Minas poderá ter lei e ações de prevenção e combate à surdez

Minas Gerais poderá ganhar 13 unidades de média e alta complexidade para atendimento dos portadores de deficiência au...

01/06/2005 - 00:00
 

Minas poderá ter lei e ações de prevenção e combate à surdez

Minas Gerais poderá ganhar 13 unidades de média e alta complexidade para atendimento dos portadores de deficiência auditiva nas macrorregiões de saúde do Estado. A informação foi prestada pelo coordenador de Atenção à Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência da Secretaria de Estado da Saúde, Marcílio Dias Magalhães, que falou aos deputados da Comissão de Saúde, nesta quarta-feira (1º/6/05). O credenciamento dessas unidades poderá contribuir para suprir um pouco da carência desses indivíduos - 2,250 milhões em todo o Brasil - que enfrentam sérios problemas quando esbarram na rede pública de atendimento. O diagnóstico tardio no País, com quatro anos de vida em média, é determinante para agravar o quadro.

A audiência foi realizada a requerimento da deputada Jô Moraes (PCdoB), visando colher subsídios para o Projeto de Lei (PL) 1.916/04, de sua autoria, que promete ajudar a reverter a situação difícil daqueles que têm deficiências auditivas. A proposição recebeu elogios de fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas. Para eles, o projeto é abrangente e tem um diferencial: o aspecto positivo de pensar além do diagnóstico, determinando uma política pública de prevenção e combate à surdez na infância e no recém-nascido. Para os convidados, o projeto representa um avanço, quando comparado à Lei 14.312, de 2002, que determina a realização gratuita, no prazo máximo de 30 dias após o parto, do exame de emissões evocadas otoacústicas - o "teste do ouvidinho" - nas crianças nascidas nas dependências dos hospitais da rede pública do Estado.

As 13 unidades que prestarão atendimento ambulatorial deverão ser instaladas nos seguintes municípios: Montes Claros, Alfenas, Pouso Alegre, Patos de Minas, Uberaba ou Uberlândia, Juiz de Fora, Diamantina, Barbacena ou Ponte Nova, Belo Horizonte, Teófilo Otoni e Governador Valadares. Segundo Marcílio Magalhães, já foram encaminhados ao Ministério da Saúde quatro processos de credenciamento, mas não é possível fixar data para o início do serviço. Ele reconheceu que a Secretaria não conseguiu operacionalizar portarias do Ministério da Saúde que tratavam da questão, pois temia credenciar unidades sem poder ofertar uma política de assistência e acompanhamento - e não apenas se restringir a fazer diagnósticos e dar aparelhos auditivos.

Os primeiros passos para mudar essa realidade foram dados pelo Ministério da Saúde, quando publicou a Portaria 2.073, de 2004, que instituiu a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Ela determina que a política será implantada de forma articulada entre Ministério, Secretarias estaduais e municipais de Saúde. Já o projeto da deputada Jô Moraes, que tramita em 1º turno e aguarda parecer na Comissão de Saúde, institui a Política Estadual de Prevenção e Combate à Surdez na infância e em recém-nascidos. Segundo a autora, o projeto reflete as necessidades e as demandas da sociedade. O relator, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), que preside a comissão, complementou que a futura lei vai obrigar e motivar o Estado a executar as ações que lhe cabem.

Conteúdo - O PL 1.916/04 determina que as maternidades públicas e estabelecimentos hospitalares congêneres oferecerão gratuitamente às crianças de até seis meses o "teste do ouvidinho". Avança ao estabelecer que, identificada a perda auditiva, o processo de confirmação diagnóstica de surdez será realizado por equipe multidisciplinar, que encaminhará o paciente para os procedimentos necessários à sua condição. Estabelece infrações a quem descumprir a futura lei.

A política abrangerá: disponibilização de informação à população sobre os sintomas indicativos da ocorrência da doença; avaliação médica preventiva e precoce; avaliação de todo recém-nascido antes da alta médica hospitalar; exames periódicos; intervenção precoce; tratamento; orientação a pais e professores; acompanhamento audiológico para os casos indicados de perdas progressivas de audição; profissionais multidisciplinares, incluindo médicos otorrinos e pediatras, fonoaudiólogos, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais; coordenadores com experiência na área de audiologia infantil; professor de surdos; fornecimento de próteses auditivas necessárias à reabilitação.

Profissionais destacam "teste do ouvidinho"

Os profissionais convidados a participar da reunião destacaram os pontos positivos do "teste do ouvidinho" e o que pode representar o diagnóstico precoce para a qualidade de vida das crianças. O otorrinolaringologista Alexandre Rattes destacou que no Brasil o diagnóstico da perda auditiva é tardio - em média, ocorre quando a criança está com quatro anos. A conclusão de um processo de diagnóstico no serviço público pode durar até dois anos, o que agrava o problema. O médico destacou que, com a triagem auditiva neonatal, podem ser detectadas perdas auditivas nos graus mais leves, além de o exame ser rápido, indolor e de baixo custo. "A triagem representa o primeiro passo para a detecção da surdez precoce no recém-nascido", enfatizou.

A importância da triagem também foi destacada pelo professor da PUC Minas Ricardo Godinho, que é consultor da Associação Interamericana de Otorrinolaringologia Pediátrica. Ele lembrou que, de cada 10 mil nascimentos, 30 crianças terão surdez. Para cada 10 mil nascidos, apenas dois desenvolverão anemia falciforme e 2,5, o hipotireoidismo.

A fonoaudióloga Ludmila Teixeira Fazito lembrou que o Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância preconiza que as crianças de até três meses devem passar pela triagem auditiva. Se confirmada a deficiência, é preciso tomar providências (com prótese auditiva e intervenção educacional) até os seis meses de vida. Ela defendeu que a triagem universal - de todos os nascidos - seja feita nas maternidades e que o programa de atendimento que vier a ser implantado no Estado seja interprofissional, flexível na metodologia e abrangente. "É preciso uma equipe responsável que monitore resultados e faça todo o acompanhamento necessário", sugeriu.

Essa visão de abrangência e continuidade foi destacada pela professora Maria de Fátima Garrido Rodrigues, do Centro Universitário Izabela Hendrix e do Conselho Regional de Fonoaudiologia; pela coordenadora do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Estudos Administrativos (Fead), Tânia Afonso Chavez; e por Andréia Gattoni, do Sindicato dos Fonoaudiólogos de Minas Gerais. Elas também elogiaram o projeto da deputada e lembraram o transtorno global que uma pessoa com deficiência auditiva sofre, quando passa por um diagnóstico tardio. "A situação atual do surdo é crítica. Ele tem problemas sociais, emocionais e comportamentais", ponderou Tânia Chavez. Andréia Gattoni lembrou, por sua vez, que entre 10% e 20% das perdas não são detectadas no nascimento, mas se desenvolvem ao longo da infância.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice; e a deputada Jô Moraes (PCdoB).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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