Técnicos negam irregularidades em outorga para Capão
Xavier
A questão do uso da água, outorga de utilização e
monitoramento de qualidade foi o tema da reunião desta quinta-feira
(12/5/05) da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Mina Capão
Xavier, na Assembléia Legislativa. Os deputados ouviram explicações
de dois técnicos no assunto: a diretora de Instrumentalização e
Controle do Instituto de Gestão das Águas (Igam), Célia Maria Fróes,
e do assessor da Diretoria de Operação Metropolitana da Copasa,
Rômulo Tomáz Perili. A primeira negou qualquer irregularidade no
parecer do órgão, que subsidiou o licenciamento de operação da mina;
e o segundo garantiu que o abastecimento de água na Capital não
sofrerá qualquer impacto.
Capão Xavier é um empreendimento da Minerações
Brasileiras Reunidas (MBR), em Nova Lima, que conta com uma reserva
de 173 milhões de toneladas de minério de alto teor de ferro, uma
das últimas reservas de alto teor do Quadrilátero Ferrífero, com
previsão de exploração de 22 anos, com 8 milhões de toneladas/ano,
representando 20% da produção da empresa. Ela entrou em operação no
segundo semestre do ano passado, depois que o Tribunal de Justiça
derrubou liminar de 1ª instância que impedia o funcionamento, e
depois de várias reuniões da Comissão de Meio Ambiente, na
Assembléia, com técnicos, Ministério Público e moradores da região.
Tais discussões motivaram a formação da CPI, que começou suas
atividades em 3 de março deste ano.
A representante do Igam, Célia Maria Fróes,
explicou que foram concedidas três outorgas de utilização das águas
à MBR, para a Mina Capão Xavier. Uma para perfuração de um poço para
pesquisa hidrológica, outra para construção de barragem para
contenção de sedimentos e para captação de água do Córrego Seco
(afluente do Ribeirão dos Fechos); e a terceira licença para que a
empresa desviasse pequeno trecho deste córrego. Os dois cursos
compõem a bacia que abastece a população da região Sul de Belo
Horizonte, cerca de 400 mil habitantes. Antes dessas licenças
públicas, o Igam emitiu parecer que subsidiou a decisão da Fundação
Estadual do Meio Ambiente (Feam) na concessão da licença prévia do
empreendimento, que impunha alguns condicionantes à empresa, entre
eles, a necessidade de monitoramento da água da mina.
Célia Fróes respondeu a questionamento dos
deputados sobre como se dá o processo de outorga, sua tramitação,
corpo técnico do Igam, quantidade de fiscais e se há acompanhamento
jurídico nos processos. Ela disse que o órgão trabalha com oito
técnicos de engenharia civil, hidrologia, geologia e mais seis
fiscais, também com formação universitária nessas áreas. Detalhou o
processo de concessão de outorga que, segundo ela, tem prazo de até
180 dias para ser concedido, mas que tem sido concluído em 45 dias e
que usa a documentação fornecida pela empresa que requer a licença.
Informou, ainda, que as concessões são feitas em pareceres conjuntos
com a Feam. Célia Fróes garantiu que o processo da MBR seguiu a
tramitação normal e a outorga foi dada com base em um estudo com 240
páginas fornecido pela empresa, e após visita dos técnicos do Igam
ao local.
Igam não usa a legislação de meio ambiente para
amparar seus pareceres
O deputado Leonardo Quintão (PMDB) questionou por
que o Igam não usou a Lei Estadual 10.793/92, que dispõe sobre a
proibição de mineração em locais que comprometam o abastecimento
público de água, no caso de Capão Xavier, sendo que em outro pedido
para exploração de bauxita em Manhuaçu, a licença foi negada, com
base na mesma lei. Célia Fróes disse que o Igam não analisa
processos quanto à legalidade, mas de forma técnica, e afirmou que
não houve menção à lei no processo da mina.
Os deputados Irani Barbosa (PTB) e Adalclever Lopes
(PMDB) questionaram a ausência de outorga para rebaixamento do
lençol freático, conforme denunciado em reunião passada pelo
promotor do meio ambiente, Fernando Galvão. A diretora do Igam
confirmou que não há licença para o rebaixamento, alegando que
quando houver necessidade desse procedimento, a MBR precisará de
nova outorga, com novo processo junto ao órgão e à Feam.
Adalclever Lopes lembrou aos participantes da
reunião que o estudo técnico de exploração da mina da MBR entregue
ao Igam foi feito por uma empresa espanhola, a Frasa Ingenieros, que
também seria a responsável pelo monitoramento da água. Em sua
opinião, tal empresa não teria capacidade e idoneidade para cumprir
tal responsabilidade. Ele informou que em visita à sede da Frasa, em
Madri, ele mais os deputados Antônio Júlio (PMDB) e Leonardo Quintão
constataram que a empresa funciona na casa do proprietário e tem
somente ele como empregado.
