Assembléia vai homenagear ex-presidentes do Legislativo
estadual
A Assembléia Legislativa de Minas Gerais realiza
nesta terça-feira (21/6/05), às 14 horas, uma Reunião Especial de
Plenário para homenagear os ex-presidentes da Casa., dentro das
comemorações dos 170 anos no Poder Legislativo. A reunião será
coordenada pelo atual presidente, deputado Mauri Torres (PSDB), e
foram convidados para a homenagem os 14 ex-presidentes vivos, homens
cujas biografias fazem parte da história política mineira das
últimas quatro décadas. Os ex-presidentes Genésio Bernardino e
Bonifácio Andrada, atualmente deputado federal, serão os oradores
oficiais da solenidade.
Também confirmaram presença na solenidade os
seguintes ex-presidentes: Homero dos Santos, Expedito Tavares, José
Santana, Kemil Kumaira, Romeu Queiroz, Agostinho Patrús, Anderson
Adauto, João Navarro, Antônio Dias e Antônio Júlio. Não poderão
comparecer os ex-presidente Dalton Canabrava e João Ferraz, por
motivos pessoais.
"De um Parlamento dominado por uma elite agrária e
por interesses minoritários, chegamos hoje a uma Assembléia
Legislativa plural, que se abre a uma diversidade de representações
e trilha os caminhos da democracia participativa. Nesse processo,
observamos o aprendizado de uma sociedade e também dos políticos",
destaca o presidente Mauri Torres.
"A Assembléia Legislativa é o reflexo do momento
histórico de cada época, e seus presidentes também", analisa a
historiadora Maria Auxiliadora de Faria, que elabora um livro sobre
a história do Poder Legislativo mineiro em parceria com o cientista
político Otávio Dulci. Nas últimas quatro décadas, o Brasil passou
por diversos momentos políticos e sofreu grandes mudanças: passou
pela ditadura militar, um processo gradual de abertura política, a
eleição indireta de um presidente da República, a elaboração de uma
nova Constituição e a volta e consolidação de instrumentos
democráticos de participação popular, como eleições livres.
O Poder Legislativo estadual acompanhou essas
transformações, e hoje reflete os anseios e necessidades da
população. "A Assembléia de Minas também retrata o momento histórico
atual, em que o Brasil procura se inserir na economia globalizada. É
uma organização complexa, que investe em tecnologia avançada para
acompanhar as transformações da sociedade", avalia a historiadora.
História de avanços e retrocessos
A história do Parlamento mineiro não foi um
processo de evolução contínua, mas sim de avanços e retrocessos, de
acordo com a conjuntura política nacional de cada época. No período
monárquico (1835-1889), a Assembléia Provincial tinha papel quase
decorativo. O poder era concentrado no governo imperial, e por causa
das longas distâncias e das dificuldades de transporte, os deputados
concentravam seus trabalhos durante dois meses ao ano.
Após a proclamação da República, cresce a
importância do Parlamento, que foi bicameral entre 1891 e 1930.
Segundo Maria Auxiliadora Faria, os desafios para o crescimento
econômico do Estado davam a tônica das discussões na Câmara dos
Deputados e no Senado mineiro. Outro importante debate do período
foi sobre a transferência da capital para Belo Horizonte, que se
concretizou em 1897. O Parlamento foi novamente fechado entre 1930 e
1935 e de 1937 a 1947. De 1947 até hoje, a Assembléia funciona
ininterruptamente, mas teve suas atribuições limitadas durante a
ditadura militar (1964-85).
Genésio Bernardino, deputado entre 1975 e 1987 e
presidente do Legislativo no biênio 1984-85, recorda-se das
dificuldades enfrentadas nesse período. "Nos meus primeiros anos na
Assembléia, o terror pairava sobre a cabeça de cada parlamentar.
Vivíamos sob uma pressão psicológica terrível, a Assembléia estava
acossada pela ditadura. Hoje se tem plena liberdade para agir,
criticar, fazer oposição", compara ele. Mesmo sob ameaças constantes
de cassação do mandato e de invasão pelos militares, o Legislativo
sempre teve o compromisso de defesa da democracia, na avaliação de
Bernardino. "Durante a ditadura, a Assembléia foi um trincheira para
enfrentar o sistema de arbítrio", afirma.
