Debate enfatiza interligação entre agricultura familiar e
agronegócio
No debate sobre agricultura familiar realizado pela
Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, em conjunto com a
Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia
Legislativa, os participantes concluíram que não se deve separar
esta modalidade produtiva do agronegócio. E que mesmo com sua lógica
própria, a agricultura familiar e a agricultura orgânica têm que se
inserir no processo produtivo mais comercial. A reunião conjunta foi
realizada nesta quarta-feira (15/6/05), a requerimento do deputado
Laudelino Augusto (PT), presidente da Comissão de Meio Ambiente, e
integrou a programação do Projeto Mineiranças que, nesta
edição, traz as manifestações culturais do Sul de Minas.
Enfatizando a mudança de visão do governo federal
sobre as duas modalidades de produção, o delegado regional do
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Higino Marques da Mata
Oliveira, lembrou que a agricultura familiar é tratada em seu
ministério, enquanto o agronegócio está ligado ao Ministério da
Agricultura. Segundo ele, enquanto o agronegócio recebeu, na última
safra, R$ 37 milhões de financiamento, a agricultura familiar
recebeu R$ 7 milhões do Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf). Higino da Mata adiantou, no entanto,
que a disposição é aumentar cada vez mais os recursos disponíveis,
eliminando os gargalos regionais, como no caso de Minas Gerais, onde
os recursos só chegavam aos pequenos produtores em outubro, quando a
necessidade era para julho.
O representante do MDA disse ainda que o ministério
trabalha com programas que tentam minimizar os prejuízos para o
pequeno produtor com políticas como o acesso à terra, através da
reforma agrária, acesso aos créditos do Pronaf, assistência técnica
em parceria com a Emater e capacitação dos produtores. Higino da
Mata afirmou que o Pronaf é um ataque direto à pobreza, como mostra
a distribuição dos recursos por município, informando que em Minas,
foram os municípios mais pobres os mais beneficiados com
verbas.
Parcerias com iniciativa privada são enfatizadas
pela Emater
Também a Emater tem trabalhado com uma mudança de
perspectiva na assistência aos produtores, atuando em questões
ambientais e na agroecologia, segundo depoimento do gerente do
departamento técnico da entidade, Roberval Juarez Andrade. Para ele,
o governo mineiro não vê a agricultura familiar descolada do
agronegócio, por isso, a política da empresa tem sido de trabalhar
na sustentabilidade, na qualidade de vida dos pequenos produtores e
na segurança alimentar.
Ele citou o programa Minas sem Fome, de segurança
alimentar, que tem recursos previstos de cerca de R$ 28 milhões, com
parceiros privados e atuação em apicultura, pomares coletivos,
lavoura coletiva e hortas comunitárias. Até o final do ano, segundo
Roberval Andrade, a Emater vai estender sua assistência a 97% dos
municípios mineiros, com a abertura de mais 80 escritórios no
interior, em convênio com as prefeituras.
Com uma apresentação em vídeo de produção apícola
em um sítio de quatro hectares em Campanha, o pequeno produtor
Ricardo Lemos Muller destacou que a agricultura familiar se sustenta
sobre a diversidade produtiva, produção visando a qualidade de vida
do produtor e não só o mercado, agregação de valores ao excedente
produtivo e ainda recuperação de áreas degradadas com financiamento
público. E perguntou sobre linhas de pesquisas na área de
agricultura familiar pela Epamig.
A pesquisadora da entidade, Juliana Carvalho,
declarou que a empresa não tem recursos próprios para pesquisa, só
trabalhando com outros órgãos financiadores. Mas que apesar disso,
há pesquisas em andamento na área, como o de morango orgânico, em
Pouso Alegre.
Deputados destacam importância do pequeno
produtor
O deputado Laudelino Augusto destacou a importância
do pequeno produtor para o Sul de Minas, lembrando que naquela
região 90% das propriedades rurais são pequenas. Para ele, a
agricultura familiar e a orgânica estão se consolidando como
tendência no Sul do Estado e reconheceu que os investimentos no
segmento cresceram cinco vezes, via Pronaf, nos últimos dois anos. O
deputado Paulo Piau (PP) propôs uma mudança de terminologia para o
agronegócio, para diferenciá-lo da produção empresarial, mas
destacando que o Brasil precisa das duas formas de produção
agrícola. Já o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) ressaltou a
importância da Emater para os pequenos produtores rurais e pediu o
aumento de seu corpo técnico.
Presenças - Deputados
Laudelino Augusto (PT), que presidiu a reunião conjunta; Paulo Piau
(PP), Carlos Gomes (PT), Sávio Souza Cruz (PMDB); Dalmo Ribeiro
Silva (PSDB) e Doutor Viana (PFL).
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