O deputado destacou que a empresa espanhola recebeu
US$ 400 mil pelo serviço à MBR. Em ofício encaminhado à CPI, o órgão
que fiscaliza a atividade de engenheiros em Minas, Conselho Regional
de Engenharia e Arquitetura (Crea/MG), informou não ter qualquer
registro da empresa ou do engenheiro espanhol. Célia Fróes disse que
não conhecia o estudo dessa empresa e que a documentação da MBR era
assinada por técnicos da própria empresa.
Copasa descarta desabastecimento na RMBH
Também ouvido pela CPI nesta quinta-feira, o
assessor da Diretoria de Operação Metropolitana da Copasa, Rômulo
Tomáz Perili, assegurou aos deputados que não há a menor
possibilidade de desabastecimento de água na Região Metropolitana de
Belo Horizonte em função da exploração da Mina de Capão Xavier. Ele
esclareceu que a empresa deu sua anuência à lavra de Capão Xavier
após uma série de estudos que tiveram início em 1989, quando a MBR
apresentou um primeiro relatório técnico com consulta para
exploração da mina, e amparada em convênios e termos de compromisso
que estabelecem diretrizes para um programa de monitoramento de
mananciais na região.
Questionado pelos deputados Adalclever Lopes,
Leonardo Quintão e Irani Barbosa sobre a inobservância da Lei 10.793
no licenciamento da mina, o assessor esclareceu, também, que não
cabia à Copasa o licenciamento do empreendimento ou o exame do
cumprimento da legislação ambiental para a outorga, mas, apenas,
manifestar sua anuência ou discordância com relação à lavra, no
tocante à qualidade e quantidade da água captada, com base nos
estudos e projeções.
Segundo Rômulo Perili, os mananciais que poderiam
ser afetados com a mineração na área de Capão Xavier - o sistema de
Morro Redondo - representam apenas 3,5% da capacidade de produção de
água na Região Metropolitana; e a Copasa opera com um sistema
integrado de transferência de água de diferentes mananciais, o que
permite a garantia do abastecimento na hipótese de eventuais
problemas em algum dos pontos de captação. "A sociedade pode ficar
sossegada. Com ou sem Capão Xavier, a Copasa pode garantir que não
haverá problema algum de abastecimento à população de Belo
Horizonte", declarou.
Respondendo a indagações dos deputados, o técnico
da Copasa explicou que o impacto estimado da lavra de Capão Xavier é
da ordem de 50 litros por segundo, numa captação que oscila de 580 a
600 litros por segundo. Assim, em relação à Região Metropolitana o
efeito não seria superior a 0,3% da água produzida pela empresa.
"Mas a nossa expectativa é, inclusive, de aumento da produção no
sistema de Morro Redondo, pois a MBR terá que trazer água de outras
áreas", completou, dizendo que a qualidade e quantidade da água
captada pela Copasa tem monitoramento permanente.
Rômulo Perili fez questão de frisar, ainda, que a
qualquer momento, caso seja detectado algum problema na qualidade ou
quantidade da água captada na região, que não possa ser sanado, a
Copasa poderá solicitar a interrupção das atividades de mineração.
Requerimentos aprovados
Ao final da reunião, foram aprovados os seguintes
requerimentos:
* do deputado Adalclever Lopes, solicitando à
Copasa informação sobre quem foi o funcionário ou diretor da empresa
que indicou a empresa Frasa Ingenieros para proceder a estudos
hidrogeológicos sobre a Mina Capão Xavier;
* do deputado Irani Barbosa, pedindo aos órgãos
ambientais cópias integrais de todos os laudos de monitoramento da
água nas cavas de Águas Claras e de Capão Xavier;
* do deputado Leonardo Quintão, requerendo
informações, à consultoria da comissão, sobre a existência de menção
ao cumprimento ou descumprimento da Lei 10.793 nos documentos
relativos à licença para o funcionamento da mineração em Capão
Xavier; e
* do deputado Antônio Júlio (PMDB), propondo que a
Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais seja convidada para
acompanhar a CPI em visita à Mina de Capão Xavier, na próxima
terça-feira (17). Foi aprovada, também, emenda do deputado Irani
Barbosa a esse requerimento, estendendo a visita dos deputados à
cava da mina de Águas Claras.
Presenças - Deputados
Márcio Kangussu (PPS), presidente; Fábio Avelar (PTB), Leonardo
Quintão (PMDB), Dinis Pinheiro (PL), Irani Barbosa (PTB), Adalclever
Lopes (PMDB) e Olinto Godinho (PSDB).
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