Evento sobre igualdade racial subsidiará criação de políticas públicas

O primeiro passo para a formulação de políticas públicas de abrangência estadual e nacional em favor do respeito à di...

30/05/2005 - 00:02
 

Evento sobre igualdade racial subsidiará criação de políticas públicas

O primeiro passo para a formulação de políticas públicas de abrangência estadual e nacional em favor do respeito à diversidade racial do País aconteceu na manhã desta segunda-feira (30/5/05), na abertura da "I Conferência Estadual de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial". A conferência é uma parceria entre a Assembléia de Minas e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes (Sedese), com o apoio de várias entidades. Realizado nos mesmos moldes em outros 26 estados, o evento tem, como um dos objetivos, preparar Minas para a "I Conferência Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial", que acontece de 30 de junho a 2 de julho, em Brasília. A secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), ministra Matilde Ribeiro, participou da abertura dos trabalhos.

Em seu discurso, a ministra destacou o ineditismo da proposta de articular governos federal, estaduais e municipais, para, junto com a sociedade civil, tentar criar políticas efetivas de governo para promoção da igualdade racial. Segundo ela, além de ser um processo promissor para o Brasil, a conferência é um marco que dá seqüência a uma agenda iniciada há muito tempo pelo movimento negro, "de luta para que esse País seja respeitoso e responsável para com seus filhos". A ministra Matilde Ribeiro afirmou que as ações da pasta buscam o diálogo permanente com as outras esferas de governo, além dos demais ministérios, e, entre as prioridades, estão os remanescentes de quilombos, educação, trabalho, saúde, cultura, religião e relações internacionais.

O 3º-vice-presidente da Assembléia, deputado Fábio Avelar (PTB), representando o presidente Mauri Torres (PSDB), lembrou que apesar de sua Constituição, exemplar no campo dos direitos individuais e coletivos, e da participação em convenções internacionais, o Brasil ainda não está livre da discriminação e do preconceito contra a população negra. Já o secretário de Desenvolvimento Social e Esportes, Marcos Montes, destacou algumas ações que o governo estadual vem tomando em favor da igualdade racial. Ele elogiou a iniciativa de, pela primeira vez, União, estados e municípios se unirem com a sociedade civil para debater a questão.

Participantes fazem reivindicações

Ao longo da manhã, diversos convidados e presentes, cerca de 300 pessoas que lotaram o auditório do Sesc Venda Nova, onde o evento foi realizado, usaram a palavra para se manifestar sobre o assunto. O presidente do Conselho Estadual de Participação e Integração da Comunidade Negra, Williman Hestesany da Silva, lembrou que a luta mais efetiva da população negra, quase metade da população brasileira, segundo o IBGE, começou desde a queda da ditadura. "Temos o direito de nos tornarmos cidadãos, o que nos foi tirado há 500 anos", disse. "Paciência histórica tem limite. Precisamos a curto e médio prazo de políticas para divisão da pobreza e acesso ao poder", reivindicou o representante do Estado no Conselho Nacional de Políticas de Igualdade Racial, João Pio.

Luta é marcada pela resistência

"A história da população negra no Brasil é a história da crueldade e da violência, mas também da resistência", disse o representante da Fundação Centro de Referência da Cultura Negra, Marcos Antônio Cardoso. Ele apresentou um levantamento sobre a participação do Brasil nos movimentos negros internacionais e alertou sobre a importância de o Brasil estudar mais os movimentos negros do continente africano, "mãe de pelo menos metade de nossa população".

"Fomos a segunda maior nação escravista moderna; o último país do mundo ocidental a abolir a escravidão; e o penúltimo da América a acabar com o tráfico de escravos", lembrou a coordenadora do Nzinga - Coletivo de Mulheres Negras, Benilda Regina Paiva. Segundo ela, o País aboliu a escravidão, mas nunca parou para discutir políticas inclusivas para a população negra. "Tanto que a Lei Áurea, de 1888, tem apenas duas linhas: 'É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Revogam-se as disposições em contrário'. E o que foi feito depois com essa população negra?", questionou.

