CPI da Mina Capão Xavier ouvirá ex-procurador Jurídico da PBH

A CPI da Mina Capão Xavier recebe, nesta quinta-feira (9/6/05), o consultor técnico especializado da Prefeitura de Be...

09/06/2005 - 11:08
 

CPI da Mina Capão Xavier ouvirá ex-procurador Jurídico da PBH

A CPI da Mina Capão Xavier recebe, nesta quinta-feira (9/6/05), o consultor técnico especializado da Prefeitura de Belo Horizonte Marco Antônio de Resende Teixeira, que foi procurador jurídico do município. A reunião será às 10 horas, no Plenarinho IV. A comissão parlamentar de inquérito foi criada para apurar a regularidade dos processos de licenciamento prévio, instalação e de operação das atividades da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) no Estado, bem como do julgamento dos recursos dos autos de infração atribuídos a essa mineradora, que é subsidiária da Companhia Vale do Rio Doce. Até agora, os deputados ouviram 12 pessoas e fizeram uma visita técnica à Mina Capão Xavier.

Capão Xavier é um empreendimento da MBR em Nova Lima que conta com uma reserva de 173 milhões de toneladas de minério de alto teor de ferro, uma das últimas reservas de alto teor do Quadrilátero Ferrífero, com previsão de exploração de 22 anos, com 8 milhões de toneladas/ano, representando 20% da produção da empresa. Ela entrou em operação no segundo semestre de 2004, depois que o Tribunal de Justiça derrubou liminar de 1ª instância que impedia o funcionamento e após várias reuniões da Comissão de Meio Ambiente com técnicos, Ministério Público e moradores da região. Tais discussões motivaram a formação da CPI, que iniciou os trabalhos em 3 de março.

Entre as questões que poderão ser esclarecidas nessa reunião, estão aquelas relacionadas a termo de compromisso firmado entre MBR e PBH. Em 14 de abril, a comissão ouviu o funcionário público Gustavo Gazzinelli e o corretor Ricardo Santiago, que ajuizaram, em dezembro de 2003, ação popular questionando o licenciamento. Segundo Gazzinelli, a aprovação para funcionamento de Capão Xavier foi precedida desse termo de compromisso. Pelo acordo, em caso de acidente que comprometesse os mananciais, uma comissão analisaria o caso e proporia alterações somente para o plano de lavra seguinte, para que o problema não se repetisse. Mas cada plano de lavra dura cinco anos, segundo Gazzinelli. "Coincidentemente, na mesma época (março de 2003), a PBH recebeu da MBR doação de R$ 1,5 milhão para construir casas para as vítimas das chuvas", denunciou.

A ação popular também acusa a ausência de uma audiência pública com a população de Belo Horizonte para discutir a permissão para atividades minerárias na área de preservação ambiental. O Conselho Municipal de Meio Ambiente enviou ao Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) uma moção pedindo uma audiência pública na Capital para discutir o assunto. "Pouco tempo depois, o secretário municipal de Meio Ambiente de BH foi exonerado e parte de sua equipe pediu demissão. Parece que a pressão contra essa audiência era muito grande", acusou Gazzinelli.

De fato, uma audiência pública para tratar do assunto foi realizada no Jardim Canadá, bairro de Nova Lima vizinho ao empreendimento. Mas os ambientalistas reclamam que a maior parte da população de Belo Horizonte foi alijada do processo de discussão. Segundo Gazzinelli, o governo do Estado se recusou a promover uma audiência para discutir a questão. "Decisões desse tipo tomadas sem ouvir a comunidade podem até ser legais, mas não têm legitimidade", criticou.

Em 19 de maio, a CPI aprovou requerimento do deputado Antônio Júlio (PMDB) para que a PBH apresente os relatórios elaborados pelas consultorias contratadas pelo município, constantes dos anexos I e II desse termo de compromisso firmado entre a MBR e a Prefeitura Municipal, em 20 de março de 2003. Do deputado Fábio Avelar, foi aprovado requerimento para que seja convidado a prestar esclarecimentos à CPI Murilo de Campos Valadares, secretário Municipal da Coordenação de Política Urbana e Ambiental à época da assinatura do termo de compromisso, e também o então procurador jurídico da PBH.

