Aterro sanitário pode ter prazo de operação revisto pelo
Copam
O Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam)
poderá determinar, na sua reunião da próxima sexta-feira (20/5/05),
a redução do prazo da licença para funcionamento do aterro sanitário
da Capital. Segundo a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam),
braço técnico do Copam, houve equívoco na liberação da licença até
2009, pois não foi levada em conta a vida útil do aterro - que ocupa
área de 140 hectares junto à BR-040 e funciona desde 1975. A
polêmica situação do aterro e a destinação do lixo em Belo Horizonte
motivaram debate da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da
Assembléia, nesta terça-feira (10), que lotou o Auditório e durou
quatro horas. Moradores dos bairros do entorno do aterro, portando
faixas, cobraram a solução do problema pela Prefeitura.
Licitação - Representantes
dos 50 mil moradores dos 14 bairros do entorno querem que o aterro
encerre as atividades em dezembro, alegando prejuízos à saúde da
população e riscos de deslizamento. São pessoas que reclamam de
problemas alérgicos e respiratórios, de mau cheiro e da presença de
ratos e outros vetores biológicos. O secretário de Políticas Urbanas
da Prefeitura, Murilo Valadares, negou o risco de deslizamento e
garantiu ser o depósito estável, alegando que as discussões têm
cunho político-eleitoral. Ele disse que a Prefeitura já apresentou,
para análise da Feam, proposta de ampliação da cota de lixo a ser
destinada ao local. Valadares informou que a Prefeitura contratou
também consultoria para reestudar a possibilidade de licitação para
a destinação do lixo. Segundo ele, a idéia é promover uma concessão
para dois aterros. "Belo Horizonte não tem área para aterro
sanitário", reconheceu ele, que foi bastante criticado pelos
moradores.
Os deputados Fábio Avelar (PTB) e João Leite (sem
partido), autores do requerimento da reunião, procuraram esclarecer
que o debate não tinha motivação política e que o papel da
Assembléia é acompanhar o processo, pois o órgão licenciador é
estadual. "Existe dúvida quanto à estabilidade do aterro sanitário
e, além disso, o processo de licenciamento está sendo revisto pela
Feam", opinou Fábio Avelar. Segundo João Leite, a comissão tem
obrigação de acompanhar as questões ligadas ao saneamento ambiental.
A advogada que representa as famílias, Mônica Costa
Chaves, defendeu que a área onde hoje está o aterro seja
transformada em parque ecológico ou tenha outra destinação que se
reverta em benefícios para a comunidade. Maria Lina da Silva, da
Associação Comunitária do Bairro Pindorama, pediu "clemência" na
reunião. Moradora desde 1965 do bairro, ela disse que a população
não pode ser "lixo do lixo". As críticas foram repetidas por dezenas
de moradores que usaram a palavra na reunião. Entre elas, o
vice-presidente do Palmeirense Futebol Clube, Rafael Afonso da
Silva. De acordo com ele, os problemas começaram há 15 anos. "Nós
agüentamos 30 anos. Até quando teremos de agüentar?", disse,
afirmando que o desabafo não era pessoal, mas da comunidade.
Palavra da Prefeitura e da Feam
A Prefeitura de Belo Horizonte admite que não há
área para construção de um aterro sanitário na Capital e, segundo
Murilo Valadares, uma consultoria contratada dirá, ao final dos
próximos três meses, se a solução para a questão do lixo é promover
licitação. Ele fez um histórico das tentativas da Prefeitura de
resolver o problema, lembrando que uma das áreas para onde o lixo
seria destinado, além da BR-040, seria Capitão Eduardo - que foi
transformada em Área de Preservação Ambiental (APA). A concessão
para destinação dos resíduos chegou a ser discutida em 2001, segundo
ele, mas o edital da licitação foi revogado pela Prefeitura. Briga
entre poderes e guerra de liminares foram alguns fatores que
motivaram a suspensão do processo, acrescentou.
