa Izabel, em Betim; Padre Damião, em Ubá; Santa Fé, em Três Corações; São Francisco de Assis, em Bambuí; e o Hospital Cristiano Machado, em Belo Horizonte. Edna Carvalho foi acompanhada por todos os convidados e também pelo presidente da Comissão de Saúde, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), que lembrou que, enquanto uma norma não é regulamentada, acaba não sendo colocada em prática.

Já Maria Ana de Araújo, do Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase do Ministério da Saúde, criticou a falta de divulgação dos sintomas da doença, o que ajudaria na identificação precoce da hanseníase e facilitaria seu tratamento. O acesso restrito aos medicamentos foi outro ponto criticado pela representante do ministério, que prometeu recursos para a melhoria das condições físicas das colônias.

Presenças - Deputados Adelmo Carneiro Leão (PT) e Maria Tereza Lara (PT). Também falaram o diretor da Colônia Santa Izabel, Ricardo Shigeru; o frei Agnaldo, que representou os franciscanos que atuam na colônia; e o diretor do Sind-Saúde estadual José Augusto da Silva, que defendeu a manutenção, em Betim, do atual diretor.

 

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