Já em depoimento à CPI no dia 26 de abril, o promotor Fernando Galvão, da Curadoria de Proteção ao Meio Ambiente, citou vários problemas no processo de licenciamento da mina. Entre eles, a falta de previsão da área de reserva legal no terreno de propriedade do município de Belo Horizonte. Nesse terreno, com autorização da prefeitura da Capital, foi construída uma estrada para escoamento da produção da mina e o licenciamento para essa estrada foi concedido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). Na ação judicial impetrada pelo Ministério Público contra a exploração da mina, é questionada a cessão de benefício de uso de terreno público para empresa privada, sem autorização da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Saiba quem a CPI ouviu até agora; visita técnica à mineração foi no dia 24 de maio

* 2/6/05: a comissão ouviu o advogado Otávio Gonçalves Freitas, um dos autores de ação popular contra a MBR, e a diretora de Indústria e Mineiração da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Zuleika Chiacchio Torqueti. Freitas disse que a operação da mina foi liberada, apesar de estar na Área de Preservação Ambiental (APA) Sul, criada para preservar principalmente os mananciais para abastecimento de água da RMBH. O advogado disse também que a MBR, em seus estudos, teria citado várias leis, mas ignorado a Lei 10.793, de 1992, que trata da proteção de mananciais para abastecimento público. Nesse caso, o órgão ambiental teria a obrigação de cobrar explicações do empreendedor. A diretora da Feam afirmou que a lei não proíbe empreendimentos em mananciais, desde que se cumpram os condicionantes - nesse caso, são 33, grande parte voltados para o monitoramento. Mensalmente, é monitorada a qualidade das águas superficiais em vários córregos e também das águas subterrâneas. As detonações e vibrações são medidas todo semestre, com o primeiro relatório tendo sido elaborado no segundo semestre de 2004, apresentando valores dentro do permitido, quanto ao nível de ruído e outros aspectos. O monitoramento do ar, iniciado antes da operação da mina, revelou a redução de partículas na atmosfera.

* 24/5/05: a comissão visitou a Mina de Capão Xavier, mas a inspeção foi prejudicada por causa da forte neblina. O gerente de meio ambiente da MBR, Leandro Quadros Amorim, e o engenheiro responsável pela mina, Marco Aurélio Amaral, informaram que o nível de ruído e a emissão de poeira estão dentro do permitido. Amaral disse que, para secar o minério e permitir a sua exploração, a MBR perfurou um poço com 200 metros de profundidade e dele bombeia 230 m³ de água límpida por hora. Essa água vai por tubulação até o sistema da Copasa no viaduto da Mutuca, sendo suficiente para abastecer três bairros da região. Quanto à recarga dos aqüíferos, a comissão demonstrou preocupação com o rebaixamento de Capão Xavier, que é divisor de águas entre afluentes do Ribeirão Arrudas e do Rio das Velhas. Os engenheiros informaram que a mina, dentro de 20 a 25 anos, ao final da exploração, será um grande lago, maior que a Pampulha, e que servirá ao abastecimento da Capital. No entanto, técnicos que acompanharam a visita alertaram que o empreendimento não tem licença do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) para rebaixar o lençol freático até onde pretende.

* 19/5/05: a comissão ouviu o ex-superintendente Jurídico da Copasa Pedro Scapolatempore. Na opinião dele, a Lei 10.793, de 1992, que trata da proteção de mananciais para abastecimento público, não foi descumprida no licenciamento da mina. A lei veda, no artigo 4º, a instalação, nas bacias de mananciais, de empreendimentos que comprometam os padrões mínimos de qualidade das águas. É a expressão "padrões mínimos" que, segundo Scapolatempore, mostra que a lei não está sendo desrespeitada. Ele foi chefe do setor jurídico de 1983 a 2003.

