Movimento Capão Xavier Vivo defende paralisação da mina

"A luta do Movimento Capão Xavier Vivo não é por picardia, pirraça ou raiva da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) ...

16/06/2005 - 00:00
 

Movimento Capão Xavier Vivo defende paralisação da mina

"A luta do Movimento Capão Xavier Vivo não é por picardia, pirraça ou raiva da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) ou algum de seus dirigentes. Não estamos nessa luta como desavisados ou levianos. Estamos defendendo uma causa justa", afirmou o frei Gilvander Luís Moreira durante reunião desta quinta-feira (16/6/05) da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Mina Capão Xavier da Assembléia Legislativa. O frei afirmou ainda ter convicção de que o empreendimento da MBR em Capão Xavier precisa ser paralisado para que os quatro mananciais de água - Fechos, Catarina, Mutuca e Barreiro - sejam preservados.

Gilvander Luís Moreira iniciou sua fala apresentando fotos da estação ecológica de Fechos. As fotos mostram imagens da estação antes do que ele chamou de "invasão da MBR", e depois, com cortes de árvores, caminhos abertos na terra e restos de terra no local. O frei informou aos deputados que conseguiu, na manhã desta quinta (16), cópia do Boletim de Ocorrência (BO) feito em Fechos, a pedido da geóloga da Copasa Valéria Caldas Barbosa. No documento, a Polícia Militar constatou, segundo Gilvander, intervenção em uma área de 2 mil m², próxima a curso d´água, sem autorização de órgão ambiental. No BO, consta que a responsabilidade da intervenção foi assinada pelo engenheiro ambiental da MBR, Carlos Eduardo Leite. "A MBR está atuando em uma área restrita. Isso é crime ou não?", questionou frei Gilvander, que está envolvido na defesa de Capão Xavier desde o ano passado.

Além do empreendimento em Capão Xavier, frei Gilvander falou sobre outras atividades da MBR, no Pico de Itabirito e em Brumadinho. Ele disse que esses empreendimentos, assim como Capão Xavier, também estão degradando o meio ambiente. Criticou ainda um mineroduto da Samarco, que liga Minas Gerais ao Espírito Santo, e a mineração em Vazante. "O modelo de desenvolvimento em curso é depredador e concentrador de riqueza", afirmou. Ainda durante seu depoimento, frei Gilvander destacou que "a CPI está proibida de acabar em pizza".

Em resposta ao frei, o relator da comissão, deputado Domingos Sávio (PSDB) disse que não vai deixar a CPI acabar em pizza e muito menos transformá-la em fogueira. O parlamentar aproveitou para questionar o frei sobre quais ameaças de morte ele sofreu, conforme anunciado por ele no início de seu depoimento. Frei Gilvander explicou que um inquérito policial em andamento está investigando dez casos de ameaças sofridas por ele. "Alguns casos foram solucionados, outros não", informou.

Câmara Minerária do Copam avaliza empreendimento

Também ouvido pela comissão, o subsecretário de Estado de Desenvolvimento Minerometalúrgico e de Política Energética, Fernando Lage de Melo, informou que é um dos representantes da Secretaria de Desenvolvimento Econômico no Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Ele explicou que, desde 2003, participa da Câmara de Atividades Minerárias, que entendeu, por unanimidade, em três reuniões, que o empreendimento da MBR cumpre a legislação ambiental em Minas Gerais.

Ao responder aos questionamentos do relator Domingos Sávio e do deputado Antônio Júlio, Fernando Lage Melo garantiu que não houve qualquer pendência técnica nos três processos de licenciamento da Mina de Capão Xavier. O subsecretário explicou que a câmara de mineração é composta por técnicos do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Codema municipal e representantes do sindicato dos geólogos e de organizações não-governamentais. Além disso, é assessorada por técnicos de órgãos de fiscalização ambiental, "todos profundos conhecedores de mineração".

Deputados pedem esclarecimentos

Antes de iniciar a fase de perguntas aos convidados, o deputado Irani Barbosa (PTB) questionou o fato de o deputado Dinis Pinheiro (PSDB) compor a mesa da comissão, já que sua saída do Partido Liberal (PL) e filiação ao PSDB foi comunicada na última quarta-feira (15). Ao final, a assessoria técnica esclareceu ao presidente da CPI, deputado Márcio Kangussu (PPS), que a vaga de Dinis Pineiro pertencia mesmo ao PL, que deveria indicar novo integrante.

O deputado Domingos Sávio fez diversas perguntas aos dois convidados, no sentido de elucidar dúvidas sobre pendências nos processos de licenciamento, no cumprimento de normas, sobre possíveis cassações de licenças de funcionamento e sobre outros empreendimentos mineradores no Estado.

Já o deputado Antônio Júlio (PMDB), depois também de questionar o presidente da Câmara Minerária do Copam, Fernando Lage, disse que a população de Belo Horizonte não foi ouvida sobre o empreendimento e por isso não tem idéia da gravidade de Capão Xavier e seus impactos sobre o abastecimento da cidade. Esta avaliação foi compartilhada pelo deputado Irani Barbosa, para quem só uma medida drástica, como a extinção do Parque do Rola Moça, da Estação Ecológica de Fechos e da APA-Sul, seria capaz de "acordar as comunidades daqueles bairros". O deputado Fábio Avelar (PTB) lembrou que não se pode ser contra a atividade mineradora simplesmente e que alguns depoimentos davam esta impressão.

Requerimentos - Foram aprovados os seguintes requerimentos: deputado Adalclever Lopes (PMDB), solicitando visita à Mina de Águas Claras, Pico do Itabirito e Tejuco; Domingos Sávio, solicitando informações à Feam sobre atendimento de todas as condições nos licenciamentos da mina; deputado Irani Barbosa, oficiando à Copasa para que informe se houve autorização para prospecção na Estação Ecológica de Fechos; deputado Fábio Avelar, convidando para prestar esclarecimentos o presidente da Associação Mineira de Municípios Mineradores, Waldir Salvador Silva; Antônio Júlio, os seguintes: convidando para prestar esclarecimentos o promotor de Justiça de Brumadinho, Carlos Eduardo Dutra Pires; visita à Estação de Fechos, para verificar se houve invasão da área pela MBR; convite ao funcionário da MBR Carlos Eduardo Leite Santos, para prestar esclarecimento, na condição de possível responsável pela invasão da Estação de Fechos; e convite às técnicas da Copasa Maria Bourchardet e Valéria Caldas, integrantes do grupo de trabalho da APA-Sul, para prestar esclarecimentos.

Presenças - Deputados Márcio Kangussu (PPS), presidente; Biel Rocha (PT), vice; Domingos Sávio (PSDB), relator; Antônio Júlio (PMDB), Dinis Pinheiro (PSDB), Fábio Avelar (PTB), Irani Barbosa (PTB), Leonardo Quintão (PMDB) e Adalclever Lopes (PMDB).

 

 

 

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