Prós e contras do Programa Minas Ambiente são debatidos em
reunião
Representantes de entidades parceiras no Programa
Minas Ambiente e seus subprogramas, como Fundação Estadual do Meio
Ambiente (Feam), Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e
UFMG, apresentaram os avanços e as dificuldades na sua execução, em
reunião da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da
Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira (4/5/05). Os deputados
elogiaram o programa do Estado, mas muitos fizeram questionamentos
sobre o subprograma "laticínios", o qual motivou, inclusive, um
protesto de técnicos e ambientalistas de Lavras, que distribuíram
panfletos considerando-o "uma chacina moral e ambiental", porque
teria adotado tecnologias obsoletas de despoluição na área de
laticínios.
A diretora de Atividades Industriais e Minerárias
da Feam, Zuleika Torquetti, informou que o Minas Ambiente é voltado
para o ensino e desenvolvimento de tecnologias para controle
ambiental em pequenas e médias indústrias no Estado. Iniciado em
1997 e concluído em 2002, ele contempla quatro subprogramas: o já
citado laticínios e derivados, ferro-gusa, indústria têxtil e
malhas, e mineração de quartzito de pedra São Tomé. Em todos, foram
implementadas alternativas tecnológicas de controle ambiental para
reduzir as emissões atmosféricas e as emissões de efluentes líquidos
e resíduos sólidos. Ao fim dos subprogramas, foi editado um livro
registrando a experiência.
Parceria - Zuleika
Torquetti elencou como resultados do Minas Ambiente: a aplicação de
programas de licenciamento setorial pela Feam, abordando
coletivamente os empreendimentos; a redução de custos de consultoria
ambiental; e a geração de linhas de empréstimos com prazos maiores
para empresas. Zuleika cita que estão em andamento 12 programas
setoriais envolvendo 667 empreendimentos, nas áreas têxtil,
laticínios, alambiques artesanais, curtumes, fogos de artifício,
indústrias de ferro-gusa e ferro-ligas, co-processamento de
resíduos, fundições, extração de quartzito, argila e calcário. O
Minas Ambiente é uma parceria entre a Feam, a Sociedade Alemã de
Cooperação Técnica (GTZ), a UFMG, a Fiemg e outras três
entidades.
Programa enfocou pequenas e médias empresas
O pioneirismo do programa, que agregou
voluntariamente pequenas e médias empresas, com problemas de
recursos para investir, foi ressaltado pelo gerente de Meio Ambiente
da Fiemg, Wagner Soares Costa. Apesar da dificuldade, as empresas
contribuíram financeiramente com o projeto e foram premiadas com a
melhoria de processos e a adequação ambiental. Costa avaliou que o
programa identificou a necessidade de políticas setoriais: "a lei é
generalista, mas a aplicação tem que ser direta e setorial". Mas o
executivo criticou que as empresas participantes do programa
passaram a ser muito cobradas pelos órgãos ambientais, enquanto
outras continuam poluindo, sem arcar com custos da adequação
ambiental requerida pelo projeto.
A assessora Ambiental da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Econômico, Priscila de Carvalho Oliveira, destacou
no Minas Ambiente a preocupação de fomentar o desenvolvimento
econômico com foco na avaliação estratégica ambiental. Para ela, é
importante sinalizar para os empreendedores onde e como investir.
Marco legal - O deputado
Paulo Piau (PP) disse que o programa Minas Ambiente trouxe grande
contribuição ao promover o envolvimento das empresas com o meio
ambiente. Ele pediu também bom senso por parte das autoridades,
principalmente do Ministério Público, na aplicação das leis. Ele
afirmou que, se todas as leis fossem aplicadas ao pé da letra, as
atividades econômicas seriam paralisadas. "Precisamos de um marco
legal real, que seja aplicável", reforçou.
Em relação ao subprograma laticínios, que teve a
adesão de 68 empresas, o deputado João Leite (sem partido) perguntou
como são fiscalizados os 1.250 laticínios que não aderiram ao
programa. Zuleika Torquetti reconheceu que a estrutura da Feam é
pequena, mas que estava firmando acordos de cooperação com
municípios. Outra medida adotada foi a descentralização do sistema
estadual de meio ambiente, através das sete unidades do Conselho
Estadual de Política Ambiental (Copam).
