Comissão ouve críticas ao governo e queixas dos professores

Duras críticas ao governo Aécio Neves e queixas sobre a situação de penúria e abandono em que vivem os professores em...

16/06/2005 - 00:00
 

Comissão ouve críticas ao governo e queixas dos professores

Duras críticas ao governo Aécio Neves e queixas sobre a situação de penúria e abandono em que vivem os professores em Minas marcaram a reunião da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia, nesta quinta-feira (16/6/05). Na opinião do consultor e sociólogo Rudá Ricci, o Estado vive seu pior momento na educação por causa da desarticulação de todas as iniciativas governamentais, além do corte superior a 31% em investimentos na área, para se chegar à situação conhecida como déficit zero. "A política estadual é absolutamente desconexa e incoerente", completou ele, que questionou também o papel das superintendências regionais de ensino e a avaliação de desempenho individual para profissionais da educação.

Todas essas críticas foram feitas em reunião que discutiu a educação no Sul de Minas. O evento integra a quinta edição do projeto Mineiranças, realizado esta semana no Legislativo e que inclui debates em comissões e mostras do melhor da cultura da região. Tanto a reunião quanto o Mineiranças foram viabilizados por requerimento do deputado Laudelino Augusto (PT), que criticou a ausência da secretária de Estado da Educação, Vanessa Guimarães. Como resultado da reunião, o deputado disse que apresentará requerimento para discutir a gestão da educação em Minas, o papel das superintendências e a avaliação de desempenho. Já o deputado Paulo Piau (PP) sugeriu que, após a análise da execução orçamentária, a ALMG chame a secretária para explicar o corte nos investimentos e contribua com sugestões para o repensar do chamado "choque de gestão".

O sociólogo Rudá Ricci informou aos deputados que apresentou à Secretaria Adjunta de Educação, no início do governo, um diagnóstico sobre a situação das superintendências regionais de ensino. Segundo ele, nada foi feito até agora. Para Ricci, as superintendências merecem uma reforma administrativa urgente, pois elas ainda continuam com a visão de controlar (pelo papel e carimbos, apesar da era da informática), enquanto deveriam atuar como articuladoras da política educacional. Ele lembrou que 90% do pessoal que trabalha nessas instâncias estão na atividade-meio e apenas 10% nas escolas. O sociólogo defendeu a desprivatização das superintendências, fazendo com que elas saiam das mãos dos dirigentes políticos e se transformem em conselhos regionais de educação.

O convidado classificou a avaliação individual de desempenho (AID) como um modelo que não cabe para a área educacional - a não ser numa concepção empresarial, como ocorre, segundo ele, no governo atual. "A ação educacional é a socialização dos homens, e a avaliação do governo desconsidera isso", criticou, apontando como saída a avaliação não do professor individualmente, mas do projeto educacional e da coerência dos currículos, entre outros aspectos. A crítica foi encampada pela professora Regina de Fátima Ferreira Silva, de Pouso Alegre, que classificou a AID como "uma faca apontada para nós". Ela defendeu uma avaliação construtiva e não ameaçadora.

Professora reivindica dos deputados rápida aprovação das tabelas salariais

Foi também a professora Regina Silva a primeira a mencionar a promessa de envio, pelo governo, das tabelas salariais dos servidores da educação. Ela pediu que os deputados se debrucem sobre a situação dos professores, que estão há 10 anos sem reajuste. "Peço que os parlamentares apresentem uma proposta digna de tabela salarial", disse. Respondendo a ela, o deputado Laudelino Augusto defendeu a aprovação rápida do projeto - que deverá ser enviado ao Legislativo até o próximo dia 30. Mas lembrou que a iniciativa do envio é do governador Aécio Neves. Ele também mencionou as limitações dos deputados, fazendo referência à época da votação do plano de carreira, quando o bloco PT/PCdoB conseguiu emplacar 19 das 31 emendas apresentadas ao projeto. Já o deputado Paulo Piau (PP) lembrou a importância da aprovação do plano de carreira da categoria.

Tanto Regina Silva quanto o professor Antônio Carlos Coutinho mencionaram a difícil situação dos professores, que ganham pouco, são desvalorizados pela sociedade, pais e alunos e não têm o apoio pedagógico, psicológico e de infraestrutura de que precisam. "Estamos moralmente doentes. As empresas têm um departamento de Recursos Humanos para auxiliar seus funcionários. Nós não temos ninguém", desabafou ela. As palavras dos educadores foram apoiadas por Rudá Ricci, que, ao criticar o choque de gestão implementado por Aécio Neves, disse que "o choque do governo eletrocutou os professores". A financeirização de toda a área social, tanto do governo estadual quanto do federal, foi duramente criticada pelo sociólogo, que defendeu nova formação educacional para os professores, a fim de que eles possam assumir seu papel de formadores.

Já a vice-presidente do Conselho Estadual de Educação, Maria Aparecida Sanches Coelho, a irmã Emiliana, defendeu que os professores se coloquem no lugar dos alunos, ao enfrentarem questões como a indisciplina dos estudantes. "Ainda há profissionais que dão mais importância para o conteúdo do que para o desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos. Eles devem ser facilitadores da aprendizagem e não os donos da verdade", analisou.

Uemg - Também houve espaço na reunião para um pleito da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora de Sion (Fafi-Sion), da cidade de Campanha. A historiadora Ana Cristina Pereira reivindicou, em nome da comunidade escolar, a estadualização da unidade - que é agregada à Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) desde 1994. A medida contribuiria para alavancar a economia daquela cidade e para levar o ensino superior a um maior número de pessoas, destacou. O deputado Paulo Piau, que presidiu grande parte da reunião, informou que a preocupação com os rumos da Uemg também acontece na agregada de Ituiutaba, além de mobilizar com freqüência os deputados mineiros.

A deputada Ana Maria Resende (PSDB), que presidiu a reunião inicialmente, destacou, por sua vez, as realizações de Minas na área da educação. Entre elas, o fato de os estudantes ingressarem no ensino fundamental aos 6 anos e o de alunos do ensino médio receberem gratuitamente livros didáticos. Já o deputado Biel Rocha (PT) elogiou a iniciativa do deputado Laudelino Augusto de promover o Mineiranças.

Requerimentos - A comissão também aprovou três requerimentos do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), para discutir os seguintes assuntos: avaliar o trabalho das superintendências regionais de educação do Sul de Minas; a situação dos Centros de Estudos Continuados (Cesecs); e audiência pública para avaliar a nova redação da PEC 78/04, com a presença do secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Bilac Pinto; do Conselho Estadual de Educação e da Associação das Fundações Educacionais de Ensino Superior de Minas Gerais, que reivindicou ao deputado o debate. A PEC determina que o Conselho Nacional de Educação - e não mais o estadual - deverá aprovar novos cursos de Medicina, Psicologia e Odontologia.

Presenças - Deputados Paulo Piau (PP), que a presidiu; Laudelino Augusto (PT), Ana Maria Resende (PSDB), que a presidiu inicialmente; Biel Rocha (PT), Leonídio Bouças (PTB), Elisa Costa (PT) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB).

 

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