Assembléia debate Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional

Minas Gerais sai na frente dos demais estados, e da própria União, na elaboração de uma lei orgânica sobre a questão ...

28/04/2005 - 00:00
 

Assembléia debate Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional

Minas Gerais sai na frente dos demais estados, e da própria União, na elaboração de uma lei orgânica sobre a questão da segurança alimentar e nutricional. O fato foi saudado por todos os participantes do Ciclo de Debates "Política Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional", promovido pela Assembléia Legislativa na tarde desta quinta-feira (28/4/05). O evento reuniu parlamentares, autoridades e mais de 400 pessoas, de todas as regiões do Estado, representantes de entidades e organizações que lidam com a questão alimentar, que lotaram o Plenário e as galerias da Assembléia.

O objetivo do debate, que contou com o apoio de entidades como o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional de Minas Gerais (Consea/MG), o Fórum Mineiro de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável e a Rede de Educação Cidadã MG (Talher/MG), foi ampliar a discussão da futura política estadual de segurança alimentar, proposta pelo Projeto de Lei 2.028/05, em tramitação no Legislativo. O projeto, de autoria do governador do Estado, já recebeu parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça, onde teve cinco emendas, e será analisado ainda pelas comissões de Administração Pública, de Política Agropecuária e Agroindustrial e de Fiscalização Financeira e Orçamentária, antes de ser analisado pelo Plenário em 1º turno.

O evento foi aberto pelo deputado Rogério Correia (PT), representando o presidente Mauri Torres (PSDB), que lembrou a contradição entre a eficiência demonstrada pelo País no crescimento da produção agrícola e a escassez de comida nas mesas de milhões de brasileiros. O deputado Padre João (PT), autor do requerimento que deu origem ao debate e coordenador dos trabalhos, elogiou o trabalho desenvolvido pelo presidente do Consea/MG, dom Mauro Morelli; ressaltou a necessidade da ampliação do debate do PL 2.028/05, com a participação da sociedade civil organizada; e enfatizou a importância do controle social sobre a futura política estadual de segurança alimentar.

Pioneirismo de Minas Gerais

Muito aplaudido pelos participantes, dom Mauro Morelli destacou o pioneirismo de Minas Gerais na elaboração e discussão de uma lei orgânica sobre a segurança alimentar e nutricional. Quando o projeto for aprovado e virar lei, o Estado será a primeira unidade da Federação a ter uma política de segurança alimentar. Em seu pronunciamento, o presidente do Consea avaliou que o Minas Gerais está "abrindo o caminho para um novo estágio na democracia brasileira", em que o desenvolvimento econômico leve em conta a dignidade da pessoa humana. Dom Mauro Morelli esclareceu que o projeto em tramitação é fruto de anos de mobilização de entidades e da sociedade mineira no combate à fome e à miséria.

Ele considerou como uma das maiores virtudes do PL 2.028/05 a consagração e o reconhecimento do acesso a uma alimentação saudável como sendo um direito humano fundamental. "Não há democracia com fome e miséria", analisou, ao defender a necessidade de um orçamento previamente definido para as ações de segurança alimentar. "Não tenho pena de criança que passa fome, tenho vergonha", declarou, sob o aplauso das galerias e do Plenário. "O que ganhamos hoje, com o projeto, não é concessão de ninguém, é direito de cidadania", completou.

Crispim Moreira, diretor da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério da Defesa Social e Combate à Fome, falou sobre a minuta de projeto que o Conselho Nacional de Segurança Alimentar está elaborando e que deverá ser entregue ao presidente da República até o final do semestre, e disse que a experiência mineira tem sido referência nas discussões em nível nacional.

Contraposição ao assistencialismo

Manoel Costa, secretário de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana e secretário-geral do Consea/MG, destacou o fato de a futura lei ser reflexo de uma experiência já vivenciada pelos mineiros, na prática, há pelo menos seis anos, com a regionalização das ações do conselho. Ele elogiou, ainda, o fato de o projeto prever a criação de conselhos municipais; e ressaltou o papel exercido pelo diretor executivo do Consea, Edmar Gadelha, na regionalização do trabalho de combate à fome. Manoel Costa esclareceu, ainda, que a política do Consea não é assistencialista, e que o objetivo é de que não haja necessidade de distribuição de cestas básicas.

Outro palestrante foi o consultor da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para o Projeto FAO/MDS, Arlindo Gomes, que abordou as experiências de construção de políticas de segurança alimentar em outros estados. Ele citou, como parâmetros a serem seguidos, a definição clara de fontes de recursos orçamentários para os programas e ações a serem desenvolvidos, a descentralização e a participação da sociedade e controle popular. Segundo ele, a lei orgânica de segurança alimentar e nutricional a ser elaborada em nível federal deverá conter normas gerais, deixando a cada estado e município a responsabilidade de escolher o modelo mais adequado a cada realidade regional ou local.

Marcelo Milagres, promotor de Justiça da Comarca de Betim, e a vereadora Neila Batista, de Belo Horizonte, também ressaltaram a importância do projeto que está tramitando na Assembléia e o fato de ele ser fruto de um processo democrático e participativo de discussão do assunto com toda a sociedade.

O que diz o PL 2.028/05

O PL 2.028/05 estabelece que a política estadual de segurança alimentar e nutricional sustentável tem o objetivo de promover ações e políticas destinadas a assegurar o direito humano à alimentação adequada e será executada mediante planejamento integrado e intersetorial de ações governamentais e da sociedade. O projeto também estabelece que o plano estadual de segurança alimentar, no âmbito do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), deverá identificar estratégias, ações e metas a serem implementadas segundo cronograma definido; indicar fontes orçamentárias e recursos administrativos; e definir formas de monitoramento.

A proposição também cria um sistema estadual de segurança alimentar, composto de pessoas físicas e jurídicas (públicas e privadas) e pelo Consea, por uma coordenadoria-geral da política estadual e pelos conselhos municipais de segurança alimentar. Prevê, ainda, que, a cada dois anos, uma conferência estadual apresentará diretrizes e prioridades para o plano estadual de segurança alimentar e nutricional sustentável, que será revisado também em conferência. Já ao Consea, órgão permanente e vinculado ao gabinete do governador, caberá aprovar o plano estadual, incentivar parcerias e promover a criação e a manutenção das comissões regionais e dos conselhos municipais, entre outras funções.

Os conselhos municipais de segurança alimentar serão, por sua vez, criados por lei municipal e observarão as diretrizes, planos, programas e ações da política estadual. O projeto também estabelece que a participação no Consea estadual e no municipal, bem como nas comissões regionais, é considerada serviço público relevante não remunerado. A futura lei, segundo o projeto original, entrará em vigor 90 dias após a publicação.

Mesa - Compuseram a mesa dos trabalhos os deputados Rogério Correia (PT) - presidente, Padre João (PT) - coordenador do debate e autor do requerimento que deu origem ao Ciclo de Debates e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) - presidente da Comissão de Constituição e Justiça e relator do PL 2.028/05 na CCJ, além do presidente do Consea MG/SP, dom Mauro Morelli; do secretário de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana e secretário-geral do Consea/MG, Manoel Costa; do secretário de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Crispim Moreira; do consultor do Projeto FAO/MDS da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Arlindo Gomes Miranda; do promotor de Justiça Marcelo Oliveira Milagres, da comarca de Betim; e da vereadora Neila Batista, representante da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

 

 

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