Deputados questionam subprograma laticínios
O deputado Adalclever Lopes (PMDB) questionou a
Feam sobre o licenciamento de laticínios, citando a empresa Verdes
Campos, de Lavras, que estaria lançando dejetos no lago de Furnas.
Segundo ele, a fundação não estaria adotando o princípio da
precaução em questões ambientais, ao conceder licenciamento primeiro
e depois solicitar da empresa a correção dos danos ambientais. O
parlamentar solicitou por requerimento dele e do deputado Laudelino
Augusto (PT), visita ao laticínio e audiência pública na ALMG para
debater o subprograma latícinios.
Segundo a diretora da Feam, Zuleika Torquetti, o
licenciamento ambiental engloba três licenças - a prévia, a de
instalação e, por último, a de operação. Mas ela ressalvou que há
indústrias que já atuavam antes da obrigatoriedade desse
licenciamento e outras que começam a operar à revelia dessas
licenças. Nesses casos, a Feam adota o licenciamento operacional
corretivo, em que são feitas exigências ambientais ao empreendedor.
"Se não fosse isso, teríamos que parar a atividade para fazer as
adequações, com grandes prejuízos econômicos e sociais", argumentou.
Recursos - O presidente da
comissão, deputado Laudelino Augusto, que solicitou a reunião junto
com Padre João (PT), questionou qual seria o volume total de
recursos aplicados no Programa Minas Ambiente, mas a diretora da
Feam nem outras técnicas do órgão souberam informar. Por esse
motivo, foi aprovado requerimento de Laudelino e de Adalclever Lopes
solicitando aos órgãos e entidades responsáveis pela alocação de
recursos para o Minas Ambiente a prestação de contas pela utilização
dos seguintes recursos: US$ 249,74 mil da GTZ; US$ 129,8 mil do
Sebrae/Fiemg; US$ 103,8 mil da Fundação Centro Tecnológico de Minas
Gerais (Cetec/MG); e US$ 69,25 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa
de Minas Gerais (Fapemig).
Laudelino também questionou se as tecnologias
adotadas pelo Minas Ambiente seriam todas aprovadas, levantando
dúvidas sobre a adequação da Estação de Tratamento de Efluentes
(ETE) para laticínios em Lavras. A diretora da Feam respondeu que o
programa teve caráter de pesquisa e não de fiscalizar. "Comparávamos
se a tecnologia usada atendia ao estabelecido em lei; mas a escolha
da tecnologia é de responsabilidade do empreendedor", lembrou.
Outros requerimentos aprovados
* Dois requerimentos do deputado Laudelino Augusto,
em que solicita audiência pública com a Comissão de Política
Agropecuária e Agroindustrial para debater os "Desafios e
Perspectivas da Agricultura Familiar na Região Sul de Minas", como
parte do evento "Mineiranças"; e envio de ofício à Feam solicitando
informações sobre o resultado da apuração de denúncia encaminhada ao
órgão pelo Centro de Assessoria Sapucaí, sobre degradação ambiental
causada a Pouso Alegre pela Empresa MS Metais Indústria e Comércio
Ltda;
* Deputados Laudelino Augusto e Doutor Ronaldo
(PDT) pedem audiência pública para debater e apurar possíveis
inconsistências e danos ambientais na obra da Vale do Rio Doce, em
área de nascente conhecida como "Lagoa das Casas Velhas", zona rural
de Belo Vale;
* Deputado Paulo Piau requer audiência pública para
debater o Projeto de Lei 1.920/04, da Comissão Especial da
Silvicultura.
Presenças - Deputados
Laudelino Augusto (PT), presidente; Doutor Ronaldo (PDT), vice; João
Leite (sem partido), Paulo Piau (PP), Carlos Gomes (PT), Adalclever
Lopes (PMDB), Antônio Júlio (PMDB), Padre João (PT) e Carlos Pimenta
(PDT) e a deputada Elisa Costa (PT). Além dos citados na matéria
participaram da reunião Adriane Penna e Rosângela Moreira Gurgel
Machado e Sérgio Cruz, da Feam; e Olívia Maria de Souza Ribeiro
Vasconcelos, da UFMG.
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