Direitos Humanos pede agilidade no julgamento de vereador de Itinga

Sob forte esquema de segurança para evitar conflitos entre grupos de manifestantes, realizou-se nesta manhã de quarta...

25/05/2005 - 00:02
 

Direitos Humanos pede agilidade no julgamento de vereador de Itinga

Sob forte esquema de segurança para evitar conflitos entre grupos de manifestantes, realizou-se nesta manhã de quarta-feira (25/5/05), em Itinga, no Vale do Jequitinhonha, uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, para debater as circunstâncias da morte do técnico da Emater Vianey Ferreira Campos, e os atrasos no julgamento do seu assassino, o vereador Hermelino Ribeiro Evangelista, conhecido como Mila, que não enfrentou um júri após cinco anos do crime.

Nada menos que 32 militares, sendo 14 do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), do 19º Batalhão de Teófilo Otoni, participaram da operação, sob o comando do capitão Gilson. Logo cedo, os policiais colocaram cordões de isolamento desde a ponte da cidade até a frente da Câmara Municipal, orientando o trânsito e o tráfego de pedestres para prevenir tumultos. Cada pessoa que entrava na Câmara era submetida ao detector de metais.

Os parentes e amigos do técnico assassinado chegaram em Itinga em três ônibus procedentes das cidades de Jequitinhonha e Jordânia, vestindo camisetas com o retrato de Vianey e portando balões brancos com a palavra paz. Eram pelo menos 80 pessoas, entre elas a mãe e a viúva da vítima, que entraram na cidade em passeata, cantando hinos religiosos. Um grupo de partidários do vereador Mila - pouco mais de dez pessoas portando faixas com frases de apoio - competiu com os visitantes gritando o nome do vereador, mas não houve qualquer incidente. O réu, que vinha ameaçando o prefeito petista da cidade, Charles Azevedo Ferraz, e a presidente da Câmara, Maria de Lourdes Gusmão, não foi visto durante o evento.

Faixas em defesa de Mila, afixadas diante da Câmara, foram retiradas por ordem do deputado Durval Ângelo (PT), que as considerou ofensivas à memória da vítima e um desrespeito a seus familiares e a Comissão de Direitos Humanos, do qual é presidente. Durval abriu a reunião com uma defesa do trabalho da CDH. "Trabalhamos em defesa da vida e da causa da Justiça, e não em defesa de bandidos, como dizem para condenar nossa ação. Hoje mesmo estamos aqui para exigir a punição de um bandido que se esconde atrás de um cargo público eletivo e tenta alegar motivações políticas para o torpe assassinato que cometeu", disparou Durval Ângelo.

O deputado informou que a Comissão já manifestou ao juiz de Araçuaí, Igor Queiroz, e ao promotor público, em outubro último, sua indignação pela demora em marcar o julgamento. "A resposta do juiz foi razoável, relatando os recursos interpostos e a demora em ouvir a testemunha Jussara Fernandes, que mora hoje em Vitória (ES). Acredito que desde outubro passado o processo começou a andar mais rápido, mas asseguro a todos que, se Hermelino Evangelista não for a julgamento até o dia 9 de dezembro próximo, vamos realizar audiência pública em Araçuaí", garantiu Durval Ângelo, esclarecendo que a data é a véspera do Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Essa proposta se tornou requerimento. O deputado apresentou ao todo seis requerimentos. Um deles pede que o juiz de Vitória faça a oitiva da testemunha que emperra o processo. Outro pede o envio das notas taquigráficas da reunião ao juiz e ao promotor público de Araçuaí; ao ministro dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda e ao presidente do Tribunal de Justiça, Márcio Marins, pedindo agilidade e apoio no julgamento. Durval mandou anexar ao material um folheto divulgado pelo vereador, em que tenta levantar a comunidade itinguense contra a realização da audiência pública. "No texto, o vereador mostra profunda insensibilidade, sem piedade ou arrependimento, e demonstra o quanto é perigoso para a sociedade se continuar livre", avaliou o deputado.

À Câmara Municipal, Durval sugeriu que nomeie comissão processante com vistas à cassação do vereador por falta de decoro parlamentar, antes mesmo de sua condenação na Justiça comum. Ao delegado de Itinga, o deputado requer apuração de ameaças contra o prefeito, a presidente da Câmara e outras pessoas, e que o recolha à prisão se for encontrado portando arma. Pediu ainda à Câmara que faça uma lista de todos os crimes não resolvidos, cometidos em Itinga, para requerer ao Chefe de Polícia o envio de uma equipe especial de investigação. "Isso deu certo em Mutum. Em dois meses, todos os crimes ali foram elucidados", informou.

Parentes e amigos da vítima relataram o assassinato

Parentes e amigos do técnico assassinado, vereadores de quatro cidades e o religioso Frei Pedro José de Assis, foram ao microfone dar testemunho. Bráulio Santos Vilar, em nome da família, relatou que na tarde de um sábado, 5 de fevereiro de 2000, Vianey e vários amigos comemoravam, num bar de Itinga, a reintegração do prefeito Charles Ferraz, após arquivamento de um processo que o afastou da Prefeitura por dois meses. Jussara Fernandes, adversária política dos petistas, teria informado a Hermelino sobre a comemoração. Este se armou com um revólver calibre 38, entrou no bar e desfechou três tiros contra o desafeto, atingindo ainda outro freguês e capturando um refém para fugir. Vianey foi levado às pressas ao hospital de Itaobim, a 30 km, mas já chegou sem vida. "Esses três tiros não mataram apenas nosso Vianey, destruíram sua família e deixaram um trauma para sempre em seus filhos", concluiu.

Para o prefeito Charles Ferraz, "Itinga quer paz, trabalho, justiça e progresso, mas nunca mais será a mesma depois dessa página de sua história". Jalma Chapadeiro, de Jequitinhonha, disse que a família sofre a dor da perda e a dúvida sobre a punição do assassino. Elogiou a coragem dos deputados e invocou o escudo da justiça divina para protegê-los. "Não aceito que tenha cadeia para quem rouba uma galinha e não tenha para quem mata um pai de família", questionou Valdete Cerqueira, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Jequitinhonha.

O deputado Roberto Ramos (PL) disse que "o caminho da paz não existe. A paz é o próprio caminho. O homem crê em Deus, mas não anda com Deus. Ceifar uma vida pertence apenas a quem nos criou". Frei Pedro lamentou as manifestações pela liberdade do vereador, comparando-as ao episódio da crucificação de Cristo, quando a comunidade de Jerusalém também pediu a libertação de Barrabás. "Parece que Vianey é que deve ser condenado", criticou. Ao término da reunião, Frei Pedro fez orações e apelos pela paz, junto aos visitantes.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; e Roberto Ramos (PL), vice-presidente. Além dos já citados, participaram também Simone Campos Vilar, Lucilei Alves Freitas Campos e Maria Enyr Freitas Campos, respectivamente irmã, viúva e mãe da vítima. O prefeito de Jequitinhonha, Roberto Alcântara Botelho, e os vereadores Altair Vilar Guimarães (Ipatinga); Estela Gomes da Silva e Maria de Lourdes Gusmão (Itinga); Izaldete Rodrigues Reis, Palmirênio Souza e Joana D'Arc Alcântara (Jordânia).

 

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