Empresários têxteis querem barreiras contra produtos
chineses
Mobilizados pelo deputado Dalmo Ribeiro Silva
(PSDB), dezenas de empresários da indústria têxtil do Sul de Minas e
seus representantes sindicais participaram de audiência pública da
Comissão de Turismo, Indústria e Comércio, realizada nesta
quarta-feira (11/5/05), para debater a invasão de produtos têxteis
chineses no mercado brasileiro. Ribeiro Silva pediu uma "cruzada
cívica em defesa dos nossos empresários", afirmando que a invasão de
produtos chineses parece um contrabando oficializado em Minas, e que
os preços praticados no Brasil equivalem a um décimo dos preços nos
Estados Unidos. "As exportações de têxteis da China chegam a US$ 110
bilhões. Estamos perdendo divisas, empregos e tributos por falta de
ação dos nossos governantes", disparou o parlamentar.
Os seis deputados presentes à reunião presidida
pelo deputado Carlos Gomes (PT) fizeram graves previsões sobre os
riscos da concorrência desleal dos chineses para a economia do
Estado e do Brasil. Chico Rafael (PMDB) criticou a livre entrada de
produtos de péssima qualidade, pirateados ou contrabandeados,
enquanto o empresário brasileiro está soterrado pela carga de
impostos. Maria Olívia (PSDB) levantou a situação dos pirotécnicos
de Santo Antônio do Monte, que não conseguem competir com os fogos
de artifícios importados da China e estariam entrando em decadência.
O deputado Jayro Lessa (PL), ele próprio empresário
do setor têxtil, fez um histórico da modernização das fábricas
brasileiras na década de 90, com a automação que lhes permitiu
reduzir pela metade o número de funcionários e aumentar em 400% a
produção. Mesmo assim, o deputado previu o desemprego de milhões de
pessoas no setor de confecções. Para ele, o fórum adequado para
discutir essas questões é a Organização Mundial do Comércio.
Domingos Sávio (PSDB) representa Divinópolis,
cidade conhecida por suas confecções. Lembrou que a China paga
salários inferiores a US$ 30 dólares mensais e que subsidia sua
indústria para invadir os demais países. Para ele, "o grito contra
essa situação começa no chão das fábricas, ecoa na Assembléia e tem
que chegar ao Congresso e ao Governo Federal". Carlos Gomes procurou
distinguir a prática do dumping do crime de contrabando, que
afeta não só os têxteis como os setores calçadista, eletrônico, de
brinquedos e CDs. Segundo ele, os governos estaduais e municipais
podem ajudar a combater esse crime.
Salários baixos e nenhuma garantia trabalhista para
os chineses
Os especialistas forneceram mais informações para a
indignação dos deputados. Flávio Roscoe Nogueira, presidente do
Sindicato das Indústrias Têxteis, disse que a atitude chinesa é de
canibalismo, e que o governo dá 11 centavos de incentivo para cada
dólar exportado, além de crédito com juros de apenas 5% ao ano.
"Pagando salários tão baixos, sem qualquer garantia trabalhista, e
fazendo dumping para liquidar a concorrência, a China saltou
de 17% que possuía do mercado mundial de têxteis para 33% hoje, e
sua meta é chegar a 75% da produção mundial, segundo dados da OMC".
Carlos Orsini, da Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, criticou o excesso de valorização que Minas dá à
exportação de produtos primários, colocando em segundo plano os de
maior valor agregado. "Dos R$ 44 bilhões investidos em Minas, mais
de 63% estão na siderurgia, mineração e setor químico, que são de
baixa geração de empregos. Só na siderurgia, a China cresce um
Brasil por ano. Sua poupança interna lhe permite dar subsídios a
seus produtos para invadirem o mundo".
Rodolfo Sala, do Sindicato da Indústria do
Vestuário, disse que os confeccionistas compram tecidos dos
chineses, o que seria um absurdo. Para ele, "os diplomatas
brasileiros fizeram bobagem na OMC, ao trocar aço por vestuário.
Precisamos provocar a diplomacia a mudar de atitude". Ao final da
reunião, o deputado Dalmo Ribeiro Silva propôs uma moção de repúdio
contra o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pelo erro
de reconhecer a China como economia de mercado".
Presenças: - Deputados
Carlos Gomes (PT), que presidiu a reunião; Dalmo Ribeiro Silva
(PSDB), Jayro Lessa (PL), Domingos Sávio (PSDB) e Chico Rafael
(PMDB), e a deputada Maria Olívia (PSDB).
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