O secretário de Políticas Urbanas disse que a
Prefeitura já apresentou à Feam um estudo da UFMG que demonstra ser
o aterro sanitário estável e sem risco de deslizamento. Um outro
estudo, no entanto, que também será analisado pelo Copam e foi
elaborado pelo engenheiro Clóvis Benvenuto, apontaria riscos. A
Prefeitura também quer ampliar a cota de lixo do aterro - ela
passaria de 930 metros acima do nível do mar para 935 metros. O
próprio Murilo Valadares reconheceu que entre o final deste ano e o
início de 2006 a cota inicial, de 930 metros, que foi licenciada,
estará esgotada. A Prefeitura teve o licenciamento validado até 2009
em decisão tomada em 2003.
A gerente da Divisão de Saneamento da Feam, Denise
Bruschi, no entanto, diz que a Prefeitura ainda não apresentou o
relatório de impacto ambiental que a proposta de ampliação das
atividades poderá causar. Segundo ela, a administração municipal
comprometeu-se a formalizar o processo até o próximo dia 29 de maio.
Outras determinações da Feam também deveriam ter sido seguidas pela
Prefeitura, entre elas a apresentação de alternativas para a
disposição final do lixo após o término da vida útil do aterro
sanitário ou se não for aprovada a proposta de ampliação da
cota.
Lixo hospitalar também é problema
A destinação do lixo hospitalar é mais um
complicador. Na reunião do Copam de junho, a Feam deverá apresentar
uma deliberação que vai tratar do assunto, obedecendo às diretrizes
da Resolução 358, de 2005, do Conselho Nacional de Meio Ambiente
(Conama). Essa resolução, segundo o deputado Sávio Souza Cruz
(PMDB), faculta ao órgão responsável pelo licenciamento ambiental -
o Copam - definir um prazo de até dois anos para que o órgão
municipal de limpeza urbana promova as adequações quanto ao
tratamento e à disposição final dos resíduos de saúde.
A Prefeitura interpreta a norma de forma diferente
e considera o prazo de dois anos para promover esses ajustes.
Segundo o secretário Murilo Valadares, haveria um interesse
comercial grande em fazer com que a Prefeitura parasse de receber
lixo hospitalar no aterro e com que empresas assumissem essa tarefa,
a um custo maior. São recolhidas pela Superintendência de Limpeza
Urbana (SLU) 30 toneladas de lixo hospitalar por dia na Capital.
Segundo a Prefeitura, o custo do aterro sanitário é de R$
15,00/tonelada. Já o valor cobrado para incinerar esse material é de
R$ 1,7 mil/tonelada. Hoje existe uma empresa licenciada para fazer
esse trabalho em Belo Horizonte. Segundo Valadares, a Prefeitura
pretender buscar uma alternativa pública para solucionar o problema
da destinação dos resíduos da saúde.
Já o advogado da Associação dos Hospitais, Daniel
Diniz Manutti, lembrou que a entidade entrou na Justiça para que a
Prefeitura continuasse a fazer a coleta e a destinação do material
hospitalar. A Prefeitura havia seguido determinação da Feam e
decidido que, a partir de agosto deste ano, o lixo hospitalar não
poderia ser mais remetido ao aterro sanitário. Ele disse que os
hospitais estão empenhados em segregar os resíduos para diminuir
aqueles infectantes, como prevê a legislação.
Palavra dos deputados - Os
deputados presentes à reunião também opinaram sobre a destinação do
lixo da Capital. Segundo Irani Barbosa (PTB), a questão do lixo
hospitalar é muito grave e há o risco de disseminação de doenças.
Sávio Souza Cruz (PMDB) criticou a Prefeitura por fazer uma
discussão tardia do assunto, na sua avaliação. Defendeu, ainda, que
a SLU tente se articular com municípios vizinhos para buscar uma
solução, sem terceirizar os serviços. Já o deputado Carlos Gomes
(PT) disse que apresentará requerimento para que o debate se estenda
à Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A vereadora Neila
Batista (PT), da Comissão de Administração Pública da Câmara
Municipal, defendeu ainda que a Prefeitura retome a licitação para
destinação do lixo. "Defendemos que o aterro seja desativado, mas é
preciso encontrar um novo local. Não podemos ser irresponsáveis",
concluiu.
Presenças - Deputados
Laudelino Augusto (PT), presidente; Doutor Ronaldo (PDT), vice; João
Leite (sem partido), Fábio Avelar (PTB), Sávio Souza Cruz (PMDB),
Irani Barbosa (PTB), Carlos Gomes (PT) e Weliton Prado (PT).
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