O atual deputado federal Bonifácio Andrada
(PSDB-MG), que presidiu a Assembléia em 1966, destaca que, mesmo sob
o regime militar, houve aspectos positivos para o Parlamento. Ele
lembra avanços administrativos durante sua gestão, quando foram
abertos concursos públicos para a contratação de servidores de todos
os níveis e foi criado o serviço de segurança. Também sob a
presidência de Andrada foi feita a licitação para a construção da
atual sede do Legislativo: o Palácio da Inconfidência, inaugurado em
1972. Com a experiência de quatro décadas de atuação parlamentar,
Bonifácio Andrada sintetiza a importância do Poder Legislativo. "Dos
três Poderes, é o único com conhecimentos aprofundados da realidade
social e em contato permanente com o povo", destaca.
Abertura para a sociedade e participação
popular
O ex-presidente João Navarro, deputado estadual por
sete mandatos consecutivos (de 1959 a 1989), presidiu a Assembléia
entre 1979 e 1980, quando as mudanças políticas já tomavam corpo no
cenário nacional. "A Assembléia sempre foi uma caixa de ressonância
da sociedade, e não foi diferente naquela época. Como presidente
tive de ter muita habilidade política, além da percepção de que
novos ventos sopravam na política brasileira", lembra ele. Não por
acaso, na sua gestão a Assembléia iniciou, efetivamente, a era da
informática, com a compra do primeiro computador. "Era preciso
preparar as muitas mudanças que ainda aconteceriam", afirma
Navarro.
Com a democratização do País em 1985, a Assembléia
deu início a um processo de modernização e maior abertura para a
sociedade. O primeiro passo foi a aprovação da Constituição Estadual
de 1989, que restabeleceu os princípios democráticos no Estado após
duas décadas de ditadura. De acordo com o presidente do Legislativo
nessa época, Kemil Kumaira (1989-90), esse período foi marcado por
um alucinante ritmo de atividades. "Nosso objetivo era demonstrar
que Minas estava à frente dos outros Estados no campo político",
conta.
Segundo Kumaira, a Constituinte abriu espaço para a
manifestação de todos os setores da sociedade. Cerca de 10 mil
sugestões foram apresentadas pela população durante o processo de
elaboração da Constituição, que de fato foi promulgada antes de
todos os outros Estados (em 21 de setembro de 1989). Outro fato
importante que ele destaca nesse período é o processo de impeachment
contra o então governador Newton Cardoso, na sua opinião uma
demonstração da independência conquistada pelo Poder
Legislativo.
Deputado estadual por sete mandatos consecutivos
(de 1975 a 2003), Kemil Kumaira acompanhou a evolução das atividades
do Legislativo mineiro desde os anos 80, com investimentos em
informatização, modernização administrativa e transparência. Os anos
90, avalia, foram marcados pela expansão das atividades da
Assembléia. Intensificam-se a produção legislativa, a interiorização
e a realização de eventos institucionais, como seminários, fóruns
técnicos e ciclos de debates, em que a sociedade é chamada a
discutir os mais variados assuntos com os deputados.
Em 1992, na gestão Romeu Queiroz, foi criada a
Escola do Legislativo. Em 1995, quando o presidente era Agostinho
Patrús, deputado e atual secretário de Estado de Transportes e Obras
Públicas, entra no ar a TV Assembléia. Outro importante
acontecimento da última década foi a reabilitação, em 1994 (gestão
José Ferraz, já falecido), dos deputados Clodesmidt Riani, José
Gomes Pimenta e Sinval Bambirra, que haviam sido cassados em 1964.
Em 2003, no primeiro mandato de Mauri Torres como presidente, foi
dado outro passo para aprimorar a interlocução do Legislativo com a
sociedade: a criação da Comissão de Participação Popular.
Algumas curiosidades históricas
No período republicano, o presidente mais jovem do
Legislativo estadual foi Francisco Sales. Ele presidiu a Câmara dos
Deputados estadual em 1894, com apenas 30 anos. O mais velho foi
Levindo Lopes, que em 1917 chegou à presidência do Senado mineiro
aos 74 anos. O mandato mais curto durante o período republicano foi
de Feliciano de Oliveira Pena, que presidiu a Assembléia
Constituinte por apenas uma semana em 1947. Ele voltaria a ocupar a
presidência da Assembléia em 1950. Já o mandato mais longo foi de
Antônio Martins Ferreira da Silva, que ficou oito anos consecutivos
à frente da Câmara estadual (1899-1906).
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