Projeto proíbe carga e descarga de valores nas ruas
Proibir a carga e descarga de valores nas ruas e
obrigar as agências bancárias a manterem garagens ou locais próprios
para essas operações, melhorando as condições de segurança dos
vigilantes e evitando que a população fique exposta a risco de morte
na eventualidade de assaltos a carros-fortes. Esse é o objetivo do
Projeto de Lei (PL) 1.847/04, do deputado Márcio Kangussu (PPS), que
tramita em 1º turno e foi debatido em audiência pública da Comissão
de Segurança Pública da Assembléia Legislativa na manhã desta
terça-feira (7/6/05), a requerimento do relator da matéria, deputado
Sargento Rodrigues (PDT).
Compareceram à reunião representantes do Sindicato
das Empresas de Transporte de Valores de Minas Gerais, do Sindicato
dos Empregados em Empresas de Vigilância, o chefe de Segurança do
BH-Shopping e trabalhadores do setor de transporte de valores, que
lotaram o Plenarinho da Assembléia em apoio ao projeto. A ausência
de representante da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban),
também convidada, foi duramente criticada pelo autor e pelo relator
do projeto, que denunciaram o descaso dos bancos para com a
segurança de clientes e empregados. Para exemplificar essa
negligência, os deputados e convidados lembraram que esses
estabelecimentos financeiros insistem em não cumprir a legislação
que obriga a instalação de equipamentos de segurança como vidros
blindados e detectores de metais.
Vigilantes e empresas apresentam sugestões
A assessora jurídica do Sindicato das Empresas de
Transporte de Valores, Regina Resende Ezequiel, elogiou o projeto de
Márcio Kangussu e disse que as empresas têm investido na
qualificação dos trabalhadores. "Mas, infelizmente, por mais
treinados e corajosos que sejam, os assaltos ainda acontecem devido
aos armamentos pesados em poder dos marginais", declarou,
referindo-se a casos recentes que resultaram na morte de quatro
vigilantes este ano no Estado. Segundo ela, esses assaltos, contra
carros-fortes de uma única empresa, foram motivados pelo acesso dos
marginais a informações privilegiadas, sendo que oito pessoas da
quadrilha já foram presas. No entanto, de acordo com Regina Resende,
o número de assaltos a carros-fortes, no Estado e no Brasil, tem
diminuído, e os casos existentes têm ocorrido em rodovias ou
shopping centers.
Fila dupla - Ao falar
sobre os transtornos causados ao trânsito por carros-fortes parados
em fila dupla, ela responsabilizou o desrespeito às placas que
reservam áreas em frente a todas as agências bancárias à carga e
descarga de valores, e criticou tanto a conivência da BHTrans e do
Batalhão de Trânsito da PM com os infratores, quanto sua
inflexibilidade ao multar os motoristas das empresas que transportam
valores. Para ela, o projeto precisa ser aprimorado no que diz
respeito à exigência da construção de garagens em todas as agências
bancárias, pois isso seria difícil de ser efetivado. Regina Resende
sugeriu, ainda, que a futura lei também exija investimentos em
segurança dos estabelecimentos que utilizam serviços de transporte
de valores, a exemplo dos shoppings. Ela lembrou que em recente
assalto nas dependências do BH Shopping, em que um vigilante foi
morto, as câmeras do local estavam em manutenção, dificultando a
identificação dos marginais.
Caixas eletrônicos - Edilson Silva Pereira, presidente do Sindicato dos Vigilantes,
endossou as críticas aos bancos e shoppings e denunciou que, no
interior do Estado, para não ter gastos com a contratação dos
serviços de carros-fortes, os bancos estão obrigando funcionários a
fazerem o transporte de dinheiro de uma agência para outra. Ele
também sugeriu que sejam adotados procedimentos para agilizar o
abastecimento dos caixas eletrônicos, o que poderá diminuir o risco
de assaltos.
Também presente, o monitor de treinamento da
empresa Brinks, João Carlos Ferreira, ressaltou que o fator mais
importante para a segurança do transporte de valores é a rapidez da
ação de carga ou descarga, e que o maior inimigo é a distância a ser
percorrida pelo vigilante carregando o malote com dinheiro. Ele
também concordou com as críticas feitas pelos demais convidados e
apontou a necessidade do envolvimento de todos os setores envolvidos
para o aumento da segurança de trabalhadores e transeuntes. "O risco
dos vigilantes é maior que o de policiais, pois nós somos a caça",
finalizou.
O major Israel Calixto, chefe da Segurança do BH
Shopping, apontou dificuldades para o acesso de carros-fortes aos
estacionamentos dos shoppings, como problemas com a altura dos
veículos, e defendeu a observância dos procedimentos de segurança,
que foram revistos.
Teor do projeto
De acordo com o projeto, carga e a descarga de
valores em estabelecimentos financeiros deverão ser feitas em local
protegido e apropriado no interior do estabelecimento, sendo
proibidas em via pública. O projeto prevê, ainda, o prazo de 180
dias, a contar da publicação da lei, para os estabelecimentos se
adaptarem às normas, e multa para quem infringir a lei, ficando a
fiscalização sob responsabilidade das polícias Civil e Militar.
Na justificação do projeto, Márcio Kangussu
argumenta que o objetivo da proposta é melhorar as condições de
segurança da população. Ele lembra a crescente incidência de
assaltos a agências bancárias, o que expõe clientes, transeuntes e
trabalhadores das agências e seguranças das transportadoras de
valores a risco de morte; e os transtornos causados pela carga e
descarga de valores em via pública, com os veículos estacionados em
fila dupla.
Na avaliação de Sargento Rodrigues e do presidente
da Comissão de Segurança, Zé Maia (PSDB), a audiência foi proveitosa
e as sugestões apresentadas serão aproveitadas na elaboração do
parecer sobre o projeto. A proposição ainda será discutida pela
Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, antes de ser
votada pelo Plenário em 1º e 2º turnos.
Requerimentos aprovados
Ao final da reunião, foram aprovados oito
requerimentos:
* do deputado Weliton Prado (PT), formulando apelo
ao comandante-geral da Polícia Militar, para que seja determinado ao
Comando Regional de Uberlândia o acompanhamento especial da
manifestação popular marcada para esta quarta-feira, dia 8 de junho,
em Uberlândia, contra o aumento da tarifa do transporte coletivo, de
forma a ressaltar o diálogo e a tranqüilidade e impedir, de qualquer
das partes, o uso da violência;
* do deputado Durval Ângelo (PT), propondo a
realização de audiência pública conjunta com a Comissão de Direitos
Humanos para debater as condições da guarda de presos no sistema
prisional do Estado, sobretudo os estabelecimentos de guarda
provisória;
* do deputado Antônio Júlio (PMDB), para que seja
realizada audiência pública em conjunto com a Comissão de Direitos
Humanos em Pará de Minas, para analisar a desativação de cadeias
públicas, além de visita à penitenciária Pio Canedo e 47ª Delegacia
Regional de Segurança Pública;
* do deputado Carlos Pimenta (PDT) para que seja
feita audiência da comissão em Montes Claros, para esclarecimento
dos reais objetivos do Centro de Recuperação de Menores daquela
localidade;
* do deputado Sargento Rodrigues, propondo a
realização de audiências públicas nas macrorregiões do Estado com a
finalidade de traçar um diagnóstico completo da situação da
segurança pública em Minas Gerais;
* do deputado Ermano Batista (PSDB), para que seja
realizada audiência pública com representantes do Conselho de
Criminologia e Política Criminal do Estado, para estudar
alternativas de gestão para o sistema penal. A audiência foi marcada
para o dia 15 de junho, às 10 horas;
* do deputado Rogério Correia (PT), pedindo
audiência pública para debater supostas irregularidades apontadas
pelo Ministério Público estadual na compra de 72 câmeras para o
programa denominado "Olho Vivo", na Capital; e
* do deputado Sargento Rodrigues, solicitando ao
ministro da Defesa, José Alencar, a adoção de providências
necessárias para que policiais civis e militares possam ter o porte
de pistola "ponto 40", mais modernas e eficientes que os armamentos
normalmente utilizados.
Presenças - Deputados Zé
Maia (PSDB), presidente da comissão; Antônio Júlio (PMDB), Sargento
Rodrigues (PDT), Weliton Prado (PT) e Márcio Kangussu (PPS).
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