Comissão quer discutir novamente projeto sobre reserva legal

Vai ser realizada nova audiência pública para discutir o Projeto de Lei (PL) 1.829/04, do deputado Ricardo Duarte (PT...

08/06/2005 - 00:02
 

Comissão quer discutir novamente projeto sobre reserva legal

Vai ser realizada nova audiência pública para discutir o Projeto de Lei (PL) 1.829/04, do deputado Ricardo Duarte (PT), que obriga a recomposição de reserva legal na bacia hidrográfica onde fica propriedade ou posse rural. Como não se julgaram suficientemente esclarecidos e convencidos da viabilidade da proposta, os deputados da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais solicitaram outra reunião com mais convidados para debater com mais profundidade o assunto. O requerimento foi assinado por Paulo Piau (PP), João Leite (sem partido), Laudelino Augusto (PT) e Sávio Souza Cruz (PMDB). Essa foi uma das ações da comissão, na reunião desta quarta-feira (8/6/05), requerida pelo deputado Ricardo Duarte, além da aprovação de requerimentos e de pareceres sobre dois projetos.

O parlamentar justificou afirmando que a Lei 14.309, de 2002, que contém a política florestal de Minas, foi alterada em seu artigo 17, de forma a adequar a legislação mineira à federal. O Código Florestal Brasileiro já preveria a recomposição da reserva na mesma bacia, segundo Duarte, de modo a preservar aquele ecossistema. Como a lei mineira prevê outras formas de recompor a reserva de 20% da propriedade rural, têm-se chegado a extremos, relatados pelo deputado, no Triângulo Mineiro: muitos proprietários rurais dessa região estariam recompondo sua reserva legal no Norte de Minas, onde as terras seriam mais baratas. Para Duarte, a lei deixaria brechas que permitiriam que a recomposição de uma reserva legal da Mata Atlântica fosse feita no cerrado e vice-versa. O deputado mostrou o dado de que, se a legislação ambiental fosse realmente cumprida, 22% das áreas de cerrado estariam intocadas, ao passo que atualmente, esse percentual está em menos de 7%.

O professor Ivo das Chagas, da ONG Povos do Cerrado, apoiou o projeto, avaliando que a proposta vai beneficiar todo o Estado. "Se não cuidarmos do cerrado, vamos ter problemas até para a subsistência do Estado", vaticinou. Ele informou que o cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, só perdendo para o Complexo Amazônico, e conta com uma das maiores biodiversidades do planeta. "O cerrado é o grande guardador e distribuidor das águas do País", declarou, defendendo a preservação do bioma para garantir o abastecimento de água.

Na visão do ambientalista, "os cerrados constituem o ponto nevrálgico do equilíbrio ecológico brasileiro", uma vez que quase todas as grandes bacias hidrográficas do País nascem nesse local. Ainda, de acordo com Chagas, essa vegetação cobre quase a metade do território mineiro, mas que corre o risco de em 50 anos ser quase totalmente destruída, se não forem tomadas medidas eficientes de controle. Em comparação, outros biomas como a mata Atlântica e a mata de Araucária levaram, respectivamente, 500 e 300 anos para serem devastados, mostrando o ritmo muito mais acelerado de destruição do cerrado. O presidente da comissão, deputado Laudelino Augusto, concordou com o professor, acrescentando que, se cessar a intervenção humana no cerrado, ele se recompõe. "A recomposição da reserva tem que ser na própria bacia, fora dela, não tem sentido", disse.

IEF acha desnecessária nova lei sobre o assunto

"Não há recomposição de reserva legal da Mata Atlântica no cerrado, ou vice-versa", fez questão de registrar o assessor do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Ronaldo de Almeida, contrapondo-se à afirmação de Ricardo Duarte. O técnico discordou do parlamentar também com relação à necessidade de uma nova lei para recomposição da reserva. Para Almeida, a Lei 14.309, e a Portaria 78, de 2005, que a regulamentou, têm instrumentos suficientes para garantir a recomposição da forma mais adequada. Segundo ele, só quando esgotam-se todas as alternativas, é que a recomposição pode ser feita em outra bacia, desde que ouvidas as autoridades competentes. A legislação atual, na visão do assessor, procurou se adequar aos níveis atuais de degradação ambiental, sem perder de vista o conceito de proteção da biodiversidade. Quanto à denúncia de que estariam vendendo a biodiversidade do Norte de Minas em detrimento da degradação do Triângulo mineiro, Ronaldo de Almeida declarou que o governo está examinando de perto essa questão.

