Sindieletro acusa Cemig de ser campeã em acidentes de trabalho

A Cemig é a distribuidora de energia campeã em acidentes de trabalho, acusou nesta quarta-feira (1o/6/05) o coordenad...

01/06/2005 - 00:01
 

Sindieletro acusa Cemig de ser campeã em acidentes de trabalho

A Cemig é a distribuidora de energia campeã em acidentes de trabalho, acusou nesta quarta-feira (1o/6/05) o coordenador-geral do Sindieletro, Marcelo Correia. Ele participou de reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa que discutiu a ocorrência de acidentes de trabalho na empresa, a requerimento do presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT). De acordo com dados da Fundação Coge apresentados pelo sindicalista, 149 trabalhadores terceirizados foram afastados em 2003 por causa de acidentes de trabalho. O número está bem acima da média do setor, que é de 14 afastamentos por ano.

Entre 1996 e 2004, foram registrados 65 acidentes fatais na empresa, o que representa uma morte a cada 51 dias. Foram 16 acidentes com trabalhadores do quadro próprio da Cemig e outros 49 com contratados por empresas prestadoras de serviço. O número total de acidentados com lesão nesse período foi de 7.744, segundo o levantamento da Fundação Coge. Neste ano, já foi registrado um acidente fatal com funcionário terceirizado. O coordenador da regional Metalúrgica do sindicato, Lúcio Guterres, lembrou ainda o recente desaparecimento de um eletricista terceirizado. No último domingo (26), Sérgio Lima Fernandes foi visto pela última vez fazendo reparos na rede elétrica na Serra da Moeda. As primeiras notícias veiculadas na imprensa dão conta de que o eletricista sofre de problemas mentais.

Terceirização é causa de acidentes

Os sindicalistas atribuem o elevado número de acidentes à terceirização. O número de trabalhadores da empresa encolheu de 17 mil em 1994 para pouco mais de 11 mil atualmente, apesar da ampliação do número de consumidores. "Apesar de não ter sido privatizada, a substituição de mão-de-obra aconteceu da mesma forma na Cemig. O resultado é o total despreparo dos funcionários terceirizados, jornadas de trabalho excessivas e ausência de equipamentos de segurança", disse Marcelo Correia. Ele lembrou ainda que o quadro funcional da Cemig conta com assistência médica, plano de carreira e treinamentos constantes, benefícios que não são estendidos ao pessoal das empreiteiras prestadoras de serviço.

Como resultado desse desamparo, os terceirizados são cinco vezes mais sujeitos a acidentes de trabalho que os funcionários efetivos. Muitos encontram-se desamparados tanto pela estatal quanto pelas prestadoras de serviço. É o caso de Milton Ribeiro Marcelino, que perdeu as duas pernas e o braço esquerdo em um acidente há 15 anos. Contratado pela Contemporânea Engenharia Ltda., ele era ajudante de eletricista, mas exercia a função de eletricista quando, ao fazer a manutenção da rede elétrica em Vespasiano, um cabo arrebentou e ele tomou um choque de 7,9 mil volts. Ele reclama que nunca recebeu nenhum tipo de ajuda das duas empresas.

Acidentado em 1991, quando fazia reparos na subestação Jatobá, em Belo Horizonte, Genivaldo Loreti perdeu um braço e luta até hoje para receber indenização. A Tratex, empresa para a qual ele trabalhava, sempre recorre das decisões judiciais que determinam o pagamento de indenização. Quanto à Cemig, segundo ele, a empresa limitou-se a fazer um relatório que apontou negligência do próprio Genivaldo durante a manobra de desligamento da subestação.

MP denuncia irregularidades na contratação de empresas

As irregularidades na terceirização levaram o Ministério Público do Trabalho a mover uma ação civil pública contra a Cemig. De acordo com a promotora Luciana Marques Coutinho, uma das autoras da ação, a empresa está contratando funcionários terceirizados para exercer tarefas de sua atividade-fim, como manutenção da rede elétrica e leitura de medidores de energia. "Somente em 2003, foram firmados 394 contratos de prestação de serviço. As empresas contratadas praticam diversas irregularidades e descumprem normas de segurança no trabalho", informou.

De acordo com a promotora, fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) realizada no ano passado descobriu que muitas empresas prestadoras de serviço não submetem os funcionários a exames médicos periódicos nem fornecem equipamentos básicos de segurança. "É impressionante observar a ocorrência de acidentes idênticos ano após ano, sem que a Cemig tome providências para evitá-los", acusou. Outro foco de irregularidades, constatadas em março deste ano, é no canteiro de obras da usina de Irapé, onde a DRT aplicou 55 autos de infração nas empresas contratadas e outros nove na própria Cemig. "Foram encontrados até menores de idade em atividades insalubres", revelou.

