ALMG promove no dia 24 evento sobre luta antimanicomial

Mesmo após dez anos da sanção da Lei 11.802, marco da luta antimanicomial, ainda há notícias de práticas violentas no...

18/05/2005 - 00:02
 

ALMG promove no dia 24 evento sobre luta antimanicomial

Mesmo após dez anos da sanção da Lei 11.802, marco da luta antimanicomial, ainda há notícias de práticas violentas nos hospitais psiquiátricos em Minas e até relatos de mortes nesses estabelecimentos. A informação é do coordenador do Fórum Mineiro de Saúde Mental, Mark Napoli, entidade que estará representada na audiência pública que a Comissão de Participação Popular promoverá nesta terça-feira (24/5/05), para lembrar o Dia Nacional de Luta Antimanicomial. De acordo com o Fórum, os problemas abrangem: falta de estatísticas sobre pacientes internados e leitos disponíveis, reduzidas opções de reinserção social e poucas alternativas às internações.

Todas essas questões deverão ser abordadas na audiência que a ALMG promoverá às 14h30, no Teatro. "Por uma sociedade sem manicômios" é o mote do encontro, que será aberto pelo Coral "Ser-Sã", integrado por cerca de 20 pessoas e criado em 1998, em Divinópolis, com o objetivo de se transformar em oficina de inserção social do Serviço de Referência em Saúde Mental (Sersam). Solicitada pela deputada Maria Tereza Lara e pelo deputado Rogério Correia, do PT, a audiência pretende contribuir para resgatar e respeitar a cidadania dos portadores de sofrimento mental e marcar o Dia Nacional de Luta Animanicominal, comemorado em 18 de maio.

Convidados - Os convidados são os secretários de Estado e municipal de Saúde, Marcus Pestana e Helvécio Magalhães; o vereador Carlão Pereira, autor da Lei 11.802, de 1995; a psiquiatra Ana Marta Lobosque, do Fórum Mineiro de Saúde Mental; Iedda Oliveira, familiar de usuário de serviço de saúde mental; e Maria do Rosário Lopes, da Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais.

Segundo Napoli, o fórum registrou duas mortes recentes em hospitais, sendo uma em 2003, na Casa de Saúde Santa Maria, e outra este ano, no Hospital Pinel, ambos privados, na Capital. Os pacientes estavam sob contenção, um teve o corpo queimado e o outro teria sido vítima de estrangulamento. Os casos estão em fase de inquérito, mas o desafio é transformá-los em processo. "Não há instrumentos legais para responsabilizar os hospitais e os depoimentos dos pacientes não têm valor jurídico, pois são considerados incapacitados. São situações de difícil esclarecimento", analisou. A violação dos direitos humanos continua ocorrendo e há instituições que, comprovadamente, não oferecem condições dignas aos pacientes. Segundo o Fórum, ainda não ocorreram este ano as vistorias dos hospitais psiquiátricos promovidas pelo Ministério da Saúde.

Número de leitos foi reduzido, mas ainda há 20 hospitais conveniados ao SUS

Atualmente ainda estão funcionando em Minas 20 hospitais psiquiátricos conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Não há, por outro lado, estatísticas confiáveis das instituições privadas existentes e da população portadora de sofrimento mental. Existem no Estado 80 Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). No País são mais de 500. "O número de leitos tem diminuído, mas em ritmo mais lento do que gostaríamos", diz Mark Napoli. Segundo o Fórum Mineiro de Saúde Mental, há 18 anos havia mais de 100 mil leitos psiquiátricos no Brasil e 8 mil em Minas. Hoje, há menos de 50 mil leitos em nível nacional e menos de 4 mil no Estado.

De acordo com informações da Secretaria de Estado da Saúde, são 3.043 leitos em Minas e 1.533 pacientes de longa permanência, ou seja, que estão internados há mais de dois anos. Esse número inclui os hospitais públicos (Galba Veloso e Raul Soares, na Capital, e o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena) e os conveniados. Estima-se em mais de 20 mil o número de pessoas em tratamento na rede pública.

Boa notícia - Alternativas à internação e opções de reinserção social são avanços que precisam de mais investimentos. Uma iniciativa positiva que já tem seis anos é um convênio entre o Fórum e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), para qualificação profissional dos portadores de sofrimento mental. Foram formadas até agora 600 pessoas em cursos de três meses que abrangem temas como culinária, marcenaria, corte e costura e lapidação em mosaico. Também foi criada há um ano a Associação de Produção e Trabalho Solidário dos Usuários da Saúde Mental.

Saiba mais sobre a Lei Carlão

A Lei 11.802, de 1995, determina a implantação de ações e serviços de saúde mental substitutivos aos hospitais psiquiátricos e a extinção progressiva deles; além de regulamentar as internações. Regulamentada em 2002, a lei proíbe o uso de celas-fortes, camisas-de-força e outros procedimentos violentos e desumanos em qualquer estabelecimento de saúde. Os procedimentos de restrição física não vedados serão utilizados, desde que sejam o meio disponível de prevenir dano imediato a si próprio ou a outros; restringirem-se ao período estritamente necessário; sejam registradas as razões da restrição; e se realizem nas condições técnicas adequadas.

A lei determina a criação de recursos alternativos aos hospitais psiquiátricos, como ambulatórios; serviços de emergência psiquiátrica em prontos-socorros gerais e centros de referência; serviços especializados em hospital-dia e hospital-noite e centros de convivência. A lei também disciplina procedimentos como internação, internação involuntária, avaliação do paciente e atendimento àqueles em condição de desamparo social. As penalidades para quem descumprir a lei abrangem: advertência, inquérito administrativo; suspensão do pagamento dos serviços prestados; aplicação de multas e cassação da licença e do alvará de funcionamento.

Fiscalização - As comissões de reforma psiquiátrica, que deveriam ser constituídas no âmbito das secretarias estadual e municipais de saúde, foram implantadas apenas em nível estadual, em Belo Horizonte e em poucas cidades do interior. Essas comissões têm um papel importante, pois são encarregadas de acompanhar a implantação do novo modelo e a desativação gradual dos hospitais psiquiátricos. Segundo a lei, as comissões serão constituídas pelos conselhos estadual e municipais de saúde e formadas por trabalhadores, autoridades sanitárias, prestadores e usuários de serviços, familiares de pacientes, representantes da OAB/MG e da comunidade científica.

 

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