Advogado e Feam divergem sobre cumprimento de leis pela MBR

O advogado Otávio Gonçalves Freitas, um dos autores de ação popular contra a MBR, e a representante da Fundação Estad...

02/06/2005 - 00:00
 

Advogado e Feam divergem sobre cumprimento de leis pela MBR

O advogado Otávio Gonçalves Freitas, um dos autores de ação popular contra a MBR, e a representante da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Zuleika Chiacchio Torqueti, posicionaram-se de formas opostas em relação ao licenciamento para a Mina Capão Xavier. Os dois prestaram depoimento, nesta quinta-feira (2/6/05), à CPI da Mina Capão Xavier da Assembléia. Freitas questionou diversos aspectos legais e técnicos que teriam sido ignorados pelos órgãos ambientais do Estado ao conceder a licença para funcionamento da mina, ao passo que a técnica da Feam afirmou que todos os requisitos pertinentes foram considerados no caso.

Uma das irregularidades cometidas, segundo Otávio Freitas, foi a liberação de operação da mina, sendo que está na Área de Preservação Ambiental (APA) Sul, criada com o objetivo de preservar principalmente os mananciais para abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Outros decretos estaduais enquadram os mananciais de Fechos, Mutuca, Barreiro e Catarina como detentores de qualidade especial nas suas águas, não sendo tolerada nelas qualquer espécie de degradação. O advogado disse também que a MBR, em seus estudos, teria citado várias leis, mas ignorado a Lei nº 10.793, de 1992, que trata da proteção de mananciais para abastecimento público no Estado. E, nesse caso, o órgão ambiental teria a obrigação de cobrar explicações do empreendedor quanto a essa omissão.

Por ter acompanhado a maioria dos processos de licenciamento de minas da MBR, o advogado, de início, fez um histórico sobre eles, avaliando que em todos houve uma série de equívocos e omissões, que geraram um grande passivo ambiental para a sociedade. Ele citou irregularidades envolvendo licenciamentos das minas da empresa para endossar sua tese de que os processo de licenciamento são, na verdade, a legitimação dos interesses do setor minerário. Outro problema seria o descumprimento ou cumprimento parcial de medidas compensatórias e mitigadoras, com as quais a empresa se compromete no momento de obter o licenciamento, ignorando-as depois.

Fragmentação - Outra falha grave apontada seria a visão fragmentada da legislação, que levaria os órgãos ambientais a licenciarem cada empreendimento em separado. Para Freitas, os empreendimentos da MBR - as minas de Tamanduá, Gama, Fechos, Capitão do Mato e Capão Xavier - fazem parte de um mesmo complexo minerário . Para mostrar a influência de um empreendimento em outro, ele falou do rebaixamento do lençol freático, processo que ocorre em todas as minas da MBR, com exceção da Mina do Gama. "Do ponto de vista ambiental, a atividade minerária, necessariamente, compromete a estrutura geológica local, devido às explosões, o que pode gerar a comunicação entre mananciais e comprometer, no futuro, o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte", ressaltou.

Feam acha que Capão Xavier está em acordo com Lei nº 10.793

O relator da CPI, deputado Domingos Sávio (PSDB), questionou a diretora de Indústria e Mineração da Feam, Zuleika Torqueti, quanto ao cumprimento da Lei nº 10.793, tanto em Capão Xavier, quanto em outras minerações. Com opinião contrária à do advogado, ela respondeu que o empreendimento da MBR está, sim, de acordo com essa legislação; o que muda é a interpretação jurídica. "A Lei nº 10.793 não proíbe empreendimentos em mananciais, desde que se cumpram os condicionantes; temos inúmeras minerações em áreas de mananciais", afirmou, complementando que todos os empreendimentos minerários têm monitoramento periódico da qualidade de suas águas, do controle de efluentes, do ar, fauna e flora.

Domingos Sávio perguntou se, do ponto de vista técnico, os estudos sobre a mina contemplam impactos ambientais que poderão advir da atividade, ao que Zuleika respondeu que os estudos foram satisfatórios. O relator questionou também o acompanhamento das operações em Capão Xavier. Ela respondeu que a licença de operação da mina traz 33 condicionantes, grande parte voltados para o monitoramento. Mensalmente, segundo a diretora da Feam, é monitorada a qualidade das águas superficiais em vários córregos, e também das águas subterrâneas (medindo-se a vazão). As detonações e vibrações são também medidas todo semestre, com o primeiro relatório tendo sido elaborado no segundo semestre de 2004, apresentando valores dentro do permitido, quanto ao nível de ruído e outros aspectos. O monitoramento do ar, iniciado antes da operação da mina, revelou, segundo a Feam, a redução de partículas na atmosfera.

Trabalhos da CPI foram prorrogados por até 60 dias

A prorrogação dos trabalhos da CPI da Mina Capão Xavier, por até mais 60 dias, também foi aprovada na reunião. Requerimento nesse sentido foi apresentado pelo deputado Antônio Júlio (PMDB), que foi questionado pelo relator da comissão, deputado Domingos Sávio. Para o relator, a comissão ainda tem mais um mês de trabalho, antes que vença o prazo regimental, de 120 dias. Ele ponderou que seria melhor que, na ocasião, fosse solicitada essa prorrogação, mas o requerimento de Antônio Júlio foi colocado em votação e aprovado.

Requerimentos - Foram aprovados mais três requerimentos de Antônio Júlio. Um solicitando que sejam informados, pela Feam, os nomes das empresas que fazem monitoramento ambiental na Mina de Capão Xavier. Outro requerimento solicita que a MBR informe se a empresa Frasa Ingenieros ainda faz trabalhos para a mineradora no empreendimento, conforme noticiado pelo jornal Hoje em Dia, de 29 de maio deste ano. O terceiro requerimento solicita que o Igam seja oficiado para informar se a MBR já protocolou pedido de rebaixamento do lençol freático e, caso tenha feito, que envie cópia do documento à comissão.

A CPI aprovou ainda requerimento do deputado Leonardo Quintão (PMDB) para que seja solicitado à Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais estudo da qualidade da água da cava de Águas Claras, considerando que o estudo atual foi feito pela MBR. Outro requerimento, do deputado Irani Barbosa (PTB), foi rejeitado pela Comissão. O parlamentar requisitava à Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia informação de qual seria, precisamente, o objeto de investigação da CPI: se apenas o empreendimento de Capão Xavier ou todos os licenciamentos ambientais concedidos à MBR. A iniciativa surgiu após um debate no início da reunião, em que o relator solicitou ao advogado Otávio Freitas que se ativesse apenas a fatos relacionados a Capão Xavier. Nesse momento, os deputados Irani Barbosa e Antônio Júlio saíram em defesa do depoente, insistindo que o objetivo da CPI era apurar não só irregularidades nessa mina, mas também em outros processos de licenciamento da MBR.

Presenças - Deputados Márcio Kangussu (PPS), presidente; Domingos Sávio (PSDB), relator; Antônio Júlio (PMDB), Dinis Pinheiro (PL), Leonídio Bouças (PTB), deputada Lúcia Pacífico (PTB), Ermano Batista (PSDB), Irani Barbosa (PTB), Fábio Avelar (PTB), Adalclever Lopes (PMDB), Leonardo Quintão (PMDB) e Gustavo Corrêa (PFL).

 

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