Gás natural é esperança de desenvolvimento para Vale do São
Francisco
Pouco antes da foz do rio Paracatu no São
Francisco, há um local onde o gás borbulha e aflora na água com
tanta abundância que é possível atear fogo na superfície do rio. É
conhecido como Remanso do Fogo. Ali perto, emanações de gás permitem
que os enxadeiros aqueçam suas marmitas sobre buracos na terra.
Oitenta kms ao norte da sede de Buritizeiro, pesquisadores
perfuraram em 1983 um poço de 800 metros de profundidade, de onde
saiu muito gás e hoje sai uma água com mau cheiro e gosto de
purgante, segundo o prefeito Chico Gameleira. "Gastaram ferragem,
areia, brita e mais de mil sacos de cimento e não conseguiram
entupir. Sai fogo em todo lugar", assegura o prefeito.
Esses relatos foram feitos pelas lideranças
políticas de Buritizeiro, de Lassance, São Romão, Ibiaí, Santa Fé de
Minas e vários outros municípios da vizinhança, numa reunião da
Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da
Assembléia Legislativa, presidida pela deputada Cecília Ferramenta,
na manhã desta terça-feira (7/6/05), no Centro Pastoral Paulo
Apóstolo, em Buritizeiro.
O geólogo Milton Romeu Franke, superintendente de
Promoção de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), disse
que já tinha conhecimento desses relatos e que não se trata,
absolutamente, de lendas dos sertanejos, e tampouco de gás
superficial produzido nos pântanos. "Temos em mãos pesquisas que
comprovam que se trata de gás natural produzido termoquimicamente,
ou seja, o mesmo gás extraído das jazidas de petróleo", assegurou.
O que ninguém sabe, segundo o geólogo, é se as
jazidas já localizadas têm dimensões que justificariam uma
exploração comercial, com instalações industriais ou de gasodutos.
Os terrenos sedimentares da bacia do São Francisco têm 600 milhões
de anos, do período proterozóico e, pela geologia, não seria
possível estimar o potencial da região. Seria necessário recorrer às
técnicas de aerogeofísica e sísmica, segundo Milton Franke. Para
superar esse desconhecimento, a ANP marcou para outubro próximo, no
Rio de Janeiro, a licitação da sétima rodada de lotes para
prospecção, incluindo a bacia do São Francisco.
Crise na Bolívia pode ajudar o Brasil
A reunião foi realizada a requerimento da deputada
Ana Maria Resende (PSDB), uma das representantes do Norte de Minas
na Assembléia. A deputada assinalou que a época é propícia para
pesquisa de novas jazidas, devido à crise política e econômica da
Bolívia, país que fornece ao Brasil a maior parte do gás aqui
consumido, e cujo problema tem como pivô exatamente as
reivindicações nacionalistas sobre as jazidas de gás.
Ana Maria pediu pesquisas extensivas na região para
que todo o potencial seja dimensionado e que o Norte de Minas possa
contribuir para a autonomia brasileira nesse recurso. "O São
Francisco nos dá a água para beber e para irrigar, e o peixe para
alimento. Agora guarda em suas entranhas essa nova riqueza, que pode
garantir uma nova era de progresso, desenvolvimento e de empregos
para a região", disse.
Já o deputado Gil Pereira (PP) vislumbrou grande
possibilidade de implantação de indústrias movidas a gás na região e
a economia, para os motoristas, de até 70% na substituição da
gasolina pelo gás veicular. Para ele, se não for viável instalar um
gasoduto, a região toda pode se desenvolver com empresas instaladas
próximas das jazidas de gás.
Francisco de Assis Soares, superintendente de
Política Energética da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico, disse que a pesquisa petrolífera no Brasil ainda é muito
escassa. "Ao longo de toda a nossa história, furamos apenas 22 mil
poços. Nos Estados Unidos, que descobriram petróleo há 150 anos, são
perfurados 10 mil poços por ano", ilustrou.
Soares criticou a escassez de investimentos da
Petrobras em Minas Gerais, estado que, com exceção da expansão da
Refinaria Gabriel Passos, estaria fora do circuito dos investimentos
milionários da empresa. "Minas tem uma matriz energética baseada nas
fontes hidrelétricas e no carvão vegetal. Temos que estudar o
território mineiro à procura de gás e petróleo", propôs.
O superintendente anunciou que o Governo de Minas
vai realizar, no início do segundo semestre, um fórum sobre o
assunto, com o objetivo de atrair e motivar possíveis empreendedores
para que participem da licitação, afastando o receio atual de que
não haja empresas interessadas em arrematar lotes. Possivelmente, a
própria Petrobras, que já teve concessões de prospecção na bacia do
São Francisco e possui levantamentos preliminares, estaria
interessada em arrematar áreas de pesquisa. A ANP tem listadas, além
da Petrobras, outras 39 concessionárias no ramo de gás natural e
petróleo.
Os prefeitos e vice-prefeitos presentes à reunião,
a começar por Cristóvão Colombo Vita Filho, de Lassance, presidente
da Associação Microrregional do Médio São Francisco, ofereceram
total colaboração às pesquisas em seus municípios. Manifestaram-se
da mesma forma Chico Gameleira, de Buritizeiro; Warmillon Fonseca
Braga, de Pirapora; Lúcio José de Rezende, de São Romão; Marquinho
Mazuque, de Santa Fé de Minas, e as lideranças de Várzea da Palma,
Ponto Chique e Ibiaí presentes à reunião.
Presenças: Deputadas
Cecília Ferramenta (PT), que presidiu; Ana Maria Resende (PSDB), e o
deputado Gil Pereira (PP).
|