Dúvidas - Vários deputados fizeram questionamentos sobre pontos do PL 1.829/04. Paulo Piau (PP) apresentou a proposta de que fosse feito um estudo para verificar se ainda é possível criar reservas legais no Triângulo Mineiro, dada a larga ocupação pela atividade agrícola. O deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) manifestou dúvida de viabilidade do projeto como está hoje. Para ele, os conceitos de bacia e microbacia, contidos na proposta, seriam inespecíficos, e não resolveriam o problema, citando o exemplo de uma propriedade rural na bacia do São Francisco. Pelo projeto, como a reserva legal poderia ser feita na mesma bacia, a recomposição poderia se dar noutra região do Estado. Também o deputado João Leite (sem partido) achou conveniente outra reunião para esclarecer pontos do projeto, o que motivou a aprovação do requerimento por nova audiência.

Requerimentos - Foram aprovados outros três requerimentos: do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), em que solicita audiência pública para debater os critérios de definição e distribuição do ICMS ecológico; de Sávio Souza Cruz, pedindo reunião com a Comissão de Transportes, Comunicação e Obras Públicas para debater impactos urbanos e ambientais, decorrentes da construção do Centro Administrativo em área do Aeroporto Carlos Prates, objeto de discussão do PL 2.051/05; e dos deputados Ivair Nogueira (PMDB), Laudelino Augusto e Doutor Ronaldo (PDT), que pedem audiência pública para discutir a viabilidade social e ambiental da construção da Usina Hidrelétrica de Jurumirim, em Guaraciaba.

Aprovados pareceres a PLs sobre política de recursos hídricos e energia eólica

Também na reunião, foram aprovados dois pareceres a projetos de lei. O PL 2.159/05, do deputado Antônio Andrade (PMDB), recebeu parecer de 1º turno pela aprovação na forma do Substitutivo nº 1. O projeto acrescenta artigo à Lei 13.199, de 1999, que trata da política estadual de recursos hídricos. O artigo acrescentado, 19-A, prevê que a concessão de outorga de direito de uso de água superficial a um único usuário fica limitada ao volume máximo de um terço da vazão outorgável do corpo d'água a ser captado. A critério do órgão competente e mediante justificativa técnica que inclua análise de riscos ambientais, elaborada por profissional habilitado, o limite de vazão poderá ser aumentado, em caráter precário, até o volume da vazão outorgável. O projeto também determina que o volume de água concedido em caráter precário ficará sempre disponível para a concessão de novas outorgas, observado o prazo de até 120 dias para adequação do antigo usuário e as prioridades de uso das águas da bacia. As determinações do projeto não se aplicam, por outro lado, às outorgas de direito de uso de água para abastecimento público.

No seu parecer, o relator acrescenta duas medidas previstas na legislação federal, a qual a lei estadual deve se adequar: a outorga preventiva de uso de recursos hídricos e a declaração de reserva de disponibilidade hídrico para uso de potencial de energia hidráulica. O parecer também estabelece que para as outorgas em caráter precário, os procedimento para a justificativa técnica e as situações em que será exigida análise de risco ambiental serão definidos no regulamento da lei.

Energia eólica - Outro parecer aprovado, de 2º turno, elaborado pelo relator Doutor Ronaldo (PDT), refere-se ao PL 1.736/04, do deputado Leonardo Moreira, que trata da política de incentivo ao uso da energia eólica. A proposição incentiva o uso da energia do vento, através de estudos de viabilidade, elaboração de mapas de potencial eólico, veiculação de campanhas educativas sobre vantagens da energia e concessão de benefícios tributários. Prevê também a criação do Conselho Deliberativo de Desenvolvimento e Implantação do Uso de Energia Eólica. O parecer foi pela aprovação na forma do vencido em 1º turno, ou seja, sem alterações ao projeto aprovado em plenário nesse turno.

Presenças - Deputados Laudelino Augusto (PT), presidente; Doutor Ronaldo (PDT), vice; João Leite (sem partido), Paulo Piau (PP), Sávio Souza Cruz (PMDB) e Ricardo Duarte (PT).

 

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