Especialistas debatem implementação da Agenda 21 em Minas

Minas Gerais quer agilizar os processos de implementação e integração das Agendas 21 locais, a partir da atuação das ...

09/06/2005 - 00:02
 

Especialistas debatem implementação da Agenda 21 em Minas

Minas Gerais quer agilizar os processos de implementação e integração das Agendas 21 locais, a partir da atuação das sete regionais do Conselho de Política Ambiental do Estado, segundo informou o secretário adjunto de Estado de Meio Ambiente, Shelley de Souza Carneiro. Ele participou, na manhã desta quinta-feira (9/6/05), da primeira parte do Ciclo de Debates "Agenda 21 em Minas Gerais". O evento foi requerido pelo 3º-vice-presidente da Assembléia, deputado Fábio Avelar (PTB), para homenagear o Dia Mundial do Meio Ambiente (5/6), e pelo vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, deputado Doutor Ronaldo (PDT).

O ciclo de debates tem como objetivo verificar o andamento, no Estado, do plano de ação acordado por 179 países signatários durante a conferência Rio 92, visando ao desenvolvimento de forma sustentável do planeta. Outra proposta do evento, que continua à tarde, é possibilitar a formalização do Fórum Estadual da Agenda 21.

De acordo com o secretário adjunto de Meio Ambiente, já foram realizadas mais de 200 reuniões em diferentes municípios que integram os conselhos regionais, com a participação de várias instituições, como ongs, universidades e entidades de ciência e tecnologia, entre outras. Shelley de Souza Carneiro lembrou que a Agenda 21 estabeleceu diagnósticos, potencialidades e vulnerabilidades no sistema de desenvolvimento, mas também apontou caminhos e instrumentos de combate aos problemas. "Temos que visar à preservação ambiental e também as singularidades de cada região", enfatizou.

"Esta é uma grande oportunidade para debater um documento que o mundo propôs para si mesmo", disse o gerente executivo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Messias Franco. Ele destacou que já se passaram 13 anos da formulação do texto, oportunidade em que se especulava sobre qual seria a agenda do próximo século. "Mas o que fizemos? Que propostas novas temos para o mundo?", questionou.

Entre os obstáculos que impediriam a efetivação da Agenda 21 e de outras propostas definidas no evento internacional, o representante do Ibama mencionou a ação dos países ricos, que haviam se comprometido a aumentar a porcentagem da participação em seus Produtos Internos Brutos (PIBs) para ajuda ao desenvolvimento sustentável dos países pobres, mas não o fizeram. Segundo Franco, o percentual, que era de 0,33% naquela época, na verdade foi reduzido, passando para 0,27%. "O mundo se tornou mais egoísta", analisou, afirmando que a Agenda 21 também é um desafio local, estadual e nacional.

Um ponto importante a ser analisado à luz dos capítulos da Agenda 21, como água, esgoto e transporte, buscando estabelecer um equilíbrio, conforme explicou, é o fato de 82% da população brasileira residir em áreas urbanas. "É preciso ser cuidadoso para frear o crescimento desenfreado, sem infra-estrutura. A Agenda 21 exige regulamentações severas que impeçam concentrações de populações que causem desequilíbrio do meio ambiente", disse.

Legislativo está atento à questão, diz vice-presidente

Na abertura do evento, o 3º-vice-presidente da Assembléia, deputado Fábio Avelar (PTB), destacou que o ciclo de debates também integra a programação comemorativa do Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho. Avelar reforçou que o Legislativo tem acompanhado de perto as discussões relacionadas às atuais demandas do meio ambiente, como segurança alimentar, saúde pública, produção de biocombustíveis e situação das águas. E reforçou a importância da Agenda 21, "cujos compromissos envolvem não apenas decisões políticas entre os países, mas ações práticas".

O autor do requerimento pela atividade e vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, deputado Doutor Ronaldo (PDT), enfatizou em seu discurso as iniciativas que vêm sendo tomadas no Estado visando à construção da Agenda 21. A intenção, segundo ele, é que o ciclo de debates reúne as pessoas e instituições envolvidas nesse trabalho para integrar propostas e contribuições. O presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Laudelino Augusto (PT), também participa do evento.

Agenda 21 é instrumento de planejamento estratégico

O presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-MG), Marcos Túlio de Melo, informou que a entidade funciona como Secretaria Executiva para construção da Agenda 21, e destacou a importância do instrumento: "Trata-se do mais poderoso instrumento de planejamento estratégico no mundo, e foi definido por consenso da maioria dos países participantes da Conferência Rio-92. A Agenda 21 constrói perspectivas de desenvolvimento para o curto, o médio e o longo prazos". Melo revelou que 159 municípios mineiros já firmaram parcerias com o Crea, e destacou 22 municípios no entorno da represa de Três Marias.

O presidente do Crea de Tocantins, o engenheiro Valdivino Dias da Silva, anunciou que a entidade pretende seguir os passos do Crea-MG, no que couber. Valdivino pintou um quadro sombrio da situação ambiental naquele Estado, que estaria invadido pela pecuária extensiva e pelos plantios de soja, e já não teria mais floresta tropical. "A previsão de expansão da soja é para produzir 5 milhões de toneladas dentro de cinco anos. Na região de Jalapão já temos inclusive áreas de desertificação", denunciou.

Outra preocupação do engenheiro é o aproveitamento do potencial hidrelétrico dos rios Tocantins e Araguaia. Tucuruí produz 950 megawatts, suficientes para atender o Estado e exportar, mas estão em construção ou fase final de planejamento as represas de Estreito, Peixe e Lajeado. "Tucuruí fez aumentar em dois graus a temperatura de Palmas, um impacto violento sobre o ambiente", afirmou Valdivino Silva, que falou também sobre a retirada dos pescadores de seu habitat, da falta de eclusas para navegação e de passagens para peixes nos barramentos.

O exemplo mais avançado de adoção das cautelas da Agenda 21 veio da cidade de Extrema, município de 20 mil habitantes do Sul de Minas. O representante da Prefeitura, Paulo Henrique Pereira, atribui o sucesso da iniciativa aos 16 anos de continuidade administrativa, que resultaram em compromisso do atual prefeito, Sebastião Camargo Rossi, pelos próximos quatro anos, de produzir um modelo de orientação de políticas públicas com alcance até 2020.

"Não se trata de agenda ambiental, nem de plano de ação do Executivo. Trata-se de desenvolvimento sustentável, dividido em três linhas: desenvolvimento econômico, justiça social e preservação dos recursos naturais", esclarece Pereira. "A partir de 2000, o princípio foi incluído no Plano Plurianual. Em 2003, foi criado o fórum e assumido pelas lideranças políticas, pelo setor produtivo e pela sociedade civil, que definiram as potencialidades e as fragilidades do município. A partir de seis grupos de discussão, produzimos o documento Bases para Discussão, com 148 propostas de 30 entidades. As de desenvolvimento humano predominam, com 56 propostas, seguidas pelas de desenvolvimento econômico, que são 53", acrescenta.

Flávia Mourão Parreira do Amaral, secretária adjunta de Meio Ambiente da Prefeitura de Belo Horizonte, e José Liberato de Sá Moraes, também da PBH, explicaram como os processos de participação popular estabelecidos desde 1993 criam condições favoráveis para a construção da Agenda 21 na Capital do Estado. O presidente da reunião, deputado Doutor Ronaldo, reservou uma hora para as participações da platéia, que endereçou dezenas de questionamentos à Mesa, especialmente a Roberto Messias Franco, do Ibama, e a Flávia Amaral, da PBH.

 

 

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