Comissão de Segurança visita Ceresp da Gameleira

O Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) do bairro Gameleira, em Belo Horizonte, é, a um só tempo, exemplo de com...

16/06/2005 - 00:00
 

Comissão de Segurança visita Ceresp da Gameleira

O Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) do bairro Gameleira, em Belo Horizonte, é, a um só tempo, exemplo de como os detentos devem e não devem ser tratados. Por um lado, uma experiência elogiável de ressocialização de internos; de outro, a superlotação tão comum no sistema penitenciário estadual e a guarda de presos já sentenciados e de presos provisórios num mesmo local, em descumprimento à Lei de Execução Penal. Foi o que constataram, nesta quinta-feira (16/6/05), os deputados Zé Maia (PSDB) e Sargento Rodrigues (PDT), da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa, que visitaram a instituição.

Com capacidade para abrigar 404 presos, o Ceresp está com 870 detentos, sendo 277 condenados, que deveriam estar cumprindo pena em penitenciárias, e 593 presos provisórios. Dos condenados, 83 são de regime fechado, 145 de regime semi-aberto e 49 do aberto. Entre os presos provisórios, estão aqueles com prisão preventiva decretada, detidos por falta de pagamento de pensão alimentícia ou por serem depositários infiéis, pessoas presas em flagrante e outros presos temporários. Além de 112 celas, o Ceresp conta também com dois alojamentos, onde ficam os presos de regime aberto que trabalham e estão sendo ressocializados e aqueles que foram presos por não pagar pensão ou serem depositários infiéis.

Um dos maiores problemas do Ceresp, de acordo com o delegado Paulo Roberto de Souza, diretor da instituição, é a carência de pessoal. Apenas dois delegados, quatro escrivães, 30 policiais e 43 agentes penitenciários, a maioria contratados e não efetivos, são responsáveis pela guarda dos presos. Além da necessidade de pessoal, falta uma estrutura adequada para a vigilância dos encarcerados. O sistema de vigilância eletrônico, por câmeras de vídeo, além de obsoleto, não alcança toda a área do pátio onde os internos tomam banho de sol e recebem visitas. Alguns dos dez monitores e várias câmeras de vídeo não funcionam, e as que estão em uso são de baixa resolução e não permitem nitidez das imagens dos corredores, celas, pátio e demais dependências. Apesar disso, graças à organização do trabalho e dedicação dos servidores, segundo o diretor, desde o ano de 2001 não há rebeliões ou incidentes graves no Ceresp Gameleira.

Exemplo de ressocialização

Num contraponto com essa realidade, por iniciativa de Paulo Roberto de Souza, que dirige o Ceresp há dois anos, a instituição é um raro exemplo de estabelecimento prisional em que é desenvolvido um efetivo trabalho de ressocialização de detentos. De acordo com o delegado, o perfil dos presos em condições de serem ressocializados no local é o daqueles que são "filhos da miséria, e não criminosos contumazes".

O trabalho de recuperação é feito em contato com a comunidade e familiares e mediante cursos profissionalizantes. Uma primeira turma de 21 detentos terminou curso de "oficial de construção civil", o equivalente a mestre de obras, feito juntamente com 75 pessoas da própria comunidade, pessoas carentes que procuram o Sine - Sistema Nacional de Emprego - para se qualificarem profissionalmente. A convivência dos detentos com os demais colegas ocorreu sem discriminações ou problemas significativos. Outra turma, composta por 30 detentos e 150 membros da comunidade, deverá começar as aulas em breve. Durante a visita, os deputados encontraram um ex-detento que se recuperou e hoje trabalha no local como contratado. "Se não fosse o curso, eu não estaria hoje aqui como um trabalhador empregado", relatou o ex-detento.

Como resultado do curso, os próprios detentos construíram galpões e vestiários em área anexa ao Ceresp. Tudo é feito com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), sem aporte financeiro por parte do Estado. Há uma parceria com a Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social (Sedese), proprietária do terreno onde funciona a oficina-escola do Centro Público de Promoção do Trabalho (CPPT). No local, presos e comunidade também têm cursos de horta comunitária, jardinagem e fabricação de cadeiras e carteiras escolares para prefeituras do interior. Estão projetados, para serem implementados em curto e médio prazos, cursos de informática, fabricação de vassouras, reciclagem de material, pintura e culinária. Aproveitando partes de bicicletas apreendidas pelas polícias Civil e Militar e encaminhadas para o local, os detentos fabricam cadeiras de rodas, muletas, bengalas e bancos de metal. Há, ainda, uma assistência para que egressos e trabalhadores, depois de qualificados, sejam empregados no mercado de trabalho.

Ao final da visita, os deputados mostraram-se entusiasmados com o trabalho de ressocialização desenvolvido no Ceresp Gameleira, mas disseram que irão cobrar das autoridades providências urgentes para acabar com a superlotação no local, transferindo-se os presos condenados para penitenciárias, e para que haja investimento na melhoria da infra-estrutura da instituição.

 

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