Direitos Humanos quer investigação sobre milícias no Norte de MG

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa vai cobrar das polícias Civil e Federal a investigação sobre...

18/05/2005 - 00:00
 

Direitos Humanos quer investigação sobre milícias no Norte de MG

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa vai cobrar das polícias Civil e Federal a investigação sobre a formação de milícias armadas no Norte de Minas. Requerimento com essa finalidade, de autoria do presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), foi aprovado na tarde desta quarta-feira (18/5/05), durante reunião realizada na Câmara Municipal de Pirapora. Na reunião, os deputados ouviram de integrantes de movimentos de luta pela terra relatos de agressões e intimidações por parte de jagunços a serviço de grandes fazendeiros da região.

Um dos coordenadores da regional Norte de Minas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), André Carlos Jesus da Silva, contou que cerca de 340 acampados às margens da BR-365 se vêem intimidados por um grupo de pistoleiros que tenta impedir uma eventual ocupação da Fazenda Correntes, localizada em Jequitaí. O MST alega que a fazenda é improdutiva e não esconde a intenção de ocupá-la. A propriedade é vigiada por um grupo de nove homens fortemente armados. O Ministério Público inclusive já ofereceu denúncia contra esse bando, encabeçado pelos irmãos Delfrânio Resende Penido e Fernando Resende Penido, proprietários da fazenda.

No dia 29 de outubro do ano passado, a Polícia Federal apreendeu com o grupo revólveres, uma espingarda cartucheira, munição e até bananas de dinamite que seriam usados para intimidar os sem-terra. O MP pede o indiciamento de todos por formação de quadrilha, porte ilegal de arma e falsa identificação. Os nove integrantes do bando foram presos em flagrante, mas conseguiram habeas corpus e aguardam julgamento em liberdade. "Estamos diante de um quadro grave, que aponta para a formação de quadrilha por um grupo de meliantes que se arvora o direito de usar armas potentes sem autorização", avalia o coordenador do Centro Operacional de Apoio às Promotorias de Defesa dos Direitos Humanos, Apoio Comunitário e Conflitos Agrários, procurador Afonso Henrique de Miranda Teixeira.

Na Fazenda Ferro-Ligas, também em Jequitaí, um grupo de jagunços teria passado um trator em cima de cabanas de sem-terra acampados numa estrada vicinal, segundo o representante da Fetaemg, Arimar Gomes dos Santos. O problema não se restringe a Jequitaí. Em Pirapora, 172 famílias que ocupam a Fazenda da Prata, em processo de desapropriação, se vêem ameaçadas por um ex-arrendatário da propriedade. O homem, identificado como "Sílvio Açougueiro", teria agredido o integrante do MST Altamiro Pereira dos Santos como forma de forçar o grupo a abandonar a fazenda. Também foram registrados casos de agressões em Buritizeiro e Várzea da Palma.

O deputado Durval Ângelo considera a situação grave e garantiu que vai cobrar providências para a solução do problema da tensão no campo no Norte de Minas. Já o deputado Arlen Santiago (PTB) disse que a comissão precisa ouvir todos os lados envolvidos na questão e lamentou a ausência de representantes do Incra, que segundo ele, tem uma dívida grande com todos os assentados do Brasil.

Requerimentos - Foram aprovados ainda outros dois requerimentos na reunião, todos de autoria do deputado Durval Ângelo: para enviar moção de aplauso à Polícia Federal pela atuação em Jequitaí; para que as notas taquigráficas da reunião sejam enviadas às polícias Militar e Civil, MP, Poder Judiciário e Ouvidoria Agrária Nacional.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice; e Arlen Santiago (PTB).

Comissão visita cadeia de Pirapora

Atendendo a requerimento do deputado Durval Ângelo, a comissão visitou a cadeia pública de Pirapora. Acompanhados do delegado Cleber José Pevidor, os deputados percorreram a carceragem e conheceram de perto as precárias condições de alojamento dos presos. A cadeia tem dez celas com capacidade para abrigar no máximo seis presos, mas algumas chegam a alojar até 12 detentos. Os presos reclamaram de maus tratos, da má qualidade da comida e de falta de assistência médica.

No último domingo (15), houve uma tentativa de fuga, e alguns detentos reclamam que seus pertences ficaram isolados na cela que teve se ser interditada por ser o ponto de fuga. Outros presos reclamaram que foram espancados por policiais militares responsáveis por sua guarda. Os detentos Wagner Silva da Fonseca e Elson Geraldo Soares de Oliveira alegam que já podem cumprir pena em regime semi-aberto, mas vão ser transferidos para a penitenciária de segurança máxima de Francisco Sá. O deputado Durval Ângelo disse que vai pedir providências ao Poder Judiciário e à Defensoria Pública.

Dnocs garante assentamento de atingidos por açude de Berizal

Pela manhã, a comissão esteve reunida em Taiobeiras, onde ouviu de pequenos agricultores queixas de incertezas quanto ao seu destino após a conclusão do Açude Público de Berizal. Iniciada há cinco anos, a obra encontra-se paralisada por causa de uma ação movida pelo MP por conta de irregularidades no processo de licenciamento ambiental.

Diversas famílias presentes à reunião reclamaram que nunca foram procuradas pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) para discutir o reassentamento ou a possibilidade de indenização. Cerca de 720 famílias que plantam feijão, milho e mandioca nos municípios de Taiobeiras, Indaiabira, Ninheira, São João do Paraíso e Rio Pardo de Minas devem ser removidas de suas terras.

O diretor do Dnocs, Paulo Guedes, assegurou que o projeto do açude prevê o reassentamento de todas essas famílias. Disse que o Ministério da Integração Nacional já tem o dinheiro necessário para a aquisição de terras, mas aguarda a conclusão do licenciamento ambiental por parte da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) para providenciar a remoção dessas pessoas. Ele ainda negou que o açude vá beneficiar um pequeno de número de grandes agricultores. De acordo com Guedes, a obra servirá para perenizar o Rio Pardo e aumentar a oferta de água disponível para consumo humano na região.

O deputado Arlen Santiago defendeu a construção do açude como forma de solucionar os graves problemas de abastecimento de água de Berizal e cidades vizinhas. Já os deputados Durval Ângelo e Roberto Ramos querem a garantia dos direitos dos trabalhadores rurais atingidos e reiteraram que o projeto do Dnocs não é claro quanto ao acesso à água. O presidente da comissão disse que pretende fazer outra reunião na Assembléia para aprofundar as discussões sobre o assunto.

 

 

 

 

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715