Deputados ouvem setor de cachaça artesanal e propõem soluções

As altas carga tributária e capacidade ociosa, a grande taxa de informalidade, deficiências nas tecnologias de produç...

22/06/2005 - 00:00
 

Deputados ouvem setor de cachaça artesanal e propõem soluções

As altas carga tributária e capacidade ociosa, a grande taxa de informalidade, deficiências nas tecnologias de produção, na divulgação e na comercialização da cachaça artesanal, os elevados preços dos insumos. Esses foram os principais problemas dos produtores da bebida, apontados na reunião da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembléia, nesta quarta-feira (22/6/05), em Pompéu. Após ouvir o relato de representantes do Estado, município, produtores de cachaça e técnicos, os deputados aprovaram requerimentos pedindo providências das autoridades visando, principalmente, a redução dos impostos para o setor.

Abrindo a reunião, o deputado que a requereu, Paulo Cesar (PFL), fez um diagnóstico da situação da produção de cachaça artesanal, afirmando que a bebida é considerada fina por ter alcançado alto grau de qualidade. Isso estaria viabilizando cada vez mais a sua comercialização no mercado internacional, com grande aceitação. Segundo ele, Minas responde por metade da produção nacional de cachaça de alambique (mais de 200 milhões de litros anuais), com 800 marcas, movimentando R$ l,5 bilhão no Estado e gerando 240 mil empregos. Apesar disso, a maioria dos produtores continua à margem do mercado internacional, de acordo com o deputado, "devido a problemas com a comercialização de sua produção, em razão da tributação excessiva e do alto preço dos insumos". Essas dificuldades fazem com que 95%, entre os 8,5 mil alambiques mineiros, vivam na informalidade - apenas 500 possuam registro no Ministério da Agricultura.

Impostos - Completando essa idéia, o representante do secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Silas Brasileiro, coordenador do Pró-Cachaça, José Eduardo Ferreira da Silva, informou que quase a metade da produção anual mineira é gerada pelos informais. Ele registrou que o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), federal, subiu mais de 500% nos últimos anos para os produtores artesanais de cachaça e só 30% para os produtores da aguardente industrial. O prefeito de Pompéu, Joaquim Higino Machado, acrescentou que atualmente o produtor paga 35% de IPI e ainda 18% de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Outro problema, apontado por José Eduardo, seria a capacidade ociosa do setor, que devido à falta de incentivos, produz apenas metade da cachaça que poderia fabricar, gerando altos estoques.

Apesar desses entraves, o coordenador do Pró-Cachaça disse que o setor está preparado e competitivo, pois já conta com uma rede mineira de tecnologia da cachaça, formada por produtores e órgãos do Estado. A Associação Mineira de Produtores de Cachaça de Qualidade (Ampaq) possui também um programa de assistência técnica e extensão. Falta ainda, na visão de José Ferreira, um diagnóstico mais preciso do setor com números mais atualizados, para que possa ser gerado o planejamento estratégico do setor, focado em ações de marketing para a ampliação do mercado.

Para exportar é preciso união da classe

Como soluções para os produtores, o professor da Puc Minas e da Newton Paiva, Cláudio Luiz Gonçalves de Souza, apontou a união da classe através de cooperativas para atingir o mercado externo e a ação das autoridades junto ao governo federal para negociar a redução dos impostos. Ele valorizou a importância do registro de marcas das cachaças de qualidade, citando o exemplo negativo da Havana, que foi registrada por uma empresa internacional. "Os produtores tem que se preocupar com isso, para que o mesmo não ocorra com eles", alertou.

O presidente da Ampaq, Luiz Cláudio Peixoto Cury, divulgou que uma norma aprovada pelo Ministério da Agricultura em 2002 permitiu que os pequenos produtores se organizassem em cooperativas regionais e obtivessem o selo de produtor rural, certificando a cachaça artesanal produzida por eles. Com isso, já foram criadas no Estado 12 cooperativas regionais, com a previsão de chegar a 15 até o fim do ano. Até o momento, as cooperativas de Tupaciguara e Ouro Preto conseguiram o selo. Luiz Peixoto considerou também "uma verdadeira agressão" a retirada dos produtores de cachaça do Sistema Integrado de Planejamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples).

Produto rural - Já o presidente da Cooperativa Central dos Produtores da Cachaça de Alambique do Estado, Trajano Raul Ladeira, ressalvou que, mesmo com o selo, a cooperativa de Ouro Preto não conseguiu comercializar sua produção. A cooperativa fez a estandardização e engarrafamento do produto, mas o Ministério da Agricultura, segundo Trajano, barrou o processo, por entender que a cachaça não é produto rural. Ele argumentou que se açúcar mascavo e rapadura são produtos rurais, a cachaça também o é. O Ministério defendeu que os pequenos produtores se transformassem em empresas para receberem autorização, o que seria inviável, para Trajano.

Como propostas da ALMG para resolver a questão, foram aprovados cinco requerimentos dos deputados presentes, Paulo César e Doutor Ronaldo (PDT) e da deputada Cecília Ferramenta (PT), em que solicitam: envio de ofícios ao ministro da Fazenda pedindo a realização de estudos visando o retorno dos produtores de cachaça artesanal ao Simples e a redução da alíquota do IPI sobre o setor; envio de ofício aos deputados federais de Minas Gerais requerendo que apresentem emenda ao projeto, em tramitação no Congresso, que trata da regulação do setor de Microempresas, para incluir na relação de beneficiados pelo projeto os produtores de cachaça artesanal; envio de ofício ao secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico pedindo que sejam feitos estudos visando a redução da alíquota de ICMS sobre o setor produtor de cachaça de alambique. Ao presidente da Assembléia foi solicitado que organize uma visita à Receita Federal e ao Ministério da Fazenda para discutir a possibilidade de redução do IPI sobre o setor produtor de cachaça artesanal e a permissão para que as cooperativas produtoras possam obter o selo de produtor rural.

Presenças - Deputados Paulo Cesar (PFL) e Doutor Ronaldo (PDT) e a deputada Cecília Ferramenta (PT). Também participaram a assessora do deputado federal Eduardo Barbosa, Elma Barbosa; os prefeito de Martinho Campos e de Paineiras, José Márcio de Araújo e Vicente Feliciano Alves; o presidente da Câmara Municipal de Pompéu, Joaquim dos Santos Moreira; a presidente da Cooperativa de Cachaça do Centro-Oeste, Vanessa Cordeiro Valadares Mesquita; o presidente da Cooperativa de Pompéu, Waldir Garcia Duarte; e a gerente da Divisão de Indústria Alimentícia da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Consuelo Ribeiro de Oliveira.

 

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