Parlamentares da ALMG e Câmara querem soluções para segurança bancária

Numa iniciativa inédita que reuniu parlamentares da Assembléia e da Câmara de Belo Horizonte para buscar soluções na ...

24/05/2005 - 00:00
 

Parlamentares da ALMG e Câmara querem soluções para segurança bancária

Numa iniciativa inédita que reuniu parlamentares da Assembléia e da Câmara de Belo Horizonte para buscar soluções na adoção de mecanismos de segurança para agências bancárias, a ausência de representantes dos bancos foi lamentada por vários dos participantes. Na audiência conjunta das comissões de Participação Popular e de Segurança Pública da Assembléia, nesta terça-feira (24/5/05), estiveram presentes representantes dos bancários, da Polícia Militar de Minas, além de vereadores e deputados. Diversos bancários lotaram o Auditório para acompanhar a reunião.

O presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte, Fernando Ferraz Neiva, reclamou que os banqueiros "fugiram da raia", denotando falta de seriedade e de disposição para negociar por parte deles, que seriam os principais responsáveis pela segurança nas agências. Neiva denunciou que, apesar de obterem ganhos crescentes (em 2004, o lucro dos 10 maiores bancos foi de R$ 13 bilhões), o setor bancário não investe na segurança de seus funcionários e do público. Ele lembrou também que a própria ALMG aprovou a Lei 12.971, de 1998, prevendo a instalação de mecanismos de segurança nos bancos, mas até hoje, a lei não foi regulamentada.

Segundo o sindicalista, as últimas medidas de segurança adotadas pelos banqueiros foram a instalação de câmaras de vídeo e detector de metais, dispositivos que já estariam defasados frente à nova realidade. "Há 15 anos, éramos 1 milhão de bancários; hoje, somos 400 mil". Essa redução de pessoal, de acordo com ele, facilitaria assaltos nas agências, como revelam os números trazidos pelo sindicato: em 2004, houve 75 assaltos no Estado, sendo 80% na Região Metropolitana de Belo Horizonte; em 2005, até agora, foram 29 assaltos. Ele também revelou que as modalidades de assalto se sofisticaram, com ações não apenas nas agências, mas também com o seqüestro do gerente com sua família. Toda essa situação tem levado a categoria a um estresse constante e crescente.

Reestruturação bancária deixou clientes mais inseguros

Também o secretário da Confederação Nacional dos Bancários, Miguel Pereira, destacou que a reestruturação por que passou o setor bancário, na década de 90, teve reflexos na segurança. Muitos serviços foram postos fora das agências em salas de atendimento, deixando ainda mais desprotegidos os clientes. De acordo com ele, a Lei Federal 7.102, de 1983, prevê apenas que agências bancárias devem ter vigilantes e alarme ligado às delegacias de Polícia, o que não é suficiente na atual conjuntura.

Ainda, segundo Pereira, a Portaria 995, que regulamentou essa lei, prevê a criação da comissão consultiva de segurança privada, constituída por representantes da Polícia Federal, dos banqueiros e dos bancários. Essa comissão é responsável pela feitura do mapa de segurança de cada agência bancária, mas muitos bancos não seguiriam essa determinação. Nesse sentido, ele sugeriu que câmaras e assembléias criassem leis para obrigar agências a fazerem seu mapa de segurança. Outra sugestão legislativa apontada foi que as câmaras criassem lei condicionando a concessão de alvará de funcionamento ao cumprimento da legislação e à execução desse mapa. Miguel Pereira discordou de Fernando Neiva com relação aos investimentos dos bancos em segurança: "bancos investem em segurança, sim, mas só quando é para garantir seu patrimônio".

O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Câmara de BH, vereador Délio Malheiros, registrou que, em 2001, entrou com ação civil pública nas Justiças Estadual e Federal contra 21 bancos que estariam lesando consumidores em 29 situações. Segundo Malheiros, brevemente, o caso será julgado, e caso a decisão seja favorável, as instituições bancárias serão obrigadas a dar mais segurança aos seus clientes. Na visão do vereador, os bancos estariam descumprindo o Código de Defesa do Consumidor (CDC), em vários aspectos. Um dos dispositivos prevê que todo serviço prestado tem que ser seguro, o que não ocorre nos bancos, onde "gerentes são seqüestrados e clientes usados como escudo humano, em assaltos", segundo o vereador.

Ausência de representante dos banqueiros é reclamada

"Um incômodo beirando a indignação" foi a sensação traduzida pelo vereador de Belo Horizonte, Carlão Pereira, com relação à ausência do representante do setor bancário. "Isso é um desrespeito com a categoria, à Câmara e à Assembléia, diante de uma reivindicação tão singela: que as leis sejam cumpridas!", declarou. Para o parlamentar, os bancos negam o pacto federativo ao acatarem somente leis federais. "As pessoas vivem é nas cidades", completou.

O tenente coronel PM Robson Campos, do Comando da Polícia Militar da Capital, destacou que, em relação à segurança bancária, os órgãos de segurança têm que se adequar às novas situações que se apresentam. Mas ele reforçou a necessidade do envolvimento de todos os segmentos e de toda população na busca de soluções. O militar julgou importante se criar uma agenda de discussões envolvendo as polícias Militar, Civil e Federal, representantes dos banqueiros e dos bancários, em busca de soluções. Na opinião dele, o combate efetivo aos crimes no setor bancário só se dá com a busca e o tratamento das informações obtidas, o uso de inteligência policial, e investigação. "Quanto mais informações, maior será a capacidade de impedir que o crime ocorra", acrescentou.

O presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado Zé Maia (PSDB) fez a sugestão de que o Sindicato dos Bancários fizesse uma campanha orientando os clientes a não movimentarem contas em bancos que não oferecessem segurança. Com a medida, o parlamentar acredita que os bancos adotariam projetos eficazes de segurança bancária, sob pena de perderem clientes. Zé Maia também defendeu penas mais duras para crimes graves como latrocínio (roubo seguido de morte), seqüestro e outros: "A legislação tem que ser dura com esses bandidos". A deputada Jô Moraes (PCdoB) comentou que os problemas da segurança pública são múltiplos, mas que é preciso enfatizar um aspecto: a defesa dos trabalhadores que prestam serviços. "Temos que fazer intensa pressão para que os banqueiros dêem uma mínima contribuição para a sociedade", afirmou, julgando que, para o segmento, "o patrimônio é respeitado, mas a vida não".

Como fechamento das discussões, o deputado André Quintão (PT), autor do requerimento pela reunião, propôs algumas ações: agilizar audiência na Secretaria de Defesa Social com a participação dos sindicatos patronal e dos bancários, PMMG, Câmara de BH, Assembléia e outros, buscando a criação de uma comissão de segurança bancária; criar nova lei estadual prevendo penalidades para as instituições bancárias que a descumprirem; universalizar a implantação de dispositivos de segurança bancária para cidades pequenas e médias (muitas delas ainda não os têm).

Presenças - Deputada Maria Tereza Lara (PT), presidente da Comissão de Participação Popular; deputados Zé Maia (PSDB), presidente da Comissão de Segurança Pública, e André Quintão (PT), e deputada Jô Moraes (PCdoB).

 

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