Pressão - A gerente de Projetos da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Denise Pacheco, afirmou que, mesmo quando os governos demonstram vontade de executar políticas públicas, é preciso pressão da sociedade para cobrar sua implementação. Para o mestre em Comunicação Social Edson Lopes Cardoso, os participantes da conferência devem cobrar do governo federal a inclusão das reivindicações do encontro na Lei de Diretrizes Orçamentárias deste ano, que, segundo ele, nada contém sugerindo o tema igualdade racial.

Sete grupos de trabalho apresentam mais de 600 propostas

À tarde, os participantes se reuniram em sete grupos de trabalho para debater mais de 650 propostas resultantes das conferências municipais. O grupo de trabalho 1 teve como tema geral "Gestão não racista de políticas públicas: saúde, assistência social, segurança pública e proteção da criança e do adolescente", recebendo mais de 200 propostas dos cerca de 70 participantes. A coordenadora do grupo foi Mônica Miranda, membro da União de Negros pela Igualdade (Unegro), que teve como auxiliares os consultores da Assembléia, Jurani Garcia e Regina Magalhães.

Tratando do tema "Educação e diversidade cultural", o GT-2 foi coordenado por Erisvaldo Pereira dos Santos, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Unileste/MG, tendo como consultores Francisco Mendes e Gabriela Mourão. O grupo reuniu aproximadamente 60 pessoas que discutiram também mais de 200 propostas, divididas em três subtemas educação, diversidade cultural e também a Lei Federal 10.639/03, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "historia e cultura afro-brasileira".

"Trabalho e distribuição de renda" foram os assuntos discutidos no grupo 3, coordenado pelo secretário de Políticas Sociais da Central Única dos Trabalhadores (CUT/MG), José Geraldo do Nascimento. A consultora da ALMG, Maria Lina Soares, recebeu das quase 30 pessoas mais de 60 sugestões. A coordenadora do grupo de trabalho 4 - "Religiões de matriz africana" foi Célia Gonçalves Souza, membro da Coordenação Nacional das Entidades Negras (Conen), assessorada pelo consultor Hugo Avelar. Os cerca de 25 membros do grupo debateram quase 40 propostas.

O grupo 5, que teve como temática "Comunidade remanescente de quilombos e população indígena", recebeu aproximadamente 30 sugestões dos 30 participantes. A coordenação foi do professor de Antropologia da Unimontes, João Batista de Almeida Costa, que contou com o apoio da consultora Sílvia de Paula. Sob a coordenação de Mônica Aguiar, da Executiva do Conselho Estadual de Participação e Integração da Comunidade Negra, o GT 6 enfocou "Mulher e promoção da igualdade racial". As mais de 40 pessoas do grupo trouxeram para a discussão quase 50 idéias. Por último, o menor dos grupos, o 7 - "Política internacional, refugiados e migrantes", reuniu cerca de 10 integrantes que fizeram quase 20 sugestões. O coordenador do grupo, M. Fernando Ngury, diretor-presidente do Centro de Defesa de Direitos Humanos dos Refugiados (Cedhur), teve como auxiliar o consultor da ALMG, Ricardo Moreira.

Plenária final - A plenária final será realizada nesta terça-feira (31), também no Sesc Venda Nova. Na ocasião, os delegados inscritos votarão as propostas oriundas dos sete grupos de trabalho, podendo aprovar, rejeitar e ainda acrescentar novas, desde que com a aprovação do plenário.

Além dos convidados mencionados e de representantes de diversos órgãos e entidade, participaram das atividades: a deputada Maria Tereza Lara (PT), presidente da Comissão de Participação Popular, e os deputados Célio Moreira (PL), que coordenou a segunda mesa dos trabalhos da manhã, João Leite (sem partido), Biel Rocha (PT) e Edson Resende (PT), que compareceu ao evento à tarde.

 

 

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