Igualdade Racial tem mais de 480 propostas para levar a Brasília

Durante a plenária final da I Conferência Estadual de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, realizada na tar...

31/05/2005 - 00:00
 

Igualdade Racial tem mais de 480 propostas para levar a Brasília

Durante a plenária final da I Conferência Estadual de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, realizada na tarde desta terça-feira (31/5/05) no Sesc Venda Nova, foram votadas as 658 propostas apresentadas na véspera pelos sete grupos de trabalho, condensadas pela assessoria do evento em 489 tópicos. No final da tarde realizou-se a eleição dos 48 delegados que vão defender as propostas na Conferência Nacional marcada para o período de 30 de junho a 2 de julho em Brasília.

O deputado João Leite (sem partido), que presidia a plenária, leu as propostas e anotou as destacadas por quem desejava modificá-las, com direito a réplica de defesa. Os destaques foram cerca de 60, e os mais polêmicos tiveram como tema a legalização do aborto, o ensino religioso nas escolas públicas e as casas para abrigar mulheres e filhos vítimas da violência doméstica.

A proposta de legalização do aborto, de número 443, tinha seqüência nas de números 451, 452, 453 e 454, que detalhavam a interrupção da gravidez indesejada, a preparação das equipes profissionais de saúde e o fornecimento de insumos. Oito participantes se inscreveram para discutir os destaques, entre eles o deputado Célio Moreira (PL), que participava da Mesa. "Não podemos admitir a legalização do assassinato de crianças. Temos que lutar pela vida", disse o deputado. Moreira já não estava presente quando a proposta foi votada, mas deixou articulada uma estratégia para combatê-la. A proposta foi rejeitada por 69 a 35 votos.

O atendimento a vítimas da violência doméstica deu também polêmica na discussão da proposta 61, pela criação de casa para albergue. Dagma, uma mulher jovem com a filha no colo, acusou essas casas de serem "locais de confinamento de mulheres, afastadas de seu trabalho, de sua casa, de seus afazeres, sem assistência psicológica, nem jurídica, enquanto os agressores se movem livremente". Denise, da casa de albergue de Belo Horizonte, argumentou que as casas servem para esconder as mulheres e as crianças do marido violento até que este seja preso. Uma senhora idosa, com a autoridade de quem trabalha num albergue em Juiz de Fora, brandiu a bengala para confirmar que as casas, "infelizmente, são depósitos de mulheres". A plenária decidiu dar nova redação à proposta.

Cerca de dez participantes se manifestaram contra e a favor da proposta 361, de exclusão, no currículo das escolas públicas, da disciplina ensino religioso, entendendo-se que o Estado é laico e que a religiosidade é assunto familiar. Muitas pessoas foram encaminhar favoravelmente, outras contra, e houve também quem propusesse incluir as religiões de matriz africana nos Conselhos de Educação. Na primeira votação, houve empate de 46 a 46 votos. Partidários de uma e outra posição foram ao saguão em busca de companheiros para votar, e a proposta finalmente foi mantida por 85 votos a 67.

A conferência terminou por volta das 19h30, com a eleição dos 48 delegados distribuídos segundo as dez macrorregiões do Estado. A etapa mais demorada foi a escolha dos representantes da Região Metropolitana de BH. O Estado indica três delegados e as prefeituras indicam oito. Dos 48 delegados escolhidos pelos participantes, o Regimento da Conferência estabelece que 60% deles têm que ser afrodescendentes; 16% do grupo de ciganos, judeus, árabes, palestinos e amarelos; 8% de indígenas e 16% de brancos comprometidos com a causa da igualdade racial.

A plenária, contudo, não teve essa proporção, sendo dominada quase inteiramente por afrodescendentes. Houve um show do Grupo Aruê, do bairro São Geraldo, com percussionistas e dançarinas de ritmos afro, e presença de babalorixás para protestar contra a depredação de terreiros de umbanda e desrespeito de policiais a sacerdotes e sacerdotisas dos cultos de matriz africana. O deputado João Leite considerou como ponto positivo a oportunidade de discutir a questão racial fora de outros enfoques. Para ele, a novidade foi a questão do direito dos quilombolas à terra que ocupam e os aspectos de saúde específicos da população negra, como a anemia falciforme.

Presenças: Deputado João Leite (sem partido), presidente; deputadas Maria Tereza Lara e Elisa Costa (ambas do PT); deputados Célio Moreira (PL) e Biel Rocha (PT).

 

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