Ministro anuncia avanços no combate a abuso sexual de menores

Com base em 10 mil denúncias de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, encaminhadas a seu Disque-Denúncia nos...

18/05/2005 - 00:00
 

Ministro anuncia avanços no combate a abuso sexual de menores

Com base em 10 mil denúncias de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, encaminhadas a seu Disque-Denúncia nos dois últimos anos, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República montou uma matriz intersetorial da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, que indicou a existência de 250 rotas nacionais e internacionais de tráfico de menores e 937 cidades brasileiras onde há redes organizadas de exploração sexual dessa faixa etária.

Essas foram as principais revelações trazidas pelo ministro Nilmário Miranda a uma reunião da Comissão de Segurança Pública, realizada no Teatro da Assembléia nesta quarta-feira (18/5/05), data de aniversário da morte da menina Aracely, ocorrida em 1973 em Vitória (ES), e tomada como símbolo da luta contra o estupro de crianças. Miranda acredita que a matriz permitirá que as ações de combate a esses crimes sejam mais eficientes. "Blitz policiais causam na sociedade a ilusão de que a exploração sexual está sendo combatida, mas não resolvem o problema", disse o ministro.

Inúmeras frentes de luta foram relatadas por Nilmário Miranda, entre elas os programas Sentinela e Bolsa Família, e o cadastro das famílias pobres que, segundo ele, permitirá a elaboração de políticas públicas consistentes. Ele expôs as iniciativas de combate da pornografia e da pedofilia na Internet e falou também sobre uma campanha para os caminhoneiros, pedindo-lhes que fiquem alertas em qualquer ponto do Brasil e que protejam as crianças como se fossem seus filhos. "A luta tem que ser nacional, de todos os homens e mulheres de bem", conclamou o ministro, anunciando que o Disque-Denúncia agora terá plantões nos finais de semana.

Deputado quer envolvimento de professoras nas denúncias

A reunião da Comissão de Segurança Pública foi motivada por requerimento do deputado Edson Rezende (PT), que manifestou sua indignação contra os abusos sexuais. "Essa é uma das maiores violências que se cometem no país, com repercussões morais e psicológicas inimagináveis. Não podemos sequer admitir que exista isso em pleno século 21". Rezende defendeu que as professoras das escolas primárias sejam melhor remuneradas e treinadas para detectar os principais sinais nas crianças que estejam sofrendo abuso sexual. A partir daí, deveriam encaminhar a denúncia aos conselhos tutelares, que são 623 em todo o Estado.

Essa proposta teve apoio do ministro. As repercussões morais e psicológicas foram abordadas pelo chefe da Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente, Dagoberto Alves Batista. "Depois de muito tempo agindo às cegas sem diagnóstico da questão, começamos a traçar paralelos entre o adolescente infrator e aquele que foi vítima de abuso sexual na infância. Ele devolve para a sociedade aquilo que recebeu e da forma que recebeu", afirmou.

Dados e constatações inquietantes foram apresentados pelo promotor Ronald Albergaria, do Ministério Público. Mais de 500 adolescentes estão internados em cadeias públicas, o que, segundo ele, é permitido pela lei, mas é imoral. A delegacia para atender vítimas de abuso sexual precisa ter psicólogo e assistente social. No entanto, prender o abusador não bastaria. "E a criança? Quem cuida dela? Até agora, apenas nove dos 853 municípios aderiram ao Programa Sentinela", revela o promotor. "O abuso acontece dentro das casas, de maneira silenciosa. Prová-lo é extremamente difícil. Até os profissionais que atendem a criança se calam, principalmente se esta for da classe média ou alta. Médicos alegam sigilo profissional. É preciso formar uma rede de proteção em cada comunidade", disse Albergaria.

Órgãos apresentam resultados de seus esforços

Vânia Valadão, do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Crimes Violentos (Nave), revelou que esse programa tem 800 vítimas de estupro cadastradas e lhes presta atendimento. "Nossas psicólogas sustentam as condenações com seus laudos", afirmou. Outros dirigentes de programas sociais apresentaram seus resultados, como o Fundo Cristão de Crianças, o Circo de Todo Mundo, o Conselho Estadual da Criança e do Adolescentes, e o professor José Raimundo Lippi, da UFMG e da USP, que está organizando em agosto próximo, no Memorial da América Latina, em São Paulo, a 1ª Conferência Internacional sobre Ofensas Sexuais.

Nove deputados petistas estiveram presentes à reunião. Dentre eles, Elisa Costa e Adelmo Carneiro Leão falaram sobre o tema. Elisa relatou o trabalho que ajudou a desenvolver recentemente no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, com a proposta de inclusão social com incentivo fiscal. "A tarefa é imensa e exige longos anos de dedicação para mudança de comportamentos e cultura", disse a deputada. Adelmo Leão assinala muitos avanços nos últimos dez anos, com maior conscientização da sociedade, mas admite que a superação avançou pouco. "Não é só uma articulação de governos, mas da sociedade e da família. Denunciar é difícil. Silenciar é mais grave", afirmou.

Presenças - Deputado Zé Maia (PSDB), presidente; Edson Rezende (PT), Padre João (PT), Adelmo Carneiro Leão (PT), Ricardo Duarte (PT), Jésus Lima (PT), André Quintão (PT), Weliton Prado (PT) e as deputadas Elisa Costa (PT) e Maria Tereza Lara (PT).

 

 

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