Violência nas escolas só será superada com ações integradas

Mais de 50% dos alunos já viram ou ouviram falar de pessoas consumindo drogas e de criminosos no interior da escola; ...

05/05/2005 - 00:01
 

Violência nas escolas só será superada com ações integradas

Mais de 50% dos alunos já viram ou ouviram falar de pessoas consumindo drogas e de criminosos no interior da escola; outros 36,2% já viram ou ouviram falar de pessoas vendendo drogas e 27,8% disseram já terem visto pessoas armadas dentro dos estabelecimentos onde estudam. Esses dados de pesquisa feita em 2002 pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG foram apresentados, nesta quinta-feira (5/5/05), em reunião conjunta das Comissões de Educação e de Segurança Pública. A pesquisa foi feita em 50 escolas municipais, estaduais e particulares do 2º ciclo do ensino fundamental e do ensino médio, na Capital. Problemas como deficiências no policiamento e falta de investimentos na rede física foram listados pelos convidados, além de apontada a mobilização social como essencial para tentar diminuir a violência.

Drogas - A pesquisa do Crisp/UFMG foi apresentada pelo presidente da Comissão de Educação, deputado Doutor Viana (PFL), autor do requerimento da reunião. Na opinião dele e de todos os convidados, a solução dos problemas deve ser buscada de forma conjunta, com a participação não só dos governos, mas também de pais, alunos e professores. A relação entre violência, tráfico de drogas e juventude - apontada na pesquisa - foi descrita pela diretora estadual do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), Adriana do Carmo Ferreira. Segundo ela, na década de 80 a violência nas escolas se restringia a depredações e ameaças. Da década de 90 em diante, destaca-se a ação do crime organizado, com tráfico de drogas e formação de gangues. "A violência é efeito da exclusão social, e a escola é a instituição pública que está mais próxima da comunidade, por isso sofre mais diretamente", opinou.

Representantes das Secretarias de Estado da Educação (SEE) e de Defesa Social mostraram o que suas pastas têm feito para tentar diminuir a violência. O subsecretário de Administração do Sistema de Educação da SEE, Gilberto Rezende, destacou o projeto "Escola Viva, Comunidade Ativa", que desde 2003 atua em 81 escolas da Capital. A segunda etapa é levar o projeto para outras 79 escolas da região metropolitana e ainda Governador Valadares, Montes Claros e Uberlândia. Melhoria da qualidade do ensino e apoio à gestão escolar são objetivos da iniciativa, que envolve comunidade, PM, secretarias de Estado. O major Luiz Rogério de Andrade, que representou a PM na reunião, também listou programas desenvolvidos pela corporação, como o de resistência às drogas (Proerd), que leva policiais às escolas para falarem sobre o tema. Também falou o superintendente de Integração da Secretaria de Defesa Social, Genilson Ribeiro Zeferino.

Apesar desses esforços preventivos, o problema persiste e requer ações emergenciais, na opinião do professor Rui Gonçalves, da Escola Estadual Leonina Mouthe de Araújo e da sub-sede do Sind-UTE em Santa Luzia. "As Secretarias de Estado devem se articular efetivamente para termos ações de curto prazo", destacou. Quem também reivindicou isso foi a diretora da Escola Estadual Pedro II, Elaine Botelho, que anda acompanhada por seguranças 24 horas por dia. Segundo ela, o local é invadido diariamente e medo e insegurança são rotina. A escola fica no centro da Capital, próxima ao Hospital João XXIII. Já o presidente do Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep) Centro Sul/BH, João Bernardino dos Santos, cobrou um envolvimento eficiente e efetivo do poder público. Para ele, o governo deveria ter programas continuados nas escolas, que acompanhassem as crianças à medida em que elas fossem evoluindo no aprendizado.

O presidente das Associações de Pais e Alunos das Escolas Públicas, Mário de Assis, reafirmou que a situação é dramática e que são necessários investimentos do governo estadual, destacando ainda a participação das famílias dos alunos. A diretora executiva da Associação de Professores Públicos, Magda Lopes Campbel, por sua vez, opinou que a sociedade não pode "cruzar os braços", esperando o poder público. Já a representante do Sindicato das Escolas Particulares, Maria José Vidigal, fez coro aos que cobraram ação governamental. Ela lembrou que os pais pagam duas vezes pela segurança de seus filhos, já que financiam a segurança pública por meio dos impostos e, na mensalidade, há um percentual referente aos gastos com vigias. "Deveria ser prioridade absoluta o policiamento em todas as escolas", disse.

Deputados também participam do debate

Os parlamentares também ressaltaram a importância de uma ação articulada entre órgãos de governo e comunidade escolar. Na opinião do deputado Zé Maia (PSDB), presidente da Comissão de Segurança Pública, não haverá avanço sem envolvimento da sociedade. Segundo ele, a violência pode ser coibida com uma política de portas abertas, ou seja, com a promoção de atividades culturais e educativas nas escolas, aos finais de semana. Para ele, o PM não é o "vilão da história" e seria um erro dizer que a violência pode ser justificada pela exclusão social. O deputado também elogiou a atuação do governo Aécio Neves, em contraposição às críticas feitas pelo deputado Weliton Prado (PT), que cobrou mais investimentos em educação e segurança. "A PM não tem viatura nem armas para trabalhar", falou o parlamentar do PT.

O deputado Paulo Piau (PP), por sua vez, mencionou que a Assembléia estava cumprindo seu papel, ao promover nova audiência sobre o tema; e o deputado Carlos Pimenta (PDT) comentou Lei 13.453, de 2000, que autoriza a criação do Programa Ronda Escolar. A norma é fruto de projeto de sua autoria. Já o deputado Sargento Rodrigues (PDT) fez referência ao Projeto de Lei (PL) 823/03, de sua autoria, que cria o Fundo Estadual de Segurança Pública. Segundo Rodrigues, caso o projeto seja aprovado, a questão logística da polícia estará resolvida, pois ele vincula a arrecadação da taxa de segurança pública ao fundo. A proposição está pronta para ser apreciada pelo Plenário em 1º turno. "A questão da segurança pública é complexa", concluiu, lembrando que é preciso cobrar ações dos governos, mas também envolver famílias, igreja e sociedade organizada.

Presenças - Participaram da reunião, além dos convidados citados, os deputados Doutor Viana (PFL), que a presidiu; Paulo Piau (PP), Carlos Pimenta (PDT), Zé Maria (PSDB), Sargento Rodrigues (PDT) e Weliton Prado (PT).

 

 

 

 

 

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