A ação civil pública está pendente no Tribunal Superior do Trabalho, que vai decidir onde a causa vai ser julgada.

Empresa quer reduzir número de acidentes

O superintendente de recursos humanos da Cemig, Ricardo Luís Diniz Gomes, não rebateu as acusações feitas contra a empresa, mas enumerou a série de ações que vêm sendo tomadas para reduzir os acidentes de trabalho. Entre as medidas implementadas, estão a adoção de itens de segurança em conformidade com a normatização do Ministério do Trabalho, a criação de comissões de prevenção de acidentes, cláusulas mais rigorosas nos contratos com as prestadoras de serviços e a construção de centros de treinamentos para os funcionários terceirizados. Entre 2002 e 2005, foram investidos R$ 32 milhões em treinamentos e campanhas educativas. Todos os eletricistas terceirizados já foram treinados para o uso correto de equipamentos de segurança. "Nossa meta é zerar o número de acidentes", disse o superintendente.

Para o superintendente de distribuição da Cemig, César Vaz de Melo Fernandes, a empresa não tem condições de funcionar sem os terceirizados. Só o programa Luz para Todos, que pretende universalizar o acesso à energia elétrica, vai exigir a construção de 60 mil quilômetros de linhas de transmissão em Minas Gerais, o que deve exigir a contratação de 3.500 trabalhadores. As obras da usina de Irapé também exigem a contratação simultânea de outros 3.500 homens. "Mas a empresa continua aberta a negociações para encontrar uma alternativa para manter a energia a preços competitivos", completou.

Deputados vão cobrar providências

Os deputados Alberto Pinto Coelho (PP), líder do Governo, e Zé Maia (PSDB), defenderam a atuação da Cemig. "A solução é a fiscalização mais rigorosa do trabalho dos terceirizados por parte da DRT e do Ministério Público", defendeu Zé Maia. Já os deputados petistas Rogério Correia, Durval Ângelo e Elisa Costa criticaram o crescimento da terceirização e disseram que vão cobrar providências do presidente da empresa, Djalma Morais. Requerimento com essa finalidade, de autoria do deputado Durval Ângelo, foi aprovado ao final da reunião. Do mesmo deputado, foram aprovados outros dois requerimentos pedindo providências às autoridades competentes e solicitando ao Instituto Médico-Legal um levantamento do número de óbitos por acidentes de trabalho na Cemig.

Comissão recebe denúncias do Vale do Rio Doce

A comissão ouviu também denúncias de agressões sofridas por vereadores de Tumiritinga, no Vale do Rio Doce. Paulo Alves Torres e Renato Medeiros Guimarães teriam sido agredidos pelo prefeito Sílvio Perez Vidal ao terem solicitado a distribuição de medicamentos de uso contínuo para idosos. Os vereadores receberam o apoio dos deputados Ermano Batista (PSDB), Elisa Costa e Durval Ângelo. Este apresentou requerimento pedindo providências à Polícia Civil e ao Ministério Público.

Outra denúncia que chegou à comissão diz respeito a suposto abuso de autoridade em Resplendor, outra cidade do Vale do Rio Doce. O ex-prefeito Gilmar Furtado Dias relatou estar sendo vítima de perseguição por parte das autoridades locais. Como providências, o deputado Durval Ângelo apresentou dois requerimentos para uma audiência com o corregedor geral de Justiça e para a realização de uma reunião com convidados em Resplendor. Os deputados Ermano Batista e Elisa Costa também manifestaram solidariedade ao ex-prefeito.

Foram aprovados ainda outros 25 requerimentos, dos quais seis destinam-se à realização de audiências públicas:

* do deputado Doutor Viana (PFL), para reunião conjunta com a Comissão de Saúde, para discutir a situação dos asilos no Estado;

* do deputado Durval Ângelo (PT), para discutir violações de direitos humanos no bairro Novo Tirol, no Barreiro; para debater a formação de agentes da Polícia Federal e de recrutas do Exército; para discutir o aumento da violência em Patrocínio; para debater novamente o assassinato de Vianei Ferreira Campos em Araçuaí, caso o acusado, Hermelino Ribeiro Evangelista, não tenha sido julgado até dezembro; para reunião conjunta com a Comissão de Segurança Pública para debater as condições de guarda dos presos no sistema prisional do Estado.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice; Zé Maia (PSDB), Elisa Costa (PT), Alberto Pinto Coelho (PP), Antônio Júlio (PMDB), Rogério Correia (PT) e Célio Moreira (PL), além do delegado regional do Trabalho substituto Mário Parreiras de Ferreira, e do diretor-executivo do Sindimig (sindicato patronal das empresas prestadoras de serviço no setor elétrico), Gustavo Charlemont.

 

 

 

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