Agricultura, sustentabilidade e águas são alguns temas da Agenda 21

Na parte da tarde do Ciclo de Debates "Agenda 21 em Minas Gerais", nesta quinta-feira (9/6/05), no Plenário da Assemb...

09/06/2005 - 00:01
 

Agricultura, sustentabilidade e águas são alguns temas da Agenda 21

Na parte da tarde do Ciclo de Debates "Agenda 21 em Minas Gerais", nesta quinta-feira (9/6/05), no Plenário da Assembléia Legislativa, os participantes deram explicações sobre os eixos temáticos do documento internacional que visa a um novo padrão de desenvolvimento sustentável. O primeiro eixo tratado foi a agricultura, cujo desafio, segundo o deputado federal Leonardo Monteiro (PT/MG), é manter a produção sem fazer uso das atuais condições que agridem o meio ambiente. Monteiro é membro das comissões de Agricultura e de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados.

De acordo com o parlamentar federal, os danos da agricultura ao meio ambiente foram acelerados desde a década de 60, com a "revolução verde", que introduziu produtos químicos e maquinários que mudaram profundamente a forma de produção agrícola e agropecuária. Segundo ele, um novo modelo, sustentável, não pode continuar a ter a predominância do capital e dos insumos, da geração de passivos ambientais, da dependência tecnológica de outros países, do foco na exportação e na superexploração da mão-de-obra e dos recursos ambientais. Propostas válidas seriam o fortalecimento da agricultura familiar, o estímulo ao banco de sementes e o planejamento da gestão ambiental, entre outras.

Ao falar sobre o tema cidade sustentável, a coordenadora do Grupo de Trabalho Temático 2 do Fórum Estadual da Agenda 21 em MG, Maria Auxiliadora Alvarenga, explicou a importância de se levar aos municípios o que é, na prática, a construção da Agenda 21 Brasileira. Isso porque eles têm até outubro de 2006 para elaborarem seus planos diretores, "que não devem ser constituídos apenas para cumprir a lei, mas para se integrarem com os meios de preservação do meio ambiente". Ainda segundo Maria Auxiliadora, são essenciais a participação popular na elaboração dos planos diretores e a consideração das áreas rurais de cada município.

Integração - Já o secretário municipal de Desenvolvimento de Ouro Branco, Luiz Dario Gutierrez, que representou o ex-coordenador nacional da Agenda 21 Brasileira, Pedro Ivo Souza Batista, ressaltou sua preocupação de que os objetivos da Agenda 21 não sejam setorizados, uma vez que o grande esforço seria para a construção de uma sociedade diferenciada. "Não podemos falar em eixos temáticos sem falar em integração regional", observou.

Preocupação com a água

A secretária executiva nacional da Defensoria das Águas e membro do Grupo de Trabalho Temático 4 do Fórum Estadual da Agenda 21, Maria Helena Murta, protestou contra o descaso, o desconhecimento e a falta de educação com que as pessoas tratam a água. Segundo ela, apesar de existirem leis e tantas discussões sobre instrumentos de gestão, a água não está - e nunca foi - bem cuidada.

A representante da Defensoria das Águas citou recente pesquisa feita pela entidade que indica que as águas contaminadas atingem mais de 15 mil áreas do País, representam 87% dos casos de câncer na população e são responsáveis por 73% da ocupação dos leitos hospitalares. Casos críticos de mau uso da água em Minas, de acordo com ela, seriam excesso de contaminação por agrotóxico, presença de óleo nos lençóis freáticos e contaminação humana em áreas de mineração.

Por sua vez, a vereadora Neila Batista, que representa a Câmara Municipal de Belo Horizonte no Fórum Municipal e Estadual da Agenda 21, lembrou as disparidades regionais, que ocasionam problemas como invasões, ocupações e favelamento, em cidades que não chegam a 30, 40 mil habitantes. "É preciso pensar na estrutura produtiva, no papel do Estado nas três esferas e na função social da propriedade, ou não poderemos ter desenvolvimento sustentável", disse.

A responsabilidade por uma ação duradoura em defesa do planeta foi o tema central da exposição de Carlos Alexandrino dos Santos, ex-diretor geral do Cefet Minas e coordenador do Grupo Temático de Trabalho 6 (Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável). Citando exemplos de disparates na utilização de recursos, como a exploração abusiva da água mineral, Santos disse que "o princípio da sustentabilidade é o da racionalidade".

Odair Santos Jr, do Crea-MG, lembrou o grande compromisso firmado por 178 países na Rio-92 com a sustentabilidade da vida no planeta. Detalhou a estrutura montada no Conselho para a sustentação do Fórum, com a secretaria executiva, grupo de coordenação, cinco grupos de trabalho e sete grupos temáticos. Em seguida, criticou a falta de conhecimento da sociedade sobre uma idéia tão importante e defendeu que o fórum, constituído por lei, tenha poder deliberativo sobre qualquer projeto que afete o meio ambiente.

A entrega do anteprojeto de lei de criação do Fórum da Agenda 21 foi feita pelo coordenador do Grupo 1, Marcílio Vitorino Marques, ao deputado Laudelino Augusto. "Eu recebo este anteprojeto com emoção por fazer parte desta história. Estamos com 13 anos de atraso na implantação da Agenda 21", disse o deputado. O anteprojeto será encaminhado para a Comissão de Participação Popular para que dê entrada na Assembléia como de iniciativa popular.

O sétimo dos grupos temáticos da Agenda 21 é o que estuda o projeto de transposição do rio São Francisco. A coordenadora, Maria do Carmo Utsch Nunes, disse que o grupo concluiu pela insustentabilidade do projeto em cinco aspectos: o econômico, porque ninguém conseguirá pagar o custo da água transposta; o ambiental, porque não levantou os impactos corretamente, entre eles o agravamento do problema da cunha salina na foz; o social, porque é injusto com as populações ribeirinhas que serão privadas de um recurso prioritário, e porque só vai beneficiar 3% da população do Nordeste Setentrional; o cultural, porque vai interferir com a cultura das regiões afetadas; e o espacial, porque não contempla estudos para o desenvolvimento do semi-árido.

Os trabalhos da parte da tarde do ciclo de debates foram iniciados pelo 3º-vice-presidente da ALMG, deputado Fábio Avelar (PTB), com a coordenação do presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, deputado Laudelino Augusto (PT), além da participação do deputado Doutor Ronaldo (PDT), entre outros deputados.

Atas e reprise - As notas taquigráficas do ciclo de debates serão publicadas no Diário do Legislativo/Minas Gerais do dia 16 de junho. Na TV, o evento será reprisado nos dias 18 de junho (trabalhos da manhã) e 19 de junho (trabalhos da tarde).

 

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