* 12/5/05: a comissão ouviu a diretora de Instrumentalização e Controle do Instituto de Gestão das Águas (Igam), Célia Maria Fróes, e o assessor da Diretoria de Operação Metropolitana da Copasa Rômulo Perili. Este assegurou que não há possibilidade de desabastecimento de água na RMBH em função da exploração da mina. A Copasa deu sua anuência à lavra após estudos que começaram em 1989. Segundo Perili, os mananciais que poderiam ser afetados com a mineração - o sistema de Morro Redondo - representam 3,5% da capacidade de produção de água na RMBH; e a Copasa opera com um sistema integrado de transferência de água de diferentes mananciais. Célia Fróes negou qualquer irregularidade no parecer do órgão, que subsidiou o licenciamento de operação da mina. Explicou que foram concedidas três outorgas de utilização das águas. Uma para perfuração de poço para pesquisa hidrológica; outra para construção de barragem para contenção de sedimentos e para captação de água do Córrego Seco (afluente do Ribeirão dos Fechos); e a terceira para que a empresa desviasse pequeno trecho do córrego. Os dois cursos compõem a bacia que abastece a população da região Sul de BH, cerca de 400 mil habitantes. Antes dessas licenças, o Igam emitiu parecer que subsidiou a decisão da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) na concessão da licença prévia do empreendimento, que impunha condicionantes à empresa, como a necessidade de monitorar a água da mina.

* 4/5/05: a comissão ouviu Inácio Pereira Garcia Júnior, ex-gerente regional do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em Barbacena. Ele negou que tenha desconsiderado a exigência de reserva legal de no mínimo 20% da área florestal, quando autorizou o desmatamento para construção da estrada que liga a mina à BR-040. Ele disse que, até quando participou do processo, a questão das medidas compensatórias estava prevista, mas seriam negociadas quando fosse tratada a licença para a cava da mina. Garcia Júnior trabalhou no IEF até 12/12/03.

* 28/4/05: a comissão ouviu o procurador-chefe da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Joaquim Martins da Silva Filho, que refutou irregularidades e interferências políticas e econômicas para aprovar a licença. Garantiu que seu parecer foi baseado em relatórios avalizados pela Feam. Em sua opinião, a Lei 10.793 não foi interpretada "gramaticalmente" porque isso inviabilizaria qualquer empreendimento no Quadrilátero Ferrífero. Frisou que a liberação para o funcionamento da mina é de responsabilidade da sociedade, representada no Comitê Estadual de Política Ambiental (Copam), que reúne setor produtivo, ongs e governo (inclusive da ALMG e MP). A comissão também ouviu o procurador do Estado César Raimundo da Cunha.

* 26/4/05: a comissão ouviu o promotor Fernando Galvão, da Curadoria de Proteção ao Meio Ambiente, que apontou falhas e omissões no parecer da Feam e no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que balizaram o licenciamento para operação da mina. Ele é um dos autores da ação que tramita na Justiça contra a exploração. Entre os problemas, está a falta de um plano de gestão hídrica que demonstre a garantia de abastecimento de água para moradores de Nova Lima. Além disso, hoje classificada como "especial", a água vai passar para "classe dois", o que implica decréscimo de pureza. A cava da mina terá 60 milhões de m³, 1 km² de superfície e profundidade de 140 metros. O parecer da Feam teria várias contradições. Entre elas, a informação de que, em determinado ponto, a exploração vai atingir o lençol freático, que terá de ser rebaixado. Contudo, os impactos não estão detalhados pela empresa MDGel, contratada pela MBR para fazer o EIA.

* 14/4/05: a comissão ouviu o funcionário público Gustavo Gazzinelli e o corretor Ricardo Santiago, que ajuizaram, em dezembro de 2003, ação popular questionando o licenciamento. Eles temem o impacto negativo da mineração sobre a qualidade das águas e criticaram a atuação do Copam. Segundo eles, a câmara de atividades minerárias do Copam, que autorizou a exploração da mina, estaria comprometida com os interesses das mineradoras. De acordo com Santiago, a mina fica dentro da APA da Mutuca, em Nova Lima, e o EIA elaborado pela própria MBR aponta a possibilidade de redução de 40% na vazão da água dos mananciais. Quando a mina estiver esgotada, em 2025, a cava dará lugar a um lago cujas águas não têm previsão para utilização para consumo humano. Outra irregularidade seria a contratação da empresa espanhola Frasa Ingenieros pela MBR para a elaboração da análise preliminar que serviu de base para o EIA. De acordo com Santiago, a empresa não tem registro no Crea-MG e, portanto, não estaria autorizada a fazer esse tipo de trabalho. O estudo prévio foi entregue em espanhol, o que não é permitido pela legislação brasileira, segundo o engenheiro. Foi ouvida também Delze